A Natura fala de um ambiente “com efeitos contínuos e desiguais nos principais mercados, aumento da inflação e interrupções na cadeia de suprimento e no frete”. É o que a Magazine Luiza chama de “temporal macroeconômico”

Quando uma empresa abre o release de resultados com alguma coisa além do lucro líquido, geralmente não é um bom sinal. É natural elas queiram dar destaque para boas notícias, mesmo quando não há muitas. Uma tática comum para evitar assuntos espinhosos, como um prejuízo ou queda do lucro, é lançar mão de um resultado pro forma ajustado e extirpado de qualquer número que cause constrangimentos. A Natura &Co resolveu usar o faturamento, talvez porque não tivesse opção melhor.

A receita da fabricante de cosméticos caiu 4,2% no terceiro trimestre, mas, justifica a empresa, é porque a base de comparação do mesmo período do ano passado foi recorde. Se a comparação for feita com o terceiro trimestre de 2019 (pré-pandemia, reforça o texto), o crescimento é de 20,7%.

Isso não animou muito os analistas e investidores. A ação caía por volta de 16% às 17h — R$ 9 bilhões de valor de mercado a menos em relação a quinta-feira — e disputa com o Magazine Luiza o pior desempenho do dia.

A empresa fala de um ambiente externo difícil, “com efeitos contínuos e desiguais da pandemia nos principais mercados, aumento da inflação e interrupções na cadeia de suprimento e no frete”. É o que a Magazine Luiza, no seu release de resultados, chama de “temporal macroeconômico”. Coincidentemente, a varejista também abre seu texto pelo “crescimento de vendas sobre a maior base de comparação da história”.

A ação da Magazine também cai 16%, uma perda de R$ 15,3 bilhões em valor de mercado.

Outra coincidência é que as duas usaram créditos tributários para melhorar a última linha, o que é perfeitamente regular. O Magazine, que teve prejuízo operacional, reverteu a perda com um crédito de R$ 257,5 milhões. A Natura não chegou a ter prejuízo antes do financeiro e dos tributos, mas o resultado caiu 60% e foi escorado por um crédito tributário de R$ 312 milhões, porque teria sido comido pela despesa financeira líquida de R$ 293 milhões. No ano passado, em de vez de crédito, a empresa pagou de R$ 53 milhões de Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro.

Os analistas do BTG Pactual e do Citi consideraram o resultado da dona da Avon fraco, mas mantiveram a recomendação de compra para a ação e não mexeram, por enquanto, no preço-alvo. O Citi projeta R$ 53 e o BTG, mais otimista, crava R$ 70. Perto dos R$ 33 do pregão de hoje, é um longo caminho para os dois.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/11/12/analise-natura-e-magazine-luiza-perdem-juntas-quase-r-30-bi-de-valor-apos-resultados-fracos.ghtml

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