Grupo Pão de Açúcar e Carrefour, por exemplo, citaram, em seus relatórios referentes ao terceiro trimestre, a evolução dos preços e a perda de poder de compra do consumidor

O impacto no volume de vendas por causa da inflação identificado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também tem sido percebido no dia a dia de grandes redes varejistas de diferentes segmentos. Entre os supermercados, o Grupo Pão de Açúcar e o Carrefour citaram, em seus relatórios referentes ao terceiro trimestre, a evolução dos preços e a perda de poder de compra do consumidor. A Via – que reúne as marcas Casas Bahia e Ponto, entre outras – também reconhece o maior comprometimento de renda da população. No setor de vestuário, há quem acredite em conquista de clientes em busca de produtos mais em conta, como as Lojas Marisa, embora a Renner veja em um efeito menor da pressão inflacionária em suas vendas.

Em seu relatório para o período de julho a setembro de 2021, o Carrefour mencionou “um ambiente extremamente volátil e com deterioração do poder de compra dos consumidores”. O texto cita que a inflação alimentar dos últimos 12 meses “continuou persistentemente elevada, em 14,7% em setembro, de acordo com dados do IBGE”. “A elevada inflação alimentar que o mercado vem enfrentando desde o ano passado continuou no terceiro trimestre de 2021”, afirmou.

Segundo a rede varejista, “a elasticidade dos consumidores ao preço diminuiu, especialmente nos produtos básicos”. Para contornar este cenário, o Carrefour continua investindo no seu conhecimento do mercado, no poder de compra da rede e nas iniciativas promocionais para manter competitividade.

O Grupo Pão de Açúcar, por exemplo, atribuiu à retomada das promoções e ao reposicionamento de preço regular a redução na margem de lucro no terceiro trimestre. A estratégia foi adotada, segundo a empresa, “para mitigar os efeitos da forte inflação alimentar, o alto nível de desemprego e a maior concorrência com cash and carry [o atacarejo]”. Em outro momento, o relatório de resultados cita que foi feito “um maior investimento em preço na operação brasileira” por causa da deterioração do cenário macroeconômico com alto nível de inflação e desemprego.

Em setembro, as vendas de hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, caíram 1,5% em volume, mas tiveram variação de 0,1% em receita, segundo os dados do IBGE. A diferença sugere o efeito da inflação. Os consumidores gastaram o mesmo montante de recursos, mas só foi possível garantir uma quantidade menor de produtos, já que as mercadorias subiram de preço.

A percepção sobre as restrições da renda também é percebida no segmento de eletrodomésticos. “De fato, o comprometimento de renda do consumidor é uma realidade”, disse o presidente da Via, antiga Via Varejo, Roberto Fulcherberger, em teleconferência ontem. Apesar do reconhecimento da menor renda, ele aproveitou para lembrar aos analistas que a empresa oferece opção de crediário “que consegue endereçar exatamente o tamanho da prestação que cabe no bolso do consumidor, de maneira segura, com baixíssimo nível de inadimplência”.

No setor de vestuário, há diferentes leituras para o efeito da inflação nas vendas. O presidente das Lojas Marisa, Marcelo Pimentel, disse na teleconferência de resultados que a inflação e o desemprego elevados fazem o consumidor buscar produtos mais em conta, como os da rede. Assim, houve recuperação de vendas no terceiro trimestre: a receita líquida consolidada subiu mais de 20% frente ao trimestre anterior e a empresa reverteu prejuízos de 2019 e de 2020. Segundo o executivo, a recuperação é mais forte nas regiões Norte e Nordeste e nas lojas de shopping centers. As lojas de rua em centros urbanos ainda sofrem impacto do trabalho remoto, que mantém o consumidor em casa.

Já para o presidente da Renner, Fabio Faccio, o setor de vestuário tende a ser menos afetado pela pressão inflacionária neste momento do que o varejo de bens duráveis de preço mais alto, como eletrônicos. “Temos produtos com tíquete menor, é uma compra que o consumidor pode fazer como uma indulgência, para se presentear”, disse.

Além disso, ele acredita que o avanço da vacinação, com mais circulação de pessoas, retomada de eventos e do trabalho presencial, coloca em evidência a demanda por roupas, que ficou reprimida durante as medidas de isolamento social. Faccio lembra ainda que, diferentemente do varejo de alimentos, que experimentou picos de vendas no auge da pandemia e agora sofre desaceleração, as empresas de vestuário foram muito impactadas pelo fechamento de lojas em 2020. Agora, com a reabertura, o setor passa por momento de recuperação.

De julho a setembro, a receita da Renner com venda de mercadorias cresceu 43,5% em relação ao mesmo período do ano passado e 22,7% sobre igual intervalo em 2019, quando não havia covid-19. Pelo critério “mesmas lojas”, que compara o desempenho de unidades abertas há pelo menos um ano, o crescimento foi de 39,5%.

Fonte: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/11/12/grandes-varejistas-sentem-impacto-da-renda-menor.ghtml

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