A coluna mensal ‘Conversa de Mercado’ tem como objetivo trazer os mais recentes investimentos e movimentações do setor, aumentando o conhecimento sobre os concorrentes, especulações de mercado e ações das principais companhias.
Este mês, apresentamos Sérgio Sampaio, diretor de Operações do Grupo Boticário. O Grupo é formado pelas marcas O Boticário, Eudora, quem disse, Berenice?, e The Beauty Box. Com quase quatro mil pontos de venda pelo Brasil, em 1750 cidades, e alcance em oito países, é considerada a maior rede de franquias de beleza do mundo. A primeira fábrica da empresa fica em São José dos Pinhais (PR). Neste mesmo local, está um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento com tecnologia de ponta. O Grupo Boticário ainda possui dois centros de distribuição, em Registro (SP) e em São Gonçalo dos Campos (BA), e escritórios em São Paulo, Curitiba, Colômbia e em Portugal.
Sérgio Sampaio é diretor de Operações do Grupo Boticário. Está à frente de uma área que vai desde a pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos até a entrega dos itens nas lojas do Grupo Boticário, que incluem O Boticário, Eudora, quem disse, Berenice?, e The Beauty Box. Há quase três anos no Grupo Boticário, o executivo atuou anteriormente em posições de liderança grandes empresas nacionais e multinacionais, como Ferrous Resources do Brasil, Locamerica, Namisa e Brenco. Ele é graduado em Administração pela Universidade de Brasília e possui MBA em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e MBA em Varejo e Logística pela COPPEAD – Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro
1. Como está o mercado cosmético? Como foi o ano de 2017 para o Grupo Boticário?
O mercado cosmético como um todo também foi impactado pela crise dos últimos anos. Segundo a ABIHPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos), em 2017, depois de dois anos consecutivos de queda, o setor deve ter um crescimento entre 1,5% e 2,5%. Para o Grupo Boticário, pela estratégia executada nos últimos anos, vislumbramos oportunidades de crescimento, mesmo em períodos mais difíceis da economia. Tivemos um 2017 produtivo para a companhia e a nossa projeção é de crescermos o dobro do previsto pelo mercado como um todo.
2. Quais foram as dificuldades e os acertos em 2017?
A recessão econômica e a crise política são fatores que afetam o consumo e impactam as empresas. O mercado de higiene pessoal também está inserido neste contexto bastante desafiador. Podemos destacar o aumento da carga tributária e o processo regulatório, que deveriam considerar os nossos produtos como essenciais, e não supérfluos, pois não podemos chamar de supérfluo um setor que está inserido em 90% dos lares brasileiros. Essa é uma questão que impõe dificuldades para todos os players desse setor.
Tivemos muitos acertos em 2017 e demos continuidade à nossa estratégia omnichannel, com o consumidor no centro de todo o nosso negócio. Na área de operações, estamos implantando todo conceito de indústria 4.0 com automação, inteligência cognitiva, etc. Seguimos investindo no desenvolvimento de nossas marcas, canais e experiências com base nessas estratégias. O mercado de perfumaria e cosméticos é bastante dinâmico e sempre apresenta oportunidades de desenvolvimento, tanto em expansão, como em inovação de portfólio.
3. O que vocês esperam do ano de 2018? Crescimento, de quanto (%)?
Para este ano, a perspectiva é manter o ritmo de crescimento, mas ainda não temos esse percentual definido. Estamos analisando todos os cenários com muita cautela, pois o resultado das eleições ainda é uma variável que requer cuidado, pois pode impactar as projeções. A Abihpec divulgou recentemente que o mercado de beleza como um todo deve registrar um crescimento nominal de 7,5% em 2018 sobre este ano, impulsionado pela recuperação econômica.
