A indústria farmacêutica brasileira está elaborando o orçamento de 2015 praticamente no escuro. Até agora, o governo não informou qual será o fator de produtividade considerado no cálculo do reajuste oficial dos preços de medicamentos, que funciona como uma espécie de “desconto” na fórmula da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).

Ao mesmo tempo, de acordo com o presidente do Sindicato de Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), Nelson Mussolini, os laboratórios já se prepararam para um percentual oficial inferior ao aumento dos custos da indústria, o que vem reduzido as margens das farmacêuticas há alguns anos.

Levantamento da entidade, que representa nacionalmente o setor, mostra que, enquanto a média ponderada de reajuste dos medicamentos ficou em 35,76% de 2006 a 2013, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) avançou 49,13% e os salários subiram 67,77%.

“Quanto mais produtiva a indústria, menor é o reajuste e isso tem levado à redução da rentabilidade. As multinacionais, por exemplo, já começam a ter de dar mais explicações para a matriz para conseguir recursos para investimento”, afirma o executivo. Em 2014, a média ponderada dos reajustes autorizados, que foram conhecidos em março, ficou em 3,52%, com teto de 5,5%. Pelos cálculos do Sindusfarma, porém, os custos de produção avançaram entre 13% e 18%.

Conforme Mussolini, tradicionalmente, o fator de produtividade é divulgado pelo governo entre o fim de setembro e o encerramento de outubro, o que permitia aos laboratórios preparar o orçamento do próximo exercício em bases mais realistas. No ano passado, esse índice também não foi divulgado com antecedência, o que levou o setor a replicar o reajuste autorizado anterior na elaboração do orçamento de 2014 – uma média ponderada de 4,59%, acima do que acabou sendo definido pelo governo.

De acordo com Mussolini, no ano que vem, a rentabilidade da indústria deve sofrer uma pressão adicional, decorrente da redução do ritmo de crescimento das vendas de remédios no país. Enquanto em 2014 a previsão é expansão de 13% a 14%, para R$ 63 bilhões, para o próximo ano a expectativa é de alta de 11% ou 12%. “Vai ser um ano de maior concorrência. Os laboratórios serão obrigados a dar mais descontos para manter o nível de produção e isso vai afetar a rentabilidade”, avalia.

Esse ritmo menor de vendas será reflexo da fraqueza da economia doméstica, embora o setor farmacêutico seja um dos últimos a sentir os efeitos em momentos de crise, por se tratar de produtos de primeira necessidade. “Enquanto houver emprego e as classes mais baixas tiverem alguma condição de consumo, as vendas vão bem”, explica Mussolini.

Mas o próprio setor já começa a rever planos de contratação em 2015, diante do cenário desafiador. “O câmbio a R$ 2,60 representa pressão, porque 93% do princípio ativo é importado. A energia está mais cara e isso afeta alumínio e plástico, usados em embalagens. E a mão de obra sobe mais que o reajuste oficial”, enumera o presidente do Sindusfarma.

Fonte: http://sindusfarma.org.br/cadastro/index.php/site/ap_imprensas/imprensa/512

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