Os credores da Água de Cheiro, uma fila de bancos encabeçada por Itaú e Santander, estão cada vez mais apreensivos. Para as instituições financeiras, o processo de recuperação judicial da companhia tem se revelado um voo às cegas, marcado pela falta de transparência e por crescentes dúvidas em relação à atual situação operacional da fabricante de perfumes.

Quantas lojas a Água de Cheiro tem? Qual o número de pedidos em carteira? Qual o faturamento da companhia?

Os credores gostariam de saber. No entanto, a Água de Cheiro é um frasco com a tampa atarraxada. De lá não sai nem uma leve fragrância de informação. Tanto que, na última terça-feira, atendendo a uma solicitação da própria administradora judicial, a KPMG Corporate Finance, a 2a Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo determinou que a empresa entregue nos próximos dias uma vasta documentação, a começar pela Relação de Credores Analítica, sem a qual é impossível formalizar qualquer plano de repactuação da dívida. A companhia também não tem apresentado os relatórios mensais de atividades e os demonstrativos com os pedidos e o volume de vendas das lojas franqueadas. O RR fez várias tentativas de contato com a Água de Cheiro, por telefone e por e-mail, mas a empresa não retornou até o fechamento desta edição.

A rigor, a nuvem de interrogações que cerca a Água de Cheiro não se limita ao processo de recuperação judicial, deflagrado em setembro. A própria trajetória recente da companhia tem sido pautada por uma série de informações desencontradas e histórias mal contadas.

Em 2013, a Brasil Beauté chegou a anunciar a compra da empresa. No entanto, o negócio foi desfeito poucos meses depois sem maiores explicações e a Água de Cheiro seguiu nas mãos do empresário mineiro Henrique Alves Pinto, fundador da construtora Tenda – posteriormente vendida para a Gafisa. Logo depois circulou no mercado a informação de que o Grupo Rothemberg estaria negociando a aquisição da fabricante de perfumes. Mais uma história que teve começo, meio, mas ficou faltando o fim. O Grupo Rothemberg, dono da RR Perfumes, veio a público desmentir a operação, dizendo ser apenas fornecedor de produtos para a empresa mineira.

As informações desencontradas sobre a Água de Cheiro envolvem os próprios números da companhia. A empresa divulgou recentemente que tem cerca de 700 lojas em operação, entre unidades próprias e franqueadas.

Revendedores, no entanto, garantem que esse total não chega a 300 pontos de venda. Entre 2009, ano em que Henrique Alves Pinto comprou o controle, e 2013, o número de lojas passou de 250 para mais de 800. O salto, ao que parece, foi maior do que a perna. O desenfreado plano de expansão trouxe a reboque não apenas o aumento da dívida – oficialmente, na casa dos R$ 70 milhões – como também sérios problemas logísticos.

 

Fonte: Relatório Reservado – 12 de dezembro de 2014 – Nº 5.021

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