1 – Em linhas gerais como é que se transformam vidros pós-consumo em novos frascos, com qualidade suficiente para serem utilizados em perfumaria?

É necessário falarmos um pouco sobre o contexto em que esse processo acontece. Quando pensamos em usar vidro reciclado para perfumaria, já acontece uma mudança importante de paradigma no mercado brasileiro, que vem em 2 vetores. Primeiro a dificuldade de se fazer a coleta seletiva. E o segundo é a expectativa do consumidor com o que lhe seja entregue em termos de vidro reciclado.

O vidro extra branco, de transparência maior é o mais utilizado para perfumaria. Considerando este fato e estes dois vetores, precisamos achar o ponto adequado para o consumidor além de conseguirmos também produzir quantidade suficiente de vidro pós-consumo para atender ao mercado.

Quem vai definir a necessidade do consumidor vai ser a Natura, uma vez que esse projeto nasceu em cima de uma proposta da empresa, tanto por sua vontade de fazê-lo, quanto por seus valores e que são nossos também.

A cor desse vidro não é a cor de um vidro o tradicional. Então temos nuances, pelo fato de ser muito difícil controlar a reação que o vidro pós-consumo tem no forno.


2 – Como e porque a SGD teve condições de atender a esta demanda da empresa?

A SGD lançou esse tipo de vidro no mercado na nossa matriz na França, com o conceito de infinity glass entre 2008 e 2009. A Natura já conhecia esse trabalho.

Aqui no Brasil estamos trabalhando nesse projeto desde 2006 com a empresa, mas ele só aconteceu agora em 2015. São projetos de características diferentes. A principal delas está na grande dificuldade de se fazer a captação de vidro pós-consumo no país. Em como é que esse vidro volta para a reciclagem.

Na Europa o vidro é coletado a partir de suas cores. Na França ele é mais limpo de cor, pela própria estrutura de reciclagem que o país dispõe.

Uma coisa é colocar essa realidade dentro do Brasil. Para se fazer isso tem que haver um movimento de toda a cadeia produtiva, o governo e a prefeitura se envolverem para que haja inclusive remuneração justa e o não trabalho de crianças, por exemplo.


3 – A SGD tem dois fornos, esse movimento desencadeado pelos vidros reciclados não seria mais facilmente atendido com um forno especial exclusivo?

É a mesma coisa que você querer fazer um prato de culinária. A pergunta é: quantas pessoas vão comer e, há vegetarianos? Gente que não come cebola?

Na questão do vidro reciclado, teremos que imaginar que o consumidor aceite a proposta que apresentamos e o detentor da marca também. Conseguimos um produto em que as cores são quase imperceptíveis, mas isso pode não ser uma realidade o tempo todo.

De resto, todas as características são as mesmas. Um vidro se transforma em outro vidro. O frasco atende a todos os requisitos. O único ponto a ser levantado é o da cor. Os lotes podem inclusive ter cores diferentes. É muito difícil garantir que o que o consumidor vai receber tenha as mesmas características e não é todo mundo que aceita um novo padrão a partir da atual referência em nome do conceito de sustentabilidade. O custo de fazer com que a situação o novo aconteça num outro contexto é de todos.

Estamos começando algo novo como se fossemos um bebe começando a andar. Não dispomos nem de volume de caco, nem de um processo de reciclagem mais eficiente e nem sabemos se há clientes dispostos a recebê-lo. Pode ser que em algum momento isso possa acontecer.


4- A tecnologia não pode superar essa questão da cor?

Isso está em estudos. Não podemos dizer se isso vai acontecer, nem quando.

 

5 – A empresa precisou de silos especiais com vidros de cores diferentes para armazenar o vidro reciclado? E como a SGD recebe esse material? Tem fornecedores específicos com quem trabalha?

Sim. Não dá para misturar os vidros pós-consumo, quando estamos fazendo outro tipo de produto. Tivemos que organizar como se fosse uma campanha, com fornadas especiais para este tipo de produto.

 

6 – Essa é uma experiência inusitada. Essa idéia foi bem recebida pela matriz? Uma idéia que pode ser multiplicada pela empresa?

Na prática começou lá e é claro que esta iniciativa no Brasil , pela Natura, é benvinda. Na Europa o mercado, no ponto de vista de cosméticos em geral é maior. Então há mais vidro pós-consumo e o tipo de rigor para a reciclagem na Europa acaba facilitando muito o trabalho da vidraria.

No processo desse vidro voltar para a reciclagem, estão envolvidos todos os elos da cadeia, a prefeitura com a coleta, recipientes específicos… Aqui no Brasil é o início de um grande movimento que pode tomar corpo nos próximos anos, até por que a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS já está em processo de regulamentação no país.

 

7 – Há alguma parte desse processo que requeira uma especificidade industrial?

O forno, que é onde se requer todo o controle e acompanhamento da fornalha. Colocamos na verdade uma variável adicional que separe as matérias primas que são colocadas.

Requer inclusive maior rigor no acompanhamento da fornalha e também maior número de mão de obra no acompanhamento do processo.

Estamos começando com todo o nível de cuidado que esse processo requer e que nos permita oferecer um produto adequado e compatível com o que o cliente espera.

 

8 – Este processo que a Natura está introduzindo, de incorporação de vidro reciclado nas embalagens de perfumes, desencadearia então um movimento sem retorno para a indústria?

Isso é mais crença que realidade. Naturalmente vai depender do nível de aceitação que esse tipo de produto tiver do mercado.

 

Fonte: http://www.cosmeticosbr.com.br/conteudo/entrevistas/entrevista.asp?id=3745&utm_source=newsletter&utm_medium=e-mail&utm_term=E-news&utm_content=contagem&utm_campaign=controleclique

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