O grupo francês L’Oréal vai impor à sua frota de caminhões contratada no Brasil a substituição gradual de diesel e GNV por biometano, um combustível limpo.
Foi assinado um primeiro contrato com a fornecedora Gás Verde, do Grupo Urca, envolvendo 3,6 milhões de metros cúbicos de biometano para a frota dedicada que faz os percursos entre a fábrica da L’Oreal em Vila Jaguará, São Paulo, e o centro de distribuição localizado no município de Jarinu (SP).
A Gás Verde é dona de usinas que ficam dentro de aterros sanitários e purificam o biogás gerado a partir do lixo.
Até março de 2024, o biometano servirá a todos os 11 caminhões com motor Scania de fábrica ou transformados, que realizam entre 800 e 1 mil viagens por mês.
Os caminhões não são propriedade da L’Oréal, e sim contratados. Além da exigência futura de veículos híbridos, a L’Oréal também vai impor às transportadoras uma cota de motoristas mulheres, a fim de cumprir de uma só vez as metas de descarbonização e diversidade do grupo.
O abastecimento vai acontecer em um posto instalado pela L’Oréal no condomínio em que a fábrica está instalada, podendo ser acessado também por outras empresas que atuam no local ou transportadoras que usam a rodovia Dom Pedro como rota. É esse o principal investimento feito pela companhia, cujo montante não foi revelado.
Em uma segunda etapa do projeto, serão incluídos os caminhões que distribuem os produtos L’Oréal para o Estado de São Paulo, sul de Minas Gerais e norte do Paraná e Santa Catarina.
“Até o fim de 2024, o plano é atender ao menos o estado de São Paulo com 30 caminhões a biometano. Já mapeamos cinco transportadoras com veículos habilitados ao combustível”, disse ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) o diretor de Operações da L’Oréal Brasil, Jeferson Fernandes.
Somente em São Paulo o número de viagens a pontos de venda fica entre 3 mil e 4 mil por mês. “Depois, para 2025 e 2026, vamos levar o projeto para caminhões que entregam em todo o Brasil, em linha com os planos de expansão (do fornecimento) da Gás Verde”, completou.
Hoje, no Brasil, o grupo francês distribui 97% de seus produtos pelo modal rodoviário e o restante via rios. “Isso vale para todo o País, inclusive o Norte. Acaba sendo mais trabalhoso e complexo, mas o transporte aéreo polui mais e vai contra as metas de descarbonização”, diz Fernandes.
Meta
O grupo tem como meta no mundo reduzir em 50% as emissões de gases do efeito estufa até 2030, o que a subsidiária brasileira pretende alcançar até 2027, diz Fernandes. A crescente exigência do uso de biometano busca mitigar as chamadas emissões de escopo 3, aquelas pelas quais a empresa é indiretamente responsável, caso da poluição atmosférica dos serviços terceirizados. O escopo 1 envolve emissões diretas de uma empresa e, o escopo 2, as ligadas à geração da energia por ela consumida.
Em 2022, a L’Oréal Brasil chegou ao carbono neutro em todas as unidades locais, o que se aplica à fábrica, sede administrativa, centro de pesquisa e inovação, além do centro de distribuição. O escopo 3 é o próximo passo.
“Esse é um esforço para ir além da porta da fábrica”, resume Fernandes. A L’Oréal estima que a troca de combustíveis vai reduzir em 94% a pegada de carbono e metano de cada caminhão contratado, ou o equivalente à fixação de 135 árvores por mês.
Hoje um dos limitadores à aceleração do projeto é a falta de caminhões que aceitam biometano no mercado. Haveria longa fila de espera por caminhões com motor híbrido, mas os executivos envolvidos esperam que a oferta se regularize nos próximos anos.
“Não adianta ter muito posto de biometano e não ter veículo. A expansão do combustível só vai acontecer com esse tipo de política. Além de orientar a demanda, a L’Oréal está construindo o primeiro posto de biometano para veículos pesados do País”, diz o presidente da Gás Verde, Marcel Jorand. Já existem postos do tipo para o abastecimento de veículos leves.
Gás Verde e Biometano
As primeiras cargas de biometano para o transporte da L’Oréal sairão da usina da Gás Verde que fica dentro do Aterro Sanitário de Seropédica (RJ), o maior da América Latina. Nos próximos anos, essa origem deve se diversificar em linha com a expansão da empresa do grupo Urca.
A carteira de clientes da Gás Verde, que agora recebe a L’Oréal e suas transportadoras, já conta com a fabricante de aço Ternium, de bebidas Ambev, e de materiais de construção Saint Gobain, que usam