4. Qual das marcas teve melhor desempenho? Como o grupo enxerga este dado?
Por uma questão estratégica, não abrimos o desempenho de cada marca. O Grupo Boticário, que reúne cinco unidades de negócios – O Boticário, Eudora, quem disse, Berenice?, The Beauty Box e Multi B – deve crescer o dobro do projetado pelo mercado de higiene pessoal e cosméticos, que é de cerca de 3%.
5. Como o Grupo Boticário está se preparando para o mercado crescente de cosméticos masculinos?
De acordo com a Euromonitor International, o mercado brasileiro de cuidados pessoais para homens é um segmento em expansão. Entre 2012 e 2016, o setor de beleza masculina no Brasil dobrou e deve continuar crescendo 7,1% ao ano até 2019, quando deve se tornar o maior mercado do mundo na categoria, movimentando US$ 6,7 bilhões em vendas. Os Estados Unidos, atual maior mercado no segmento de beleza masculina, deverá movimentar US$ 6,4 bilhões em vendas em 2019, caindo para a segunda posição. Os homens estão mais preocupados com a aparência e sem preconceitos cuidando cada vez mais de si mesmo e isso, claro, tem um impacto no negócio. Eles investem em produtos de beleza e valorizam esse cuidado. Por isso, o Grupo Boticário se preocupa com todos os seus públicos e desenvolve produtos com tecnologias cada vez mais avançadas. Como em 2017, com o perfume Malbec Gold de O Boticário, que mantém o DNA consagrado de Malbec (perfume mais vendido do Brasil), mas que conta com um toque amadeirado e quente, somado à exclusiva tecnologia Goldsense, que proporciona aumento da autoestima e do poder de atração no homem.
6. E as demandas de produtos orgânicos/naturais?
No Grupo Boticario, não estamos focados a trabalhar na área especifica de produtos orgânicos e veganos. Utilizamos a essência de vários desses produtos para composição das nossas fragrâncias, por exemplo. Em relação a este tema, gostaria de destacar também que seguimos rigorosamente os padrões de qualidade para desenvolvimento de produtos e entendemos que a sustentabilidade deve permear todo o nosso processo. Não realizamos teste em animais e não adquirimos ingredientes e produtos de fornecedores que tenham testado em animais ou de origem duvidosa que ameacem o meio ambiente.
7. Quais são os produtos que vocês pretendem lançar em 2018? (Pode falar das 4 marcas)
Anualmente, desenvolvemos 3 mil produtos e lançamos cerca de 1500 em nosso Centro de Pesquisa e Desenvolvimento. Estamos em constante prospecção de novos conceitos e tecnologias. No mundo da Perfumaria, seguiremos com novidades que exploram emoções e sentidos, convidando o consumidor a novas experiências, aliando nossa tradição ao que há de mais moderno em tecnologia.
Para a categoria de Maquiagem, investiremos em lançamentos com novas tecnologias para cores e efeitos diferenciados em produtos. Também teremos novidades com foco em inovação através de texturas, tema que tem grande atenção do nosso time de P&D. Estamos sempre atentos em oferecer produtos que tenham aderência aos anseios dos nossos consumidores, que são o centro do nosso negócio. Além das novidades em produtos, buscamos oferecer soluções para o futuro da maquiagem, que envolvem temas como experimentação, customização, novos formatos e formas de aplicação, novos modelos de uso, realidade aumentada, espelhos virtuais, aplicativos e softwares, entre outros.
8. Quais são as novas tecnologias que o Grupo está investindo nos produtos? Por exemplo: Nanotecnologia para melhor absorção do produto na pele?
O Grupo Boticário investe pesado na pesquisa de métodos alternativos, que são testes para entregar produtos seguros e eficazes ao consumidor, sem o uso de testes em animais. Fazemos parte de um grupo de discussão internacional para fomentar essas tecnologias mundialmente. Um exemplo é a pele 3D, tecnologia inovadora desenvolvida de forma pioneira no Brasil, que reproduz a pele humana em laboratório para a realização de testes de produtos cosméticos. Além disso, trabalhamos com organs on a chip, tecnologia que simula um órgão humano em um chip. O objetivo é sanar um dos maiores problemas da indústria cosmética: comunicar a pele com o sistema imune do corpo humanos nos testes. Ou seja, identificar possíveis reações alérgicas causadas por produtos cosméticos a partir da pele.
