Gosto do brasileiro por banho e perfumar-se está sendo exportado e vai virar tendência, diz executiva
O gosto do brasileiro pelo banho e por se sentir cheiroso está sendo exportado para o mundo e vai virar tendência mundial. A afirmação é de Sue Nabi, CEO da Coty e considerada uma das executivas mais importantes do mercado mundial de produtos de beleza.
As exportações brasileiras de perfumes e cosméticos, de fato, deram um salto neste ano. Segundo dados do Ministério da Economia, compilados pelo Valor Data, o país exportou de janeiro a outubro US$ 787,5 milhões, com aumento de 24,8% em relação ao mesmo período de 2021. Em volume, as vendas cresceram 2,8%, para 126,4 mil toneladas.
A partir do Brasil, a Coty exporta produtos da marca de esmaltes Risqué para Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile. A empresa também é dona das marcas de produtos de higiene pessoal Monange, Bozzano e Paixão. E há dois anos, sob o comando de Nicholas Fischer, a operação brasileira da Coty começou a aumentar o portfólio de perfumes, vendendo fragrâncias de Gucci, Burberry e Chloé, produzidas sob licença pela multinacional.
“O Brasil é o mercado número um do mundo em consumo por unidades de fragrâncias”, diz Nabi. Em termos de valor, é o segundo maior mercado, perdendo só para os Estados Unidos e batendo Alemanha, França e Reino Unido.
No Brasil, 78% da população consome itens com fragrâncias, enquanto na Europa o percentual é de 50%, nos Estados Unidos em torno de 30% e na China não mais que 2%, observa a executiva. “Depois de um banho, o que todo mundo quer”, diz Nabi, “é se sentir cheiroso e que os outros sintam que estamos cheirosos”. No Brasil, ficar cheiroso faz parte da cultura.
Depois da pandemia, a executiva tem viajado constantemente pelo mundo. Antes do Brasil esteve na China e em Cingapura. Se os países tivessem cheiro, segundo seu treinado olfato, nosso país teria o odor de tangerina; Argélia, seu país natal, rescenderia a flor de laranjeira e França, flor de lis.
É uma opinião que deve ser considerada, já que ela foi a responsável pelo lançamento em 2012 de um dos perfumes mais vendidos no mundo, “La vie est belle”, da Lancôme. Julia Roberts foi o rosto que impulsionou a publicidade da marca.
Nabi saiu da Argélia, aos 17 anos, como Youssef e galgou postos na L’Oréal, a maior empresa de produtos de beleza do mundo, durante 20 anos, até ocupar o cargo de CEO da L’Oréal Paris em 2005. Nessa trajetória passou a se apresentar como Sue, uma das primeiras transexuais a chegar a este posto. Em 2014 fundou sua própria empresa a Orveda, uma marca de cosméticos vegana. Em seu currículo, conta ainda com a primazia de ter contratado Jane Fonda, então com 68 anos, para ser embaixadora das marcas da L’Oréal.
Em 2020, Nabi foi contratada pela Coty por um pacote de 3 milhões de euros anuais mais 30 milhões de ações. A Coty, então, incorporou a Orveda. A missão de Nabi não era nada fácil. Desde 2018 a Coty vinha perdendo receita e fechando o balanço no vermelho. A pandemia não ajudou, jogando as vendas para baixo em 2020 e 2021.
Mas no ano fiscal de 2022, encerrado em junho, a receita voltou a subir, para US$ 5,3 bilhões, com lucro líquido de US$ 267,7 milhões – com a fase aguda da pandemia para trás, as lojas reabriram, os consumidores voltaram a viajar e a Coty conseguiu lançar produtos a preços maiores. No primeiro trimestre fiscal, encerrado em setembro deste ano, a receita aumentou 1%, para US$ 1,39 bilhão, e o lucro ficou em US$ 125,3 milhões.
Ela explica sua ascensão na empresa como uma combinação entre trabalho duro e paixão pelo que faz. “Não importa a posição em que esteja, tento me superar em cada área que atuo”, diz. “Como cientista, engenheira e profissional de marketing, sempre procurei combinar meu conhecimento técnico com uma profunda paixão e entendimento da indústria de beleza”, diz Nabi, que se considera uma consumidora.
A Coty é uma das empresas do grupo JAB, controlado por uma das mais ricas famílias do mundo, a alemã Reimann, com negócios em diferentes áreas – produtos de limpeza, restaurante, pães e cafés, entre outros.
Globalmente, a Coty tem as licenças, entre outras, de grifes como Gucci, Burberry, Lancaster, Covergirl e Kylie Jenner, lançada no Brasil neste ano, focada na geração Z. Nabi está estudando lançar no Brasil a linha Lancaster, de cuidados de pele e proteção solar.
Nos três dias que passou no Brasil, país que já havia visitado como executiva da L’Oréal, Nabi conheceu o centro de pesquisas da Coty em Barueri (SP), onde são entrevistadas anualmente 20 mil pessoas, sobre hábitos de consumo de beleza – um banco de dados “inigualável”, segundo Nabi.
Sobre os cenários de recessão, apontados para 2023, Nabi diz que o setor de beleza tem sido resiliente. “Nos Estados Unidos”, aponta, “onde o mercado costuma ser estável ou de baixo crescimento, registramos aumento de 40% sobre os tempos pré-pandemia”.
“O ano que vem, que sendo apontado por economistas como uma recessão, será completamente diferente da crise de 2009 e 2010, provavelmente uma crise de superprodução. Em 2023 a economia vem de dois anos de restrições”, diz ela, referindo-se aos impactos da pandemia.
Nabi concorda com a expressão policrise para caracterizar o cenário econômico, “é isso que estamos vivendo nos últimos anos”, mas não é o caso da indústria de fragrâncias, que segundo ela, vem experimentando um boom, impulsionada pelas redes sociais. Ela diz que no Tik Tok “as conversas sobre perfume chegam a 9 bilhões de impressões”. E no Instagram, falar de perfume é igualmente popular.
O mercado de perfumes e cosméticos deve somar US$ 62,3 bilhões neste ano, segundo a empresa de pesquisa Statista. Até 2027, a expansão anual projetada é de 6,3%. (Colaborou Cynthia Malta).
Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/11/28/como-a-ceo-da-coty-enxerga-o-brasil.ghtml
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