Apesar de 2014 ser considerado um ano desafiador, de economia ainda fraca, a maioria de varejistas e fabricantes de bens de consumo final planeja repetir neste ano o volume investido em 2013 ou aumentar essa conta.
O quadro faz parte de levantamento antecipado ontem pelo Valor Pro, serviço de informação em tempo real do Valor, com base em balanços de companhias de capital aberto.
A tentativa de proteger mercado e, na melhor das hipóteses, ampliar a participação das marcas nas vendas em 2014 – abrindo novas lojas, em regiões ou cidades não exploradas, ou linhas de produção de novas mercadorias – explicam, em parte, a decisão de não puxar o freio. “É o investimento que gera renda, é ele que vem na frente da geração de emprego e consequentemente, da demanda”, diz Claudio Felisoni, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo.
Entre as quinze empresas do setor de bens de consumo e varejo que anunciaram seus planos de investimento para 2014, nove devem manter os desembolsos no mesmo volume aplicado no ano passado, três companhias planejam aumentar esse montante e três devem investir menos em seus negócios. A análise considerou 24 companhias do setor que publicaram seus balanços até ontem. Entre as 24 empresas, 15 informaram suas previsões de capex (investimentos na operação) neste ano.
“Planejamos investir em 2014 cerca de R$ 100 milhões a mais do que 2013 [quando o capex foi de R$ 391 milhões], basicamente em logística. Não dá para mudar a marcha agora, abrimos mais lojas recentemente, precisamos ter logística e distribuição funcionando bem”, diz Flavio Rocha, presidente da Riachuelo.
“A ideia é manter investimentos nessa faixa de R$ 200 milhões em 2014 porque temos novas linhas para lançar e previsão de mais lojas no país e fora”, diz Márcio Utsch, presidente da Alpargatas.
No ano passado, as varejistas e os fabricantes de bens de consumo investiram R$ 12,26 bilhões, 6% acima dos R$ 11,58 bilhões em 2012, alta nominal de 6%, segundo dados das 24 empresas que informam o capex de 2013. Ao se descontar a inflação do período (IPCA/IBGE), não há expansão no investimento. Analistas entendem que, como há empresas que bateram recordes nessas somas em 2013, os níveis de desembolsos já estariam elevados.
Felisoni observa, no entanto, que a taxa de crescimento de 6% nos desembolsos das empresas em 2013 é uma alta tímida, a ser analisado com cautela. “Há poucos estímulos para o investimento hoje, há insegurança no meio empresarial, com alta dos juros e inflação que resiste. Então apesar dos anúncios das companhias, é preciso ver se realmente irão desembolsar esses recursos”.
Grupo Pão de Açúcar, Ambev, BRF, Magazine Luiza, Natura e Alpargatas informam que pretendem manter desembolsos no mesmo nível de 2013 – no caso do GPA, a empresa prevê valor próximo do teto de R$ 2 bilhões de 2013. A varejista comunicou dias atrás que fez uma reserva de expansão para investimentos de R$ 675 milhões em 2014, 0,13% acima de 2013. A cervejaria Ambev estima investir R$ 2,8 bilhões.
Companhias que informaram maiores desembolsos neste ano são Renner, Riachuelo e Hering, que atuam no varejo de moda, um segmento que registou aumento da concorrência nos últimos dois anos. No grupo das que devem puxar o freio estão Grendene, Hypermarcas e Sonae Sierra.
O fechamento, no ano de 2013, de um ciclo de investimentos mais altos levou a Sonae Sierra a prever somas menores neste ano. “O capex será inferior ao investido em 2013, já que no ano passado a companhia tinha dois grandes shoppings em construção, que já foram inaugurados. Porém iremos aumentar os investimentos dedicados à expansão e renovação dos shoppings atualmente em nosso portfólio”, informou a companhia.
Na Hypermarcas, também houve fim de uma fase de desembolsos mais altos, necessários no processo de reorganização da empresa, e esse período se encerrou. A empresa planeja capex de R$ 120 milhões a R$ 150 milhões em 2014 – foram R$ 200 milhões em 2013.
Quanto mais recursos a empresa destina do lucro líquido para reserva de expansão, menor é o dividendo aos acionistas. Quem investe para crescer paga menos ao investidor, e isso num período em que a maioria das ações do setor de consumo e varejo registra queda na bolsa. Por isso, analistas vêm perguntado às empresas que não preveem investimentos mais altos em 2014, se é possível, pelo menos, esperar dividendos maiores.
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