Maior fornecedora de frascos de vidro para os setores farmacêutico e de cosméticos e perfumaria no Brasil, a Wheaton uniu estratégia industrial a ambições de descarbonização e acabou alcançando uma marca global inédita. A fabricante de embalagens está a poucas semanas de se tornar a primeira indústria vidreira no mundo a usar biometano em seus fornos, em substituição a uma parte do gás natural que é intensivamente consumido no processo de fabricação do vidro.

O insumo, batizado “GasBio”, será fornecido pela ZEG, braço de energia renovável do Grupo Capitale, e produzido a partir de resíduos urbanos em um aterro sanitário no distrito de Sapopemba, na capital paulista.

Inicialmente, diz o diretor comercial e de Marketing da Wheaton, Renato Massara Júnior, 10% do gás natural usado no processo produtivo – como combustível, para alimentar as chamas dos fornos de vidro – em São Bernardo do Campo (SP) será substituído pelo biometano. O contrato, o primeiro firmado pela ZEG com um cliente industrial, garante o fornecimento de até 10,5 mil metros cúbicos diários do insumo renovável à indústria vidreira, com custo similar ao do gás natural distribuído em São Paulo.

Mais adiante, conta o executivo, a ideia é que o biometano substitua até 30% do gás natural usado no processo produtivo da Wheaton, a depender da disponibilidade e da infraestrutura de transporte. O insumo chegará à fábrica em caminhões, que percorrerão uma distância inferior a 40 quilômetros. Em Sapopemba, a ZEG vai produzir 30 mil metros cúbicos por dia de biometano. O projeto está em fase final de homologação na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), com início de operação comercial previsto para o fim deste mês e o início de agosto.

O preço do biometano contratado pela Wheaton não é revelado, mas o presidente da ZEG, Daniel Rossi, diz que hoje o insumo chega à indústria com custo competitivo em relação ao gás natural. Para que o combustível renovável possa ser injetado nos fornos, a fabricante de frascos de vidros teve de adaptar os queimadores de gás. No total, os investimentos somaram R$ 2 milhões, um desembolso pouco significativo relativamente a um novo forno, por exemplo, que demandaria US$ 130 milhões.

A Wheaton, que desde os anos 90 é uma empresa 100% nacional, opera quatro fornos contínuos com capacidade de produção de 1 bilhão de frascos por ano. Já há alguns anos, vinha estudando combustíveis e fontes de energia alternativas, mas os planos, em geral, esbarraram nos custos, conta Massara. Recentemente, o gás natural mais caro acabou tornando viável economicamente o uso de substitutos, como o biometano.

O Grupo Capitale, por sua vez, já era fornecedor de energia à Wheaton e apresentou o projeto de biometano da ZEG. As conversas tiveram início há cerca de um ano e a empresa tornou-se a primeira, na área industrial, a efetivamente abraçar a ideia. Mais do que o tamanho da conta, diz Massara, a crescente demanda de clientes como Natura, Grupo Boticário e L’Oréal por embalagens sustentáveis e ecológicas justifica investimentos em uma matriz energética cada vez mais limpa.

“Especialmente em cosméticos, inovar é fundamental e esses clientes já vinham demandando esse tipo de inovação”, conta. Em volume, as farmacêuticas são as grandes clientes da Wheaton. Em faturamento, que chegou a R$ 1,2 bilhão em 2020, a indústria de cosméticos representa 70% do total.

Atenta a essa tendência e em linha com os planos de ampliar as exportações de frascos para Estados Unidos e Europa, a Wheaton também tem avaliado ampliar a fatia das energias renováveis em sua matriz. No próximo ano, poderá tirar do papel os planos de construir uma fazenda de energia solar, mesmo que isso passe por aceitar retorno em prazos mais longos do que o inicialmente almejado. “Estamos avaliando tudo, inclusive o uso do telhado da fábrica, uma área de 70 mil metros quadrados, para gerar energia solar”, diz.

Conforme o executivo, a Weathon monitora os desdobramentos da crise hídrica, mas não crê em desabastecimento de energia. De qualquer maneira, garantiu a contratação de energia até 2023 e seus fornos do tipo “dual” poderiam usar óleo combustível no lugar do gás. “A questão será custo”, aponta.

A ZEG também tem planos ambiciosos. Além sociedade de propósito específico (SPE) constituída com outros investidores para a operação em Sapopemba, participa de projeto similar em São José dos Campos (SP), com início de operação previsto para 2021. Com mais R$ 400 milhões em projetos no pipeline, poderá chegar a 1 milhão de metros cúbicos diários entre 2024 e 2025. “Temos um problema bom: a demanda dos clientes é maior do que o combustível disponível para entrega”, diz Rossi.

O apelo ambiental tem sido decisivo na migração para insumos renováveis. Na Weathon, informa a empresa, a substituição do gás natural reduzirá emissões de CO2 em 7 mil toneladas em um ano.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/07/06/wheaton-vai-usar-biometano-para-produzir-vidro.ghtml

 

Uma Resposta para “Wheaton vai usar biometano para produzir vidro”

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