A Natura (NTCO3) reportou mais um resultado considerado ruim pelo mercado, com as ações fechando em queda de 10,36%, a R$ 14,28, enquanto o Ibovespa disparou 2%.
Na noite da última quinta, a empresa divulgou prejuízo de R$ 766 milhões, elevação de 99,5%, pior que o esperado.
De acordo com a Ativa, a empresa de cosméticos obteve resultados fracos, porém, em linha com as estimativas.
Os analistas lembram que a receita líquida refletiu um cenário cada vez mais desafiador nos mercados.
Já a margem bruta ficou em 63% (queda de 2,2 pontos percentuais), impactada pelo aumento dos preços de commodities e fretes, bem como efeitos cambiais desfavoráveis.
Avon, mais problema que solução?
Os analistas da Ativa observam que as operações da marca Natura na América Latina foram o destaque positivo e a Avon Internacional foi a operação mais prejudicada com os efeitos da redução do poder de compra na Europa.
Fechada em 2020, por US$ 2 bilhões, a operação criou o quarto maior grupo de beleza do mundo. Porém, passados dois anos, o mercado ainda vê dificuldades de integração.
Na América Latina, a marca viu sua receita cair 12,8%, impactada por menor volume.
Tanto no Brasil como na América Hispânica, o destaque negativo foi moda & casa, principalmente devido à reabertura do varejo, que apresentou outras opções para o consumidor.
Na Avon Internacional, a receita líquida caiu 25,4% em reais, principalmente impactada pelo conflito na Ucrânia, inflação na Europa e menor número de representantes.
A XP Investimentos diz que o conflito entre Rússia e Ucrânia segue como um desafio para performance de Avon Internacional e TBS.
O Itaú BBA também classificou a marca como um “desafio”.
Nem tudo foi ruim
Além da integração da Avon, a Natura também enfrenta problemas na economia. Para o Bradesco BBI, a empresa reportou resultados com altos e baixos.
Como destaque, os analistas ressaltam as vendas 3% acima da estimativa (embora caindo 9% em base anual) e crescendo em uma base cambial constante (embora muito marginalmente) após quatro trimestres sucessivos de quedas.
O Ebitda de R$ 694 milhões (queda anual de 15%) ficou 7% superior às estimativa, impulsionado pela receita
mais forte na América Latina e um grande corte nas despesas da sede corporativa.
“Podemos descrever os resultados como uma “montanha-russa”, porque existem grandes destaque positivos (com as vendas Natura Brasil crescendo 14%, as vendas Avon Brasil 5% maiores na categoria beleza e mercados hispânicos crescendo bem com câmbio constante), mas também há algumas grandes frustrações (com a contração da margem bruta, uma margem EBITDA dolorosamente baixa de apenas 3% na TBS e Avon Internacional fraca, embora com deterioração limitada quando excluímos Ucrânia e Rússia)”, destaca.
Macro ruim impede recomendação melhor
Para a Ativa, a Natura reportou números fracos já esperados pelo mercado, refletindo um cenário desafiador marcado por inflação alta, interrupções na cadeia de suprimentos e incertezas macroeconômicas e geopolíticas, além de questões estruturais da holding.
Apesar de ponderar que o CEO deve conseguir melhorar sua estrutura organizacional no longo prazo, para os próximos trimestres, ainda se espera que a companhia enfrente um período desafiador no quesito rentabilidade com o consistente aumento nos preços dos principais insumos da companhia.
“Dessa forma, devido a tais fatores que fogem do controle da companhia, ainda não enxergamos um ponto de inflexão para os seus resultados”, coloca.
O Bradesco destaca que o comentário do CEO de que “as margens permanecerão pressionadas no curto prazo” provavelmente causará alguma preocupação e potencialmente rebaixará as estimativas de consenso.
“Embora certamente existam novos lançamentos na Avon Brasil, e a Natura continue a ter um bom desempenho como marca em toda a América Latina, achamos que os resultados provavelmente não trouxeram o conforto sobre as estimativas e a convicção de uma recuperação de 2S22 que os investidores estavam procurando”, diz.
O BBI cortou o preço-alvo de Natura de R$ 30 para R$ 29, com recomendação neutra.
O Goldman também reafirmou sua recomendação neutra, afirmando que embora certas tendências (Natura Brasil e Aesop) e o foco da administração na responsabilidade e corte de custos sejam encorajadores, “também reconhecemos que a NTCO está exposta a uma demanda desafiadora e perspectivas de margem nos principais mercados onde o posicionamento da marca e o poder de precificação pode não ser forte o suficiente para compensar esses ventos contrários macro”.
Já o BTG Pactual reconhece os desafios macros da Natura, mas pondera que a digitalização contínua de representantes de vendas, oportunidades de cross-selling com Avon e potenciais sinergias podem dar um gás para a empresa.
A recomendação é de compra.
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