A regulamentação de produtos à base de maconha, aprovada em dezembro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), acelerou o ritmo dos negócios desse nicho no setor farmacêutico. A decisão libera a venda de itens feitos com cannabis para uso medicinal, mediante prescrição médica e fiscalização do órgão federal. O cultivo da planta continua proibido.

Com a nova regra, startups de produção e venda de derivados da cannabis desengavetam projetos e laboratórios reforçam linhas de produção. O paranense Prati-Donaduzzi já entregou nas farmácias o primeiro canabidiol (CBD) brasileiro autorizado pela agência, enquanto a aceleradora de empreendimentos do ramo, a paulistana The Green Hub, abre inscrições para mais integrantes em agosto.

Um estudo da The Green Hub e da consultoria New Frontier indica que 3,4 milhões de pacientes no Brasil podem ser beneficiados com a aplicação medicinal do CBD e de outros derivados da cannabis, nos próximos três anos. Estima-se um potencial de negócios de R$ 4,7 bilhões no período, incluindo itens cosméticos e alimentos. Mais de 50 países já aprovaram a utilização de substâncias obtidas com a planta, e a eceita pode chegar a US$ 166 bilhões em 2025.

Produtos com CBD são indicados para o tratamento da epilepsia, mal de Parkinson e  Alzheimer, além de agirem como analgésicos em doentes oncológicos. Levantamento da Anvisa mostra que o número de brasileiros cadastrados para importar o CBD passou de 471, em 2016, para 2,7 mil, até setembro de 2019, alta de 489%.

O empresário Gustavo de Lima Palhares já investiu R$ 8 milhões na Ease Labs, de Belo Horizonte (MG). A companhia trabalha com pesquisa, produção e venda de produtos fitoterápicos naturais de cannabis, obtidos a partir de parcerias internacionais. Um laboratório deve iniciar a fabricação local este ano.

Hoje, a marca vende produtos em cápsulas e gotas, indicados para tratamentos neurológicos, psiquiátricos, dores e inflamações. São encomendados no site da empresa, com prescrição médica e mediante autorização de importação da Anvisa. Custam de US$ 85 a US$ 295. “A produção em solo brasileiro vai garantir um preço acessível”, garante Palhares, que pretende diversificar o portfólio com filtros solares e colírios.

A Ease Labs recebeu aportes de investidores de cerca de US$ 4 milhões. A última rodada, no início do mês, foi liderada pela multinacional americana Alvarez & Marsal, especializada em reestruturação de empresas. Até a metade de 2021, a intenção é captar mais R$ 30 milhões, para a expansão da rede comercial, lançamento de produtos e compra de insumos.

Marcel Grecco, fundador e CEO da The Green Hub, diz que a proposta é atuar como um hub para pesquisa e conexão entre empreendedores, academia, governo e investidores. Tem quatro companhias no portfólio, como o Estúdio Jamba, de conteúdos educativos. Uma nova startup deve entrar no time para desenvolver estudos clínicos sobre o uso de psicodélicos no tratamento de distúrbios mentais, afirma. Até 2022, a meta é abrigar 12 empresas. Em agosto, abre nova chamada de inscrições, com apoio da divisão de life science da multinacional alemã Merck.

“A parceria inclui publicação de estudos de avaliação da cannabis”, diz Fábio Demetrio, head de soluções de pesquisa da Merck Brasil.

Já a Prati-Donaduzzi, que faturou R$ 1,1 bilhão em 2019, apresentou em maio o Canabidiol Prati-Donaduzzi (30 ml, R$ 2,1 mil em média), considerado o primeiro CBD brasileiro. “Projetamos o lançamento de mais 22 medicamentos”, diz o diretor-presidente Eder Fernando Maffissoni.

Fonte: https://valor.globo.com/publicacoes/suplementos/noticia/2020/07/31/derivados-de-cannabis-tem-alto-potencial.ghtml

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