A Natura apresenta a sua visão de sustentabilidade para 2050
Referência global quando o assunto é sustentabilidade e desenvolvimento socioambiental, a Natura, maior empresa de cosméticos do Brasil, é conhecida pela ousadia com a qual conduz suas políticas de sustentabilidade, estabelecendo metas bastante agressivas e com prazos para serem cumpridas. O assunto é de tal ordem relevante para a empresa de venda direta que parte dos bônus concedidos aos seus principais executivos está atrelada aos indicadores socioambientais.
Nessa batida, depois de ter atingido a meta de neutralizar suas emissões de carbono, a Natura apresenta sua nova Visão de Sustentabilidade, abordando as diretrizes que nortearão a sua atuação empresarial até 2050. No meio do caminho existe uma série de metas e compromissos que precisam ser alcançados até 2020.
Entre os princípios que orientaram o desenvolvimento desse novo modelo de atuação estão a economia circular; incentivo ao consumo consciente; responsabilidade pela cadeia de valor; geração de impacto social por meio de incentivo à educação e novos modelos de negócios sustentáveis. “A sociedade atribuirá maior valor àquelas companhias que exercerem um papel de agente de transformação socioambiental. Queremos ampliar o potencial de nossa empresa na ação geradora de negócios aliados à mudança cultural e educacional”, disse João Paulo Ferreira, vice-presidente Comercial e de Sustentabilidade da Natura, durante o evento no qual a nova Visão foi apresentada.
Para entender melhor e se aprofundar em alguns aspectos do novo modelo, Atualidade Cosmética conversou com a gerente de Sustentabilidade da Natura, Luciana Villa Nova.
Quais os mecanismos de avaliação, controle e auditoria para acompanhar as evoluções nesse processo, especialmente no que diz respeito às metas assumidas para 2020?
Os processos de gestão das ambições e compromissos da Visão de Sustentabilidade são acompanhados trimestralmente pelo Comitê Executivo da empresa e reportados ao Conselho de Administração. Acreditamos que a gestão da sustentabilidade é transversal a toda empresa, intrinsicamente na operação do nosso negócio e, desta forma, todas as iniciativas e indicadores são de reponsabilidade das áreas líderes dos processos, sendo gerenciadas e acompanhadas regularmente pelas respectivas diretorias para posterior reporte aos comitês executivos da empresa.
A Visão de vocês fala do desejo de descentralizar a gestão da sustentabilidade por todas as áreas da empresa. Nesse processo, quais seriam os mecanismos de controle da alta administração, ou da liderança de sustentabilidade, para garantir que todos os preceitos estejam sendo efetivamente seguidos?
Nos comitês de gestão das diretorias, todos os compromissos, ambições e iniciativas da Visão são acompanhados regularmente. Temos gerentes de Sustentabilidade que dão suporte às áreas na implantação dos planos da Visão e as ajudam na implantação do processo de gestão e governança. Também iniciamos um plano de comunicação, educação e engajamento dos colaboradores sobre a Visão em parceria com o RH. A certificação como Empresa B, obtida no ano passado, dá crédito às nossas práticas de gestão sustentáveis no sentido de uma empresa comprometida com o desenvolvimento socioambiental atrelado ao lucro. A certificação nos ajudará no acompanhamento e evolução de nossa Visão de Sustentabilidade e de nossas práticas de gestão de nossos indicadores socioambientais.
A Natura já é considerada uma das empresas mais transparentes do País. Ainda assim, para 2020 ela se compromete a implantar total transparência no fornecimento de informações dos produtos. Que tipo de informações ainda não compartilhadas pode contribuir para esse objetivo?
Ainda não temos todas as respostas, mas acreditamos que podemos ampliar ainda mais a visibilidade e a transparência das práticas de condução de nossos negócios buscando formas inovadoras de integrar nossos resultados e impactos sociais, ambientais e econômicos.
Também acreditamos que podemos evoluir na transparência sobre nossos produtos e sobre a cadeia de suprimentos de insumos utilizados em sua fabricação. Para produtos, utilizamos recentemente o processo do Cocriando Natura, rede aberta a todas as pessoas que se identificam com a nossa marca e que desejam contribuir com ideias e percepções para o processo de desenvolvimento de conceitos e produtos. Através do Cocriando, ouvimos de nossos consumidores como a Natura deveria se posicionar em relação à transparência de informações sobre nossos produtos, ajudando-nos a entender sua relevância para a sociedade. A partir deste estudo e de outros, estamos estabelecendo um plano de evolução sobre transparência de produtos que será implantado até 2020.
Após incluir, de modo pioneiro, uma tabela ambiental nas embalagens de todo o seu portfólio ainda em 2007, nos preparamos para fazer mais uma evolução: em linha com a nova visão de sustentabilidade, o portfólio da companhia deverá contar com uma nova tabela socioambiental.
