Reduzir as emissões de dióxido de carbono é o principal desafio da humanidade no momento. Dados da NASA e da NOAA (a Secretaria de Assuntos Oceânicos e Atmosféricos dos EUA) apontam que os níveis de CO2 na atmosfera do planeta vêm crescendo desde 1850. O prazo para limitar o aquecimento da Terra a até 1,5ºC e evitar um desastre climático, uma das metas previstas no Acordo de Paris, está quase se esgotando. Para isso, as emissões globais de gases do efeito estufa (cerca de 76% deles são CO2) devem atingir um pico até 2025 e depois cair 43% antes de 2030.
Capaz de manter a qualidade e ser reciclado indefinidamente, o vidro pode ter um papel-chave para que a indústria consiga zerar as emissões de carbono no futuro. Com as tecnologias existentes, a manufatura e o transporte do vidro podem ser totalmente sustentáveis.
O vidro tem as maiores emissões de carbono de todos os materiais usados para embalagens – 416 kg de CO2 por 1.000 litros de produto, quase o dobro do segundo colocado, o alumínio. Isso ocorre principalmente por conta dos combustíveis utilizados para aquecer as fornalhas das plantas de produção, responsáveis por mais de 80% das emissões. A produção de embalagens de vidro que usa gás natural é mais eficiente (0,46 t de CO2/1 t de vidro) do que a que usa carvão (0,69 t de CO2/1 t de vidro).
Mas para garantir um futuro mais sustentável, há muitas novidades surgindo na indústria. A FEVE (a Federação Europeia de Embalagens de Vidro) lançou a primeira fornalha de grande escala do mundo que funciona com 80% de eletricidade renovável. A fabricante francesa Pochet du Courval pretende instalar uma fornalha elétrica em sua planta de produção até 2024, o que deve reduzir as emissões em 50% nos próximos 10 anos. O objetivo final é zerar as emissões até 2023, utilizando 100% de eletricidade renovável.
Os outros 15% das emissões de gases do efeito estufa das embalagens de vidro são causados por reações químicas que ocorrem quando o calcário bruto, a areia e o carbonato de sódio são aquecidos para produzir vidro virgem. Essas emissões seriam eliminadas se cacos de vidro reciclado fossem utilizados, já que eles requerem menos energia para serem derretidos. Com uma estética artesanal, a linha Wild Glass, da Estal, usa 100% de vidro reciclado pós-consumo. Com pequenas imperfeições e variações de cor, os produtos ajudaram a empresa a diminuir a geração de resíduos em cerca de 25%.
A fabricante britânica de vidros Encirc se uniu à Glass Futures, órgão de pesquisa e tecnologia, para produzir vidro 100% reciclado usando energia de biocombustíveis gerados por resíduos orgânicos. O resultado é a garrafa mais sustentável do mundo, com uma pegada de carbono 90% menor do que a embalagem de vidro comum. A Heineken já está testando a novidade como parte do seu programa Packaging the Future, que visa acelerar a descarbonização dos seus 50 principais fornecedores, reduzindo as emissões de CO2 da sua cadeia de valor em 30% até 2030.
A consideração final, comparando o peso do vidro – cerca de 600 g por litro de produto, contra cerca de 30 g do PET e do cartão – são as emissões de CO2 causadas pelo transporte. Se as embalagens de vidro fossem levadas por veículos que rodam com energia verde, eletricidade ou biocombustíveis (o que poderia reduzir as emissões do transporte em até 80%), o fato de o vidro ser mais pesado seria irrelevante. Assim, teríamos um produto que usaria zero combustível fóssil, emitiria zero carbono, geraria zero contaminação ambiental e que teria reciclabilidade infinita, sem perda de qualidade.
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