Meses após o anúncio, a Natura concluiu nesta quinta-feira (07/09) a aquisição da empresa britânica The Body Shop. Para a brasileira, o negócio, estimado em 1 bilhão de euros, impulsiona a internacionalização da companhia. Para a The Body Shop, antes pertencente à gigante L’Oreal, é a chance de fazer parte de uma organização com a qual compartilha muitos valores.
Em visita ao Brasil em junho deste ano, Jennifer Clare Whitehorn, diretora de marketing e responsabilidade corporativa de mercados franqueados da The Body Shop para Europa, Oriente Médio e África, falou sobre as expectativas da empresa britânica quanto à fusão.
Há 27 anos na empresa, Jennifer trabalhou e viajou ao lado de Anita Roddick, fundadora da The Body Shop — um misto de empresária e ativista dentro da empresa. Anita foi pioneira na campanha contra o teste de cosméticos em animais e fez questão de colocar a sustentabilidade no centro dos negócios. “Ela sempre dizia que se uma coisa não estava certa, era preciso fazer de uma forma diferente. Era determinada e sempre conseguia unir as pessoas”, diz. Confira abaixo a entrevista com Jennifer:
Como a notícia da aquisição pela Natura foi recebida pelos funcionários da The Body Shop?
Quando a notícia foi divulgada, foi uma festa, um carnaval no escritório da Body Shop em Littlehampton [sede mundial da empresa]. Ainda estamos no início e há discussões em andamento, mas eu acho que faz sentido. É uma boa união para os dois lados. Em todo negócio, as circunstâncias mudam, mas as duas empresas combinam. Acho que o futuro será muito bom para ambas. Sinto que é o começo de um ótimo relacionamento. Compartilhamos alguns valores em comum, como a sustentabilidade.
É uma união que faz mais sentido do que com a L’Oreal?
Não necessariamente mais do que com a L’Oreal. Quando a L’Oreal comprou a empresa, também foi muito animador. Os negócios deles são incríveis, eles são muito bem-sucedidos e inteligentes, perfeccionistas, têm um ótimo portfólio. É diferente. Já se passaram 11 anos. É muito tempo. Esse é um novo capítulo na história da Body Shop, eu certamente estou muito animada quanto a isso. Trabalho na empresa há 27 anos, conheço pessoas que trabalham na Body Shop em todo o mundo e que se preocupam com a sustentabilidade do nosso futuro.
O que a Body Shop aprendeu com a L’Oreal?
Acho que aprendemos o valor de ser parte de uma organização muito grande que gerencia muitas marcas em muitos setores. Eles têm uma base de negócios muito maior do que nós em muitos países e operam em mais categorias que nós. Portanto, aprendemos muito com isso. São duas culturas muito diferentes que se uniram. Nossa cultura é muito livre, intuitiva, e a deles é muito mais baseada em dados científicos e pesquisa. Isso foi enriquecedor e resultou em uma união muito forte por um período. Os últimos 11 anos foram ótimos para a Body Shop e ótimos para a L\’Oréal. Eles nos ajudaram a desenvolver tecnicamente nosso negócio. Foi um ótimo caso de amor, mas não é um casamento para sempre.
O que a Body Shop ganha com a Natura, e o que a Natura pode aprender com a Body Shop?
Juntar as forças com essa nova organização vai aumentar nosso alcance na América Latina. A Body Shop opera apenas em três países na região [Brasil, Chile e México]. É um continente importante, acho que vamos aprender muito com isso. Além disso, uma grande parte das vendas da Natura é pela venda direta, que é muito diferente da nossa, que somos essencialmente varejistas. Esses dois lados podem forjar um futuro promissor. E acho que o portfólio deles é muito interessante, fui a algumas lojas deles em São Paulo nos últimos dias e as atendentes foram excelentes. O serviço é incrível, podemos aprender com isso também.
Há quanto tempo você conhece a Natura?
Conheci a Natura em 2002 ou 2003, quando visitei uma loja da marca em Paris que ficava na mesma rua em que estávamos abrindo uma Body Shop. A loja era grande, com dois andares, e muito bonita. Faz bastante tempo. Sempre acompanhei e me interessei por marcas que compartilham os mesmos valores que nós. Ainda que estivesse longe do meu horizonte.
A preocupação dos consumidores quanto à sustentabilidade tem aumentado?
Para os consumidores da Body Shop, sempre foi um assunto importante. Nossa base de clientes ao redor do mundo aumentou. A sustentabilidade é o motivo de eles quererem nossos produtos. As pessoas podem comprar shampoo em qualquer lugar, por US$ 1 ou por US$ 50, mas na Body Shop eles compram um movimento e uma forma de operar. Há cada vez mais informação disponível sobre sustentabilidade. Isso se aprende na escola e o tema está o tempo todo na mídia. Quando eu estava na escola, ninguém falava disso. Mas, agora, é uma forma de operar.
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