Com 30 anos de atuação, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é uma das principais entidades privadas dedicadas à conservação da biodiversidade. A diretora executiva da fundação, Malu Nunes, tem quase o mesmo tempo de atuação no setor e diz que nunca viu o Brasil sofrer “tamanha pressão” para cuidar de seus ativos ambientais.
Para a especialista, a melhor forma de o País evitar sanções econômicas é pelo comprometimento real com o tema. “Às vezes a gente aprende pela dor: que essa crise e essa pressão toda nos faça refletir e tomar atitudes mais positivas em relação à biodiversidade.” Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
Como o trabalho da fundação tem uma relação com os negócios do grupo?
O modelo combina atuação externa com um trabalho interno, embora a governança seja separada. Fazemos o trabalho de ecoeficiência dentro da empresa. Todo o desenvolvimento de produto também olha a questão da biodiversidade, da água, do clima e dos impactos. A fundação se dedica às questões ambientais nacionais e globais.
Ou seja: negócio e fundação, com seu trabalho de preservação, estão de certa forma interligados.
Noto uma desconexão entre a dependência da conservação da biodiversidade e a responsabilidade que nós temos em conservar. O capital natural e os ecossistemas íntegros podem proporcionar uma economia forte para o País. Não temos, como sociedade, explorado bem essa relação. A gente vê conservação e desenvolvimento econômico como concorrentes. Enquanto for assim, teremos problemas e fragilidades, como as de agora.
O que a crise atual pode nos ensinar?
Precisamos nos posicionar (como País): vamos cumprir cláusulas do acordo Mercosul e União Europeia? Vamos cumprir o que o próprio presidente (Jair Bolsonaro) falou no pronunciamento, que a biodiversidade é importante? Às vezes a gente aprende pela dor: que essa crise nos faça refletir e tomar atitudes mais positivas. E com visão de longo prazo e estratégia de inserir a biodiversidade como elemento do PIB.
Mudou a posição do setor ambiental em relação ao País?
Estou há quase 30 anos (no setor) e eu não vi (pressão igual sobre o Brasil). Éramos cobrados para liderar, mas não no sentido negativo. Não é só esse acordo (UE-Mercosul) que está em jogo, é a reputação do País. Estamos sendo cobrados porque não cuidamos do nosso patrimônio.
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