O passivo da Água de Cheiro, que entrou com pedido de recuperação judicial na semana passada, é de cerca de R$ 70 milhões. A maior parte das dívidas da empresa, que administra uma rede de franquias de perfumaria, é com bancos, principalmente o Itaú e o Santander. Fornecedores, franqueados e ex-funcionários também estão entre os credores.
Segundo o advogado da Água de Cheiro, Fernando Bilotti Ferreira, o requerimento foi feito “no susto”. A empresa, que já vinha em crise há pelo menos três anos, “tentou o máximo possível não pedir recuperação”, mas teve que recorrer à medida para evitar a falência. No fim de julho, o Banco Fibra pediu a falência da empresa, devido a uma cobrança de R$ 950 mil.
O pedido de recuperação judicial afeta 26 empresas, incluindo operadora de lojas, distribuidora, franqueadora e fabricante, entre outras. Há dívidas antigas, de empresas que inclusive já pararam de funcionar há anos, como a Fanape, fábrica de perfumes que a Água tinha em Lagoa Santa (MG).
Em dezembro, a Água de Cheiro demitiu quase todos os funcionários da área administrativa, por e-mail. Diversos ex-funcionários processam a empresa, que não tem comparecido às audiências, segundo ex-empregados.
A Água de Cheiro foi fundada em 1976, em Belo Horizonte. Em 2009, foi comprada por Henrique Alves Pinto. Ele havia vendido, um ano antes, sua construtora Tenda, em crise, à Gafisa. Sob a direção de Pinto, o número de lojas passou de 260 para quase 900 em três anos. O empresário incentivou os franqueados a se dedicarem exclusivamente à rede e abrirem mais lojas, prometendo rápido retorno.
A Água de Cheiro se endividou e passou a ter dificuldades para pagar os fornecedores e abastecer as lojas. Em entrevista ao Valor em abril de 2012, Pinto disse que a empresa devia R$ 35 milhões. Os franqueados reclamavam da falta de produtos. O empresário, no entanto, minimizou os problemas e disse, à época, que não estava preocupado em encontrar um sócio.
Muitas lojas foram fechadas, e a estimativa do mercado é que hoje cerca de 300 estejam em operação. O advogado da Água de Cheiro diz que ainda há 700, entre próprias e franqueadas. Até 2013, a sede da empresa funcionava em um prédio alugado na av. Faria Lima, em São Paulo. Agora, está na alameda Lorena, nos Jardins, com menos de cinco funcionários.
Se o pedido de recuperação for aceito, a Água de Cheiro tem 60 dias para entregar um plano de pagamento aos credores. “A ideia é que a companhia se mantenha ativa e continue operando”, diz Ferreira.
A Água de Cheiro tentou se estabelecer como uma concorrente da rede O Boticário, que nasceu no Paraná e cresceu via franquias. Quando a empresa mineira foi adquirida por Pinto, a Boticário tinha 2,7 mil lojas. Desde então, abriu mais mil pontos e se tornou a maior rede de franquias do Brasil.
A Água de Cheiro não foi a única a sucumbir. A L’acqua di Fiori, criada poucos anos depois da Água de Cheiro, também em Belo Horizonte, atravessa uma crise há pelo menos uma década, tendo se agravado nos últimos anos. De acordo com o site da empresa, a rede chegou a ter 1,2 mil lojas no país. Atualmente, apenas um décimo disso deve estar em operação, segundo estimativas de mercado.
Ferreira aponta a concorrência dos importados, que ficaram mais acessíveis aos brasileiros, como a principal razão da crise da Água de Cheiro. No fim de 2013, a empresa fechou parceria com a distribuidora Passion, do grupo Rothenberg, que distribui perfumes de marcas estrangeiras como Puma e Gap, além de marcas brasileiras de produtos de beleza como Ana Hickmann e Marcelo Beauty. A marca Água de Cheiro, o ativo mais valioso do grupo, também foi licenciada para o grupo Rothenberg, que ficou responsável pela fabricação e distribuição dos produtos.
Franqueados continuam sem saber se alguns produtos que estão em falta há mais de um ano voltarão a ser distribuídos ou quando serão repostos os estoques dos perfumes mais vendidos. Há lojas vendendo produtos de outras marcas e até bijuterias.
Fonte: http://www.valor.com.br/empresas/3682082/agua-de-cheiro-tem-dividas-de-r-70-milhoes#ixzz3CLRyzPm7
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