O montante representaria metade do valor de mercado da controladora, levando em conta múltiplos de pares globais
Uma operação envolvendo cisão ou oferta de ações da Aesop pode destravar um valor considerável para os acionistas da Natura &Co, diz o BTG Pactual. O banco estima que a unidade pode valer R$ 9 bilhões, metade do valor de mercado da controladora, levando em conta múltiplos de pares globais.
Os analistas Luiz Guanais, Gabriel Disselli e Victor Rogatis escrevem que em 2021 a Aesop teve R$ 2,6 bilhões em receitas, 6,5% do total da Natura &Co, e R$ 622 milhões em Ebitda, 16% do total da controladora. O valor de R$ 9 bilhões foi alcançado levando em consideração um múltiplo de 15 vezes o valor sobre o Ebitda.
Eles destacam que a incerteza do que será feito e o momento ruim do mercado para ofertas de ações ainda deixam o curto prazo da Natura &Co desafiador. A empresa tem margens sob pressão, baixo crescimento de receitas e alavancagem em alta com os juros elevados.
A XP vai na mesma linha de falar que a segregação da Aesop, seja via cisão ou IPO, destravaria valor para a Natura &Co, apesar de agora não ser o melhor momento para a operação. Os analistas Danniela Eiger, Gustavo Senday e Thiago Suedt escrevem que as operações da América Latina da companhia estão sendo negociadas a um desconto de 40% sobre pares globais, assumindo que as unidades internacionais têm seu valor zerado.
Apesar disso, eles apontam que a Aesop está passando por um ciclo mais pesado de investimento para entrar na China, o que pressiona a rentabilidade no curto prazo, além do país, principal avenida de crescimento da Aesop, passar por desafios macro.
“Enxergamos esse comunicado como o primeiro movimento de reorganização da nova gestão da Natura, possivelmente abrindo caminho para novos anúncios”, comentam.
Na mesma linha, o Citi analisa que a operação pode liberar valor para a Natura &Co, trazendo à tona a avaliação de uma de suas unidades de negócios de maior crescimento. A Aesop representa 6% das vendas líquidas da Natura &Co, e 15% do Ebitda, e teve 35% de taxa de crescimento anual composta de 2016 a 2021, escrevem os analistas João Pedro Soares, Felipe Reboredo e equipe.
Segundo eles, com base na avaliação das empresas de beleza global mais a presença geográfica privilegiada da Aesop, o ativo pode ser negociado de 10 vezes e 20 vezes o chamado valor de empresa (valor de mercado mais dívidas) sobre Ebitda, um prêmio considerável para os atuais 5,7 vezes do valor da empresa sobre Ebitda da Natura.
Ao mesmo tempo, a avaliação independente da Natura variaria entre 2,7 vezes e 5,1 vezes de valor de empresa sobre Ebitda, um desconto considerável para empresas globais, afirmam os analistas. Para eles, o acréscimo de valor parece claro a preços atuais, na medida em que a Natura caiu 49% no acumulado do ano.
“Acreditamos que o ativo comandaria múltiplos mais altos em um ambiente de mercado mais favorável, especialmente considerando a atual falta de visibilidade decorrente do conflito na Europa Oriental.”
Já o Goldman Sachs argumenta que o negócio pode eventualmente liberar valor para os acionistas da Natura &Co, a depender do formato e do valor que o mercado atribuiria às entidades separadas. Os analistas Irma Sgarz, Felipe Rached e Gustavo Fratini escrevem que a Natura &Co atualmente é negociada a 5,8 vezes valor da empresa sobre Ebitda em 2023, e assumindo que a Aesop negociaria em linha com pares globais de beleza com perfil de crescimento semelhante, de 10 vezes a 16 vezes, eles estimam até 50% de alta ante o valor de mercado atual estimado.
Eles destacam que a Aesop é a marca de beleza mais voltada para o luxo da Natura &Co, com penetração on-line de 23%, e está atualmente focada em fortalecer sua presença na Ásia e entrar na China enquanto expande a presença da marca em seus principais mercados. Os analistas preveem receitas para 2022 de R$ 3 bilhões para Aesop, com margem Ebitda de 22%.
Os analistas afirmam ainda que, embora reconheçam que certas tendências e o foco da administração na redução de custos são encorajadores, a Natura &Co está exposta a uma demanda e perspectiva de margem desafiadoras nos principais mercados, especialmente na Europa, onde o posicionamento da marca e o poder de precificação pode não ser forte o suficiente para compensar fatores contrários macroeconômicos.
Por fim, o Santander destaca que a operação deve ser positiva para as ações a curto prazo, apesar das perspectivas para a companhia no segundo semestre ainda serem fracas. Os analistas Ruben Couto, Eric Huang e Vitor Fuziharo ressaltam o potencial impacto positivo para as ações da companhia, considerando que os papéis recuaram cerca de 20% após a companhia negar que considerava a operação, há um mês.
O Santander aponta que a Aesop é a unidade da Natura &Co que mais cresce, com “margens robustas e geração de fluxo de caixa”. Os analistas afirmam ainda que um spin-off ou oferta pública inicial (IPO) pode acelerar ainda mais o crescimento da Aesop, por proporcionar recursos extras.
A operação, porém, não tem qualquer estrutura definida e ainda não há informações se haveria ainda uma oferta secundária. De acordo com o relatório, a diretoria da companhia afirmou que uma cisão ou oferta pública inicial de ações (IPO) só ocorreria em condições adequadas de mercado, e que “não há pressa para iniciar as operações a curto prazo”.
“Embora a diretoria tenha sido enfática ao dizer que seu principal objetivo é acelerar o crescimento da Aesop e liberar seu valor tanto para os acionistas quanto para a empresa, o momento do anúncio, tendo em vista os resultados consolidados ainda fracos da Natura e a alta alavancagem, poderia levantar dúvidas sobre sua saúde financeira”, afirmam.
Recomendações
A XP tem recomendação de compra para Natura &Co, com preço-alvo em R$ 25, potencial de alta de 92,4% sobre o fechamento de ontem. Já BTG, Citi, Goldman Sachs e Santander têm recomendação neutra.
Para o BTG, o preço-alvo em R$ 18, enquanto para o Citi, o preço-alvo é de R$ 20, potencial de alta de 54% ante o fechamento de ontem na B3.
Por sua vez, o Goldman Sachs vê o preço-alvo em R$ 17, potencial de alta de 30,9% ante o fechamento de ontem, e o Santander, em R$ 32, o que representa um avanço potencial de mais de 110%.
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