Sobre a cadeia de Suprimentos, até 2020, queremos ter um programa de rastreabilidade implantado para os demais elos da cadeia de valor da marca Natura.
Um dos objetivos de Gestão para 2020 é implementar a valoração de externalidades socioambientais, considerando os impactos positivos e negativos da cadeia de valor. Como isso funcionaria e como a Natura controlaria e auditaria esses indicadores?
Conscientes de que nossa atuação depende diretamente da natureza e dos ecossistemas e com base em nosso compromisso com um modelo de desenvolvimento sustentável, estamos envolvidos em uma série de estudos para mensurar o impacto de nossas atividades. Nosso objetivo é que, no médio prazo, possamos valorar os impactos que geramos, sejam eles negativos ou positivos – também chamados de externalidades –, sociais e ambientais, de todas as operações da Natura e na cadeia de valor, considerando essa análise na gestão do negócio. Assim, no futuro, poderemos alcançar um estágio no qual as empresas confiram o devido valor monetário aos serviços prestados pelos ecossistemas, pela biodiversidade e pelos seres humanos e aos impactos gerados na sociedade pela sua atividade econômica. E, dessa forma, permitir que ganhos e perdas socioambientais associados a uma atividade produtiva sejam considerados nas análises de riscos e na geração de produtos e negócios mais sustentáveis.
Você pode falar um pouco mais sobre como funciona o ESP&L (Environmental and Social Profit and Loss)?
Iniciamos o projeto de valoração de externalidades ambientais de nossa cadeia de valor em 2014 (ESP&L) e devemos começar sua implantação no modelo de gestão da empresa a partir de 2015 – seis aspectos estão sendo mensuradas e monetizadas: emissão de GEE, poluentes do ar e solo, uso da terra, água, resíduos e produção e consumo de insumos da sociobiodiversidade brasileira.
A Natura desenvolve há vários anos um trabalho com as comunidades agroextrativistas, que fornecem matérias-primas utilizadas em diversos produtos da empresa. Como se desenvolveu os mecanismos de gestão e controle de produção e qualidade para acompanhar o trabalho dessas comunidades e que elas atuem dentro dos padrões de qualidade e dos princípios da Natura?
Desde o lançamento da submarca Ekos, em 2000, temos trabalhado na estruturação e fortalecimento de cadeias produtivas da sociobiodiversidade (SBD) brasileira, incluindo comunidades extrativistas e pequenos produtores familiares rurais. Criada em 2009, nossa Política Natura de Uso Sustentável de Produtos e Serviços da Sociobiodiversidade explicita a maneira com que nos relacionamos com nossas comunidades fornecedoras, incluindo o nosso modelo de repartição de benefícios pelo acesso ao patrimônio genético e/ou conhecimento tradicional associado. A política estabelece diretrizes para a compra de insumos e a estruturação de um relacionamento pautado pelo preço justo e equitativo, capaz de criar oportunidades de negócios sustentáveis para estas comunidades.
Como isso deve evoluir na nova Visão de Sustentabilidade de vocês?
Nossa ambição até 2020 é aumentar significativamente o consumo de insumos da SBD amazônica e gerar desenvolvimento local com o estímulo a uma economia da floresta em pé e ao uso sustentável de insumos e serviços da SBD. Para tanto, estimularemos o desenvolvimento de uma economia local por meio do fomento da produção regional, com o Ecoparque, e ao aumento de famílias de relacionamentos locais.
E a questão da rastreabilidade?
Desde o momento em que inseriu o uso sustentável de ativos da biodiversidade em sua plataforma de negócios, a Natura viu-se diante do desafio de realizar, com eficiência, a gestão e a rastreabilidade dessa cadeia de fornecimento. Ainda que esse acompanhamento já fosse realidade para quase a totalidade da cadeia, havia escassez de informações sistematizadas em um banco de dados robusto, seguro e auditável, e que servisse de base para o planejamento das safras e para o cálculo de repartição de benefícios, gerados pelo acesso ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional das comunidades. Isso se tornou possível em 2014 com a implementação do Sistema da Sociobiodiversidade da Natura. Trata-se de uma solução de inteligência geográfica que permite a localização online de toda a cadeia e o acesso a indicadores como investimentos realizados, produção e infraestrutura local, além da integração a outros sistemas corporativos de gestão. Em sua versão móvel, permite a consulta, coleta e atualização em campo dos dados cadastrais das famílias produtoras e cooperativas, incluindo documentação fotográfica. Será ferramenta fundamental para nosso apoio ao desenvolvimento de uma nova economia a partir da SBD, em especial na região Amazônica, plano da Visão de Sustentabilidade.
Fonte:http://www.cosmeticanews.com.br/leitura.php?n=anos-luz-a-frente&id=5718
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