A Natura entrou numa semana decisiva para o futuro da Avon — e do que vai ser o grupo como um todo.
O leilão que aconteceria no dia 19/11 foi cancelado, já que (como amplamente esperado) a proposta “stalking horse” da Natura&Co foi a única qualificada e levou os ativos da Avon Products, holding da marca Avon para as operações internacionais.
Mas há, ainda, um próximo passo. Nesta quarta-feira, 20, uma audiência no Tribunal de Falências de Delaware, responsável pelo processo de Chapter 11, vai julgar a moção de um comitê de credores que quer impugnar o processo da recuperação judicial.
Criada 1886, a empresa americana tinha dívidas e passivos jurídicos, ligados a acusações de problemas de saúde pelo uso de seu talco, anteriores à aquisição pela Natura.
juiz pode rejeitar a moção e o processo segue seu curso, com data final entre 3 e 4 de dezembro. Ele também pode adiar a data final do processo, para dar mais tempo para as partes negociarem.
Ou, ainda, aceitar a moção e rejeitar o processo. Essa última opção, porém é considerada improvável, uma vez que os argumentos de agora são muito similares aos já apresentados em audiência de setembro, sem que o Chapter 11 fosse anulado.
Como a API entrou com o Chapter 11, a Natura &Co perdeu o controle sobre ela e precisou fazer um oferta de US$ 125 milhões para recomprar os ativos operacionais. Para a aquisição, a Natura &Co, maior credora da API, vai usar seus créditos existentes contra a companhia como contraprestação.
Na demonstração de resultados do terceiro trimestre, a Natura&Co reportou o valor no passivo, o que elevou a dívida líquida em cerca de R$ 1 bilhão ante o segundo trimestre, para R$ 3,7 bilhões. O fluxo de caixa positivo gerado pelas operações, durante o trimestre, foi neutralizado pela saída de caixa para pagamento de consultoria, honorários advocatícios e financiamento da Avon, incluindo o debtor-in-possession (DIP), no valor de US$ 43 milhões.
“A alavanca de melhora da dívida líquida tem a ver com o fluxo de caixa operacional da América Latina, mas o avanço do processo do Chapter 11 também vai ajudar a melhorar”, destacou o CFO, Guilherme Castellan após a publicação do balanço do terceiro trimestre.
Para os analistas do Bradesco BBI, a vitória da Natura&Co no leilão pelos ativos da API pode não ser o plano de voo ideal desejado por investidores mais otimistas, que esperavam que uma proposta externa saísse vencedora, mas a agilidade do processo é uma boa notícia para a fabricante de produtos de beleza.
Além disso, estabelece um precedente positivo para a resolução do caso de “Section 363 sale” potencialmente este ano. A Seção 363 pertence ao Código de Falências que permite que uma empresa venda seus ativos fora do curso normal dos negócios durante os procedimentos de falência.
“Mantemos nossa visão positiva sobre o valor que a Natura&Co deve gerar com a integração da Natura e Avon na região da América Latina nos próximos anos. Também acreditamos que o desenrolar do processo de Chapter 11 da API continua inclinado para um cenário mais favorável à Natura &Co, limitando assim as responsabilidades relacionadas à API”, escreveram os analistas.
No entanto, o avanço para a aquisição dos ativos operacionais da API e a conclusão do Chapter 11 ainda acende o sinal amarelo para os investidores sobre a queima de caixa futura para vender alguns desses ativos no futuro. A companhia tem sido vocal de que o foco é manter as operações na América Latina, onde tem conseguido recuperar margens.
“A combinação que fizemos do negócio está trazendo muitos benefícios, o mais visível é o de rentabilidade. Nos países hispânicos o recuo das operações da Avon está diminuindo, esperamos uma progressiva recuperação”, diz o CEO da Natura &Co Latam, João Paulo Ferreira.
No terceiro trimestre, a receita da Natura &Co Latam cresceu 17%, para R$ 5,97 bilhões. A margem bruta aumentou 3,4 pontos percentuais, para 67,3%, puxado especialmente pela marca Natura.
As ações da Natura subiram 3,25% nesta terça-feira, para R$ 14,29.
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