No fim do ano passado, o Grupo Boticário deu o primeiro passo para identificar comportamentos da mente humana diante de experiências sensoriais relacionadas à beleza. Esses experimentos já integram a rotina do Neurolab, laboratório de neurociências especializado no setor de beleza, instalado no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento do grupo, em São José dos Pinhais (PR).
A equipe de neurocientistas do novo laboratório do grupo pesquisa fórmulas que despertam memórias afetivas e busca entender desejos e necessidades de clientes para desencadear emoções associadas a itens de beleza e autocuidado. No Neurolab são desenvolvidos experimentos que resultem em produtos mais personalizados, com formulações assertivas, embalados em uma abordagem holística. Na prática, isso se materializa na formulação de produtos que carregam notas de diversidade genética, tendências culturais e demandas individuais.
Em outro laboratório do CPD do grupo, pesquisadores envolvidos no projeto Pele 3D, criado há duas décadas e que se tornou um marco na companhia para eliminar os testes em animais, comemoraram outra inovação: após três anos de pesquisa, o time apresentou no ano passado o projeto Pele 3D com Folículo Capilar, que permite aprimorar os testes de segurança em cosméticos, além de contribuir para tratamentos regenerativos em casos como queimadura. O projeto baseou a tese de doutorado da cientista Carolina Motter, que integra o time da diretoria de qualidade, excelência e cuidado do Grupo Boticário, no Rensselaer Polytechnic Institute (Troy, NY). Motter e outros três colegas assinaram o artigo “Incorporation of hair follicles in 3D bioprinted models of human skin”, publicado na revista científica “Science Advances”.
Apesar das grandes conquistas elaboradas em bancadas com experimentos científicos, a inovação no dia a dia do Grupo Boticário ultrapassa as salas de laboratórios. É genuinamente transversal, na avaliação de Fernando Modé, CEO do Grupo Boticário. “Acreditamos na capacidade de as pessoas fazerem o diferente. Descentralizamos muito a decisão e damos autonomia às pessoas, seguindo a lógica de premiar o coletivo, reconhecendo o crescimento do indivíduo. Isso elimina barreiras e favorece a cooperação, que é imprescindível para desenvolver novas soluções a partir de pontos de vista diferentes”, afirma Modé.
Ao ser questionado sobre como a companhia estimula a inovação, a conversa com Modé passeia pela Grécia Antiga. “Como gosto de grandes pensadores, vou trazer, para essa conversa, Aristóteles. O filósofo dizia que a virtude não é ensinada, é praticada. Então, com todo meu atrevimento, vou fazer uma espécie de plágio de Aristóteles: a inovação é uma virtude dentro de uma empresa, mas ela não é ensinada, é praticada”, diz Modé. Avesso ao conceito cartesiano de que a inovação está relacionada somente a tecnologias disruptivas e invenções que se desdobram em patentes, Modé prefere enxergar o ato de inovar como valor percebido pelo consumidor. “A inovação precisa ter utilidade para o ser humano”, afirma.
A prática da inovação faz parte do Grupo Boticário desde sua criação. Não por acaso, Miguel Krigsner criou O Boticário, sua farmácia de manipulação, em março de 1977, no centro da cidade de Curitiba, no momento em que a manipulação artesanal de medicamentos começava a ser redescoberta. A percepção de que os produtos dermatológicos deveriam ser agradáveis e personalizados levou o inquieto Krigsner a testar a elaboração de cremes em uma batedeira de bolo. Desde esse olhar para a função da batedeira, a inovação, no grupo, resulta da combinação de essências, que também são sinônimo de valores. “Procuramos praticar mais do que ensinar, então uma das nossas essências é sermos inquietos, buscando o aperfeiçoamento, o aprendizado contínuo. Queremos entender outras formas de fazer as coisas para ver o brilho nos olhos dos nossos clientes”, ressalta Modé.
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