Multinacional busca parceiros com propostas sustentáveis
Há sete anos, a francesa Maya Colombani, diretora de sustentabilidade da L’Oréal Brasil e sua equipe têm se dedicado a encontrar meios de reduzir o impacto das emissões de poluentes no transporte dos produtos de beleza que a multinacional fabrica no país. O trabalho ganhou impulso há um ano, quando surgiu a ideia de estimular as empresas de transporte a usar veículos que possam ser abastecidos com biometano.
O biometano é um biocombustível que resulta do processamento do biogás, obtido a partir de resíduos orgânicos da agricultura, como o bagaço da cana de açúcar, cascas de laranja e ovos, ou resíduos de aterros sanitário.
Há exatamente um ano, a Scania iniciou as vendas de sua nova linha de caminhões movidos a gás natural ou biometano, resultado, em grande parte, do plano de investimento de R$ 2,6 bilhões, para o período de 2016 a 2020. Segundo a montadora, o Brasil tem potencial de produzir biometano para substituir 44% do óleo diesel ou cerca de 70% do gás natural consumido no país.
O início das entregas estava previsto para março. Mas a pandemia mudou os planos. A produção foi suspensa e a fábrica, em São Bernardo do Campo (SP), ficou fechada até 27 de abril.
A pandemia ajudou, no entanto, a amadurecer conversas, parcerias e descobertas. Rodrigo Navarro, da RN Express, uma das transportadoras dos produtos da L’Oréal, percebeu que o acesso ao Rio de Janeiro, pela Via Dutra, oferece uma das melhores bases de abastecimento de biometano, graças à produção desse biocombustível a partir de um aterro.
Navarro concluiu que a localização era estratégica para o combustível que oferece 90% de redução nas emissões de dióxido de carbono ser testado no transporte entre a fábrica da L’Oréal, em Jaraguá (SP), e seu centro de distribuição, localizado no Rio. “Saio de São Paulo com GNV e volto com Biometano”, destaca Navarro.
O projeto-piloto nessa rota ajuda no plano de logística verde idealizado por Colombani. A executiva tratou, no entanto, de verificar, ao mesmo tempo, se o aterro oferecia qualidade ambiental e também social. “Valorizamos o parceiro que nos traz propostas sustentáveis”, destaca a executiva.
Encantada com a possibilidade de transformar lixo em energia, a executiva afirma que a empresa estuda, agora, outras formas de usar esse tipo de biocombustível.
O trabalho para alcançar um transporte mais sustentável é longo. A L’Oréal opera hoje com 28 transportadoras. Dois caminhões que podem usar biometano já estão sendo usados e outros três estão a caminho. “Temos que reinventar o transporte”, afirma Colombani.
Mas enquanto as iniciativas do poder público não vêm a iniciativa privada junta forças para buscar seus próprios caminhos.
A companhia francesa analisa, também, formas de expandir o abastecimento do biometano. Segundo o gerente de transportes da L’Oréal, Renan Loureiro, uma das alternativas é criar postos de abastecimento dentro das próprias transportadoras.
Para Navarro, da RN, o óleo diesel está com os dias contados. Mas ainda vai demorar. Mesmo assim, seu plano é, daqui a cinco anos, transformar sua empresa numa das transportadoras mais sustentáveis do país. “Tentamos oferecer um diferencial num segmento bastante competitivo”.
O empresário não imaginava que a busca por novos combustíveis tomaria esse rumo quando em 1996 ele e a esposa decidiram fundar uma transportadora a partir de um único caminhão.
Com uma frota de 150 veículos próprios e mais 200 terceirizados, hoje essa transportadora de Guarulhos (SP) atende, principalmente, multinacionais. São justamente as que mais inspiram Navarro a investir em sustentabilidade. Hoje, até caminhão elétrico para uso urbano ele tem na frota.
Deixe um comentário