Os resultados da Unilever perderam parte de seu brilho nos últimos trimestres. Um dos motivos para isso é muito conhecido de seu principal executivo, Paul Polman: seu antigo patrão, a Procter & Gamble (P&G).
O crescimento das vendas da divisão de cuidados pessoais da Unilever, sua unidade maior e mais lucrativa, desacelerou para 2,1% no quarto trimestre, informou ontem a empresa. Foi o ritmo mais lento em mais de dez anos.
A comercialização de sabonetes e outros artigos de higiene caiu pela primeira vez desde o auge da recessão, devido, em parte, ao acirramento da competição imposta pelas marcas da P&G, que aumentaram sua participação de mercado no quarto trimestre, enquanto a Unilever rateava.
Após vários anos de estagnação, a P&G voltou a ganhar algum impulso sob o comando do principal executivo A.G. Lafley. Conseguiu, assim, uma posição mais sólida nos Estados Unidos e na Europa nas prateleiras de itens de cuidados pessoais de redes de farmácias como a Walgreens Boots Alliance e a CVS Health.
A P&G é um inimigo que Polman conhece muitíssimo bem, por ter trabalhado mais de 25 anos na empresa antes de ser contratado para recuperar os resultados da Unilever, em 2008. “A P&G está entrando nos eixos, e nós começamos a ver isso nos dados do mundo em desenvolvimento”, disse o analista Jeff Stent, da corretora Exane BNP Paribas. “Acho justo dizer que eles reconquistaram alguma magia e que estão reforçando seu poder.”
Depois de nove meses de aumentos, as vendas dos desodorantes e xampus da Unilever nos Estados Unidos caíram no quarto trimestre, segundo dados da Nielsen citados pela Exane BNP Paribas. Na P&G, por seu lado, as vendas de xampus aumentaram 8,1%, o ritmo mais acelerado de pelo menos 12 meses, enquanto a receita gerada pelos desodorantes subiu 3,4%.
Com suas marcas Axe, Lynx e Degree, a Unilever vende mais desodorantes que qualquer outra companhia, enquanto a P&G lidera mundialmente no segmento de xampus, com seus produtos Pantene e Head & Shoulders, segundo a empresa de pesquisa Euromonitor.
Polman disse ontem aos analistas que o mercado americano de produtos para cabelos se tornou uma “luta particularmente intensiva”, com grandes níveis de desconto, e que, pelo menos por enquanto, ele não está disposto a sacrificar as margens de lucro por meio da redução generalizada de preços. A margem operacional básica da Unilever, um indicador de lucratividade, se ampliou em 0,4 ponto, para 14,5% no ano passado. Polman disse também que um concorrente no segmento de desodorantes “às vezes distribui seus produtos gratuitamente”, sem identificá-lo pelo nome.
“Em termos de lutas competitivas, temos muitas, e decidimos não entrar em todas no último trimestre”, disse Polman. “Sou inflexível em que continuemos competitivos, mas também é importante que mantenhamos o avanço tanto da receita quanto do lucro líquido.”
Como reflexo dessa posição, o percentual de negócios da Unilever que está ganhando participação de mercado hoje é menor que os 60% mantidos durante a maior parte de 2014. O ambiente competitivo pode piorar em 2015, disse o analista Cedric Besnard, do Barclays, em nota distribuída ontem, à medida que a queda dos preços do petróleo reduzirá os custos de produção industrial para as fabricantes de bens de consumo, o que lhes permitirá redirecionar esses recursos para guerras de preços.
Em outras palavras, a luta mal começou.
Fonte:http://www.valor.com.br/empresas/3870234/unilever-perde-espaco-para-pg
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