Outro pilar de investimento em pesquisa é a sustentabilidade em produtos, que busca sempre embalagens e formulações que causem menor impacto no meio ambiente. Um exemplo foi o lançamento das novas embalagens adotando Plástico Verde feito à base de cana de açúcar. A nova tecnologia evitará a emissão de cerca de 3 mil toneladas de CO² por ano, colaborando para a redução da emissão dos gases causadores do efeito estufa.
Também investimos em novas tecnologias em todas as nossas categorias de produtos. Em Perfumaria e Desodorantes, estamos em constante prospecção de novos conceitos e tecnologias que tragam aos nossos produtos pioneirismo tanto no Brasil, como no exterior. Um exemplo foi a tecnologia GoldSense, lançada no Malbec Gold, que proporciona aumento da autoestima e do poder de atração no homem. Em desodorantes, inovamos por meio da pesquisa em ativos e moléculas para encobrimento de mau odor e potencialização da ação antitranspirante.
Na categoria de maquiagem, buscamos tecnologias para entregar os melhores resultados em cor, efeito, cobertura e pigmentação com soluções tecnológicas em matérias-primas (pigmentos, corantes, pérola, glitter) e processos (revestimentos, sistemas de entrega, encapsulação). A maquiagem também fomenta muita inovação para entrega de texturas diferenciadas nos produtos (mousse, bouncy, jelly, foam) e efeitos mágicos, lúdicos e transformadores (liquid-to-powder, powder-to-cream, quick-break). Exemplo disso foram os lançamentos das bases líquidas Make B Air Power e Base líquida Super Fluida de quem disse, Berenice?.
Também sabemos que as consumidoras cada vez mais buscam maquiagens com longa duração, que facilitam a rotina diária de beleza. Por esse ser um dos atributos mais desejados, investimos em uma linha de pesquisa que busca tecnologias em resinas, formadores de filme e agentes plastificantes, que associam o conforto no uso à resistência a várias ações do dia a dia, como transferência de base para celular, batom para o copo, resistência ao beijo, ao suor, à água, etc.
9. Quais foram os últimos investimentos da empresa? Abriram novas fábricas/escritórios no Brasil? Possuem novos investimentos a vista? Se sim, quais e para quando?
Em 2017, investimos R$300 milhões em operações, lançamos 1438 produtos e 2,5% do faturamento foi designado para inovação. Tivemos 127 novos pontos de venda abertos, sendo 61 lojas novas, mais do que o dobro planejado.
Inauguramos, no segundo semestre de 2017, o Botilabs, espaço coworking instalado na nossa sede em São José dos Pinhais-PR, que conta com um ambiente moderno e disruptivo, que permite a integração de profissionais de diversas áreas, entre colaboradores do Grupo, startups e empresas parceiras, que pensem inovação para dentro e para fora das quatro paredes da companhia.
Em O Boticário, foi aberto um novo modelo de loja (ânfora) que expressa sua grande aposta na evolução do varejo físico – a oferta de experiências para o consumidor. Inspirada em uma botica, como aquela que deu origem à marca há 40 anos, agora com códigos contemporâneos, a nova loja do BarraShopping (Rio de Janeiro) será a primeira do país neste modelo. A ideia da marca é que seu principal canal de vendas também conte para o consumidor as histórias mais emblemáticas do Boticário e revele a alquimia por trás do desenvolvimento dos seus produtos.
A partir deste ano, também faremos expansão da nossa fábrica em Camaçari, na Bahia. O investimento de R$ 100 milhões será usado para dobrar a produção de cremes e contratar mais 70 funcionários.
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