Marca onipresente nas farmácias hospitalares ao redor do mundo e referência em produtos para tratamento renal, a americana Baxter deu a volta por cima no último um ano e meio e está pronta para ir às compras. Após reduzir o endividamento e fortalecer o caixa, hoje a companhia está confortável para dedicar algo entre US$ 6 bilhões e US$ 7,5 bilhões a uma ou mais aquisições em diferentes regiões.

No Brasil, estão na mira clínicas de hemodiálise e diálise peritoneal e a estratégia virou negócio recentemente, com a aquisição da Clínica Núcleo, em Belo Horizonte (MG), por valor não revelado. A compra marca a chegada da Baxter a um novo mercado no país – em outros países, entre os quais Argentina, Colômbia e Espanha, a farmacêutica já tem entre 50 e 60 clínicas próprias – e a ideia é crescer mais.

Em entrevista ao Valor, o executivo-chefe global da farmacêutica, Joe Almeida, diz que há mais dois ou três ativos brasileiros dessa área em fase de prospecção no momento. A Baxter está entre os maiores fornecedores de equipamentos para essas clínicas e, conforme o país e o sistema de reembolso público e privado, faz sentido estar nesse negócio, explica o executivo.

Almeida chegou oficialmente ao comando da farmacêutica em janeiro do ano passado, vindo da Covidien, que foi comprada pela americana Medtronic, e as medidas adotadas em sua gestão parecem ter agradado aos investidores. Naquele momento, as ações da farmacêutica eram negociadas por aproximadamente US$ 36 cada na Nasdaq. Atualmente, valem algo perto de US$ 57, uma alta de quase 60%.

Essa valorização veio na esteira de um processo relativamente rápido de reorganização dos negócios após a cisão da área biofarmacêutica, em operação que deu origem à Baxalta em 2015. Meses depois, a nova empresa foi comprada pela irlandesa Shire por US$ 32 bilhões.

No ano passado, com a venda de ações remanescentes da Baxalta, a farmacêutica levantou recursos suficientes para eliminar dívidas de aproximadamente US$ 3,6 bilhões, recomprar mais de 10 milhões de ações e calibrar o fundo de pensão dos funcionários nos Estados Unidos.

Em custos estruturais, a economia na Baxter chegou a US$ 800 milhões e problemas de qualidade foram contornados, garante Almeida. “Nossos alicerces são qualidade e segurança dos pacientes, melhor empresa para se trabalhar e desempenho líder no setor”, diz.

Como reflexo da reestruturação, a alavancagem financeira caiu a menos de 1 vez, o que colocou a companhia em posição bastante confortável ou para ir às compras ou ampliar o retorno aos acionistas. Ou ambos. Sobre possíveis operações de fusão ou aquisição, ressalta Almeida, o ponto de partida para tomada de decisão é o compromisso com pacientes, funcionários e acionistas.

Além da aposta em crescimento inorgânico, que poderá aumentar a participação da área hospitalar no faturamento, a Baxter quer acelerar o ritmo de lançamentos. Com isso, a participação de novos produtos nas receitas poderá chegar a 10% nos próximos cinco anos, frente a 2% atualmente. Somente em 2016, conta o executivo-chefe, foram lançados mais de 20 produtos.

A farmacêutica tem operação no Brasil há 40 anos e a fábrica de Interlagos, na zona Sul da capital paulista, ainda tem capacidade para absorver a produção de novos itens. Em breve, a unidade passará a produzir localmente uma solução utilizada na hidratação de pacientes em estado crítico desenvolvida nos Estados Unidos, com reformulação no país. Segundo Almeida, a fábrica brasileira é uma das campeãs de produtividade no universo da Baxter.

Brasileiro, o executivo de 54 anos que deixou o país há cerca de três décadas, diz que o mercado farmacêutico local permanece atraente, a despeito da crise econômica, com crescimento anual da operação local de “um dígito alto” ou “dois dígitos baixos”. “É certo que há crise, mas estamos trazendo produtos novos e temos um portfólio bem balanceado entre público e privado”, conta o executivo. Além disso, há bons hospitais no país e bem gerenciados.

Fornecedora de hospitais e clínicas, a Baxter não vende seus produtos diretamente ao consumidor final, em farmácias ou drogarias. No ano passado, teve vendas líquidas de US$ 10,2 bilhões, 62% das quais geradas no segmento hospitalar – desde soluções intravenosas a diferentes dispositivos médicos – e 38%, na área de tratamento renal. Individualmente, os Estados Unidos ainda são o mercado mais importante da farmacêutica, com cerca de 40% das vendas, mas 60% dos negócios já estão em outros países que não a sede.

No fim de abril, junto com a divulgação dos resultados globais do primeiro trimestre, a companhia melhorou as projeções para este ano e informou que espera crescimento de 2% a 3% nas receitas de 2017 em bases constantes de câmbio.

Fonte: http://sindusfarma.org.br/cadastro/index.php/site/ap_imprensas/imprensa/1623

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