Uma suposta oferta para adquirir a Avon Products parece ter sido falsa.
A cotação das ações da empresa americana de produtos de beleza chegou a saltar 20% durante o pregão de ontem, para US$ 8, após uma entidade que se identificou como PTG Capital Partners Ltd. informar, num documento enviado aos reguladores, que havia feito uma oferta de US$ 18,75 por ação para comprar a Avon.
A Avon declarou que não recebeu tal oferta e que sequer pôde confirmar que a PTG Capital existe. Uma pessoa a par da situação disse que a empresa está tratando o ocorrido como um trote.
A SEC, a comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos, está revendo o documento, disse uma pessoa a par do assunto.
Tentativas do “The Wall Street Journal” para contatar a PTG Capital ou verificar sua existência também foram infrutíferas.
A firma não está registrada na SEC. Uma ligação para o número de contato fornecido no documento enviado à SEC foi atendida com mensagens automáticas que diziam que o assinante ou estava ao telefone ou não havia criado uma caixa de recados. Doze minutos depois, a mensagem na caixa postal dizia se tratar da PTG Capital.
O endereço fornecido, 125 Old Broad Street, abrigava anteriormente a Bolsa de Londres e hoje é um edifício de escritórios. O telefone de um escritório de advocacia do Texas citado no documento da SEC foi atendido por um certo “Atrium Executive Business Centers”. Uma pesquisa nos registros de empresas do Texas não revelou nenhum dado sobre a o escritório de advocacia, Trose & Cox.
As ações da Avon caíram depois, mas fecharam com alta de 6%, para US$ 7,07. Investidores vêm se mostrando ansiosos por notícias de que a Avon poderia ter encontrado um comprador. Em abril, o WSJ relatou que a empresa está estudando opções, inclusive uma venda, depois de uma fracassada tentativa de reestruturação.
Duas semanas atrás, a companhia divulgou mais um resultado trimestral fraco, consequência, em grande parte, da queda acentuada das vendas na América do Norte e dos efeitos da valorização do dólar, que reduz o valor, na moeda americana, das receitas de outros países. Até ontem, a ação da Avon havia recuado 29% no ano.
Empresas de capital aberto já foram vítimas de ofertas falsas no passado, geralmente via comunicados de imprensa.
Em agosto de 2000, um comunicado falso que alegava que o diretor-presidente da Emulex Corp. havia pedido demissão – e que a empresa estava revisando para baixo lucros divulgados anteriormente – fez a empresa de tecnologia da Califórnia perder US$ 2,2 bilhões em valor de mercado, ou mais da metade do total. Um ex-funcionário da Emulex que distribuiu o comunicado se declarou culpado de tê-lo forjado. Ele foi condenado a 44 meses de prisão. Em fevereiro, a Emulex foi comprada pela Avago Technologies Ltd. por cerca de US$ 600 milhões.
A possível oferta falsa pela Avon ressalta a vulnerabilidade do sistema “Edgar”, da SEC, para a apresentação de documentos regulatórios. Nele, é fácil a criação de contas falsas e envio de documentos fraudulentos diretamente para a seção de comunicados de empresas legítimas. Para apresentar um documento regulatório, alguém precisa apenas fornecer ao sistema um endereço e um documento registrado em cartório, segundo o manual de instruções do Edgar publicado pela SEC. O manual alerta que apresentar intencionalmente documentos falsos é crime federal.
Empresas registram diariamente milhares de documentos no sistema da SEC, a maioria rotineiros. Outras partes, como acionistas e pessoas de dentro da empresa, podem apresentar documentos diretamente à página da companhia no Edgar, um sistema concebido para divulgar o maior número possível de fatos relevantes sobre empresas de capital aberto.
Até ontem à tarde, a suposta oferta aparecia no topo de uma lista de comunicados recentes na página principal da Avon no Edgar, logo acima do demonstrativo trimestral e documentos destinados a acionistas por conta da próxima assembleia anual da empresa.
“A lição aqui é que, se você pensava que o Edgar era uma espécie de carimbo da SEC para legitimar um documento, não acredite nisso”, diz Thomas Sporkin, que trabalhou na área de fiscalização da SEC e hoje é sócio do escritório de advocacia Buckley Sandler LLP. “A verdade é que não há um sistema robusto de verificação.”
O documento arquivado apresenta vários casos de espaçamentos incomuns e erros ortográficos, inclusive duas referências à firma como TPG, uma conhecida empresa de private equity com investimentos no Brasil e que teria supostamente cogitado uma oferta pela Avon neste ano. Os termos referentes à “PTG Capital” usados no documento se parecem com os que a TPG usa na sua própria descrição.
Por exemplo, o documento diz: “A abordagem de investimentos da TPG nos ajuda a reconhecer valor – ou potencial de valor – onde outros não conseguem.” A TPG informou que não teve nada a ver com os eventos de ontem.
A oferta é semelhante a outra recebida em dezembro de 2012 pela Rocky Mountain Chocolate Factory Inc., uma pequena fabricante de doces que tem ações negociadas em bolsa. Naquele caso, um ofertante que se identificou como PST Capital Group Ltd. ofereceu US$ 13,50 por ação da Rocky Mountain. A PST nunca havia enviado um documento à SEC antes e sua oferta usava uma linguagem quase idêntica à da PTG.
A Rocky Mountain, afirmou, na época, ter descoberto “numerosos problemas” na oferta, inclusive que ela foi precedida por uma mensagem manuscrita para o presidente da companhia que errava a grafia do nome dele, além de ter um endereço associado a uma loja da Speedy Parcel Post, uma empresa de caixas postais de Londres.
Fonte:http://www.valor.com.br/empresas/4050692/suposta-oferta-pela-fabricante-faz-acao-saltar-20-nos-eua
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