O amplo esforço da Procter & Gamble para impulsionar seu crescimento bateu de frente, no fim do ano passado, com a valorização do dólar em relação a outras moedas. A gigante americana do setor de consumo afirmou que o enfraquecimento generalizado das moedas de outros países não tem precedentes e levou a uma queda no desempenho de todos os seus principais segmentos. A P&G acrescentou que efeitos cambiais vão reduzir suas vendas em cinco pontos percentuais e abater US$ 1,4 bilhão dos lucros durante o ano fiscal que termina em junho, bem mais que o esperado quando o ano começou.
O golpe cambial é uma consequência da expansão bem-sucedida da P&G nos mercados mundiais. Essa expansão deixou a empresa bastante exposta à forte queda do rublo, por exemplo, afirmou a P&G ontem. O resultado é afetado porque, quando a moeda de um país se desvaloriza, as vendas realizadas nele perdem valor quando contabilizadas em dólar.
Para anular o impacto, a fabricante das lâminas Gillette e das fraldas Pampers está recorrendo a cortes de custos, incluindo reduções de pessoal e nos investimentos em marketing. As medidas contemplam ainda a migração de uma fatia maior da publicidade para canais digitais, que já representam mais de 30% do total.
A empresa também está elevando preços e trocando fornecedores de seus produtos, mas essas medidas demoram para surtir um efeito pronunciado no resultado final.
“Temos muitas coisas à nossa disposição e estamos obviamente engajados”, disse o diretor financeiro da P&G, Jon Moeller, numa conferência telefônica com a mídia, mas acrescentou que “a maioria delas leva algum tempo”.
A P&G fez os alertas depois de ter registrado resultados menores que os esperados no trimestre fiscal encerrado em dezembro. O lucro caiu 31%, para US$ 2,4 bilhões, em face de um recuo de 4% no faturamento, para US$ 20,2 bilhões.
A P&G está eliminando camadas de gerência e se concentrando nos produtos que respondem pela maior parte de sua receita e lucro. Excetuando-se os fatores cambiais, o desempenho da P&G ficou basicamente dentro do esperado. As vendas orgânicas, que não consideram os efeitos do câmbio e das aquisições ou vendas, cresceram 2%, com todos os setores tendo registrado ganhos – a não ser o de beleza, há muito em dificuldades.
As vendas por unidade ficaram estáveis no trimestre, sendo que os volumes caíram 2% nos segmentos de beleza e cuidados pessoais, higiene masculina e saúde. Já o segmento de produtos de lavanderia avançou 2%.
A cotação das ações da P&G caiu 3,5%, ontem, para US$ 86,43.
A empresa planeja acabar com até 100 de suas marcas e concentrar os recursos nas 70 ou 80 mais importantes. Em novembro, ela fechou a venda de sua unidade de pilhas Duracell – que tinha receitas anuais de US$ 2,2 bilhões, mas um crescimento anêmico – para a Berkshire Hathaway, a holding do investidor Warren Buffett.
Na época, a empresa informou que estava perto de vender outras dez marcas pequenas, com as informações já nas mãos de potenciais compradores. Em dezembro, a P&G concordou em vender suas marcas de sabonete Camay e Zest para a Unilever. A empresa também vendeu ou fechou outras 35 marcas como parte do enxugamento, disse Moeller. No lado positivo, a empresa informou que a queda nos preços do petróleo dará a ela um ganho de US$ 600 milhões antes de impostos, cuja maior parte deve começar a entrar no caixa no próximo trimestre. Esse ganho, porém, deve ser absorvido pelas perdas cambiais.
Fonte:http://www.valor.com.br/empresas/3881560/dolar-valorizado-afeta-desempenho-da-pg
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