A empresa brasileira de cosméticos, Natura & Co, está pressionando as autoridades do governo, o setor privado e as comunidades para reforçarem a proteção ambiental na Amazônia, após os incêndios terem atingido seus fornecedores, disse o presidente da companhia à Reuters.
Prestes a se tornar o quarto maior grupo de beleza do mundo com a aquisição da empresa americana Avon Products Inc, a Natura está defendendo o desenvolvimento sustentável da Amazônia sem antagonizar o presidente Jair Bolsonaro, que pediu maior exploração econômica da vasta região. “Me parece que o novo governo tem criticas sobre os mecanismos de controle existentes, mas ainda não colocou em prática alternativas”, disse o CEO da Natura, João Paulo Ferreira, à Reuters.
Em agosto, os incêndios florestais atingiram seu maior número desde 2010. Esse retrocesso provocou protestos globais contra as políticas do governo em relação à maior floresta tropical do mundo, considerada fundamental para a luta contra as mudanças climáticas devido à quantidade de dióxido de carbono que absorve. A Natura, que fabrica muitos cosméticos usando ativos naturais da Amazônia, convocou reuniões para melhorar o diálogo entre funcionários do governo, ONGs e comunidades locais, já que o desmatamento na região amazônica do Brasil atingiu o maior nível em 11 anos este ano.
“A floresta amazônica é grande demais para um único ator ser capaz de promover mudanças”, disse Ferreira. Na semana passada, a Natura apoiou publicamente a ONG Projeto Saúde e Alegria, expressando preocupação com uma operação policial estadual contra a ONG, em meio a uma investigação sobre as causas dos incêndios florestais. A Natura também enfrenta desafios operacionais, uma vez que alguns de seus fornecedores na Amazônia, principalmente produtores de nozes, foram afetados pelos incêndios, segundo Ferreira. “Felizmente, conseguimos compensar a escassez usando nossa extensa rede de 4.500 famílias na região amazônica”, disse ele.
Os laços da Natura com a Amazônia começaram em 1999, quando a companhia começou a trabalhar com famílias locais para explorar a biodiversidade de maneira sustentável. A empresa tem parceria com 37 comunidades, que fornecem dezenas de ingredientes. “Somos parceiros há quase 20 anos e a Natura nos ajuda a fortalecer nossa cooperativa e melhorar a gestão”, disse Alexandro Queiroz dos Santos, que coordena um projeto chamado RECA, que fornece principalmente óleos e manteiga vegetais à Natura de 260 pequenas empresas agrícolas. Dois de seus produtores perderam plantações para os incêndios há alguns meses e também enfrentam pressão de empresas madeireiras e pecuaristas, disse Santos.
Desde 2011, a Natura investiu cerca de 1,5 bilhão de reais em várias atividades na Amazônia, contribuindo para a preservação de 1,8 milhão de hectares de floresta. Ferreira espera que a empresa continue impulsionando os investimentos na Amazonia à medida que a Natura expande com a aquisição da britânica The Body Shop em 2017 e da Avon Products Inc este ano. O executivo ressaltou à publicação que o grupo está a caminho de concluir a transação com a Avon até o final do primeiro trimestre, depois de ter sido aprovada pelo órgão antitruste do Brasil em 6 de novembro e pelos acionistas das duas empresas em 13 de novembro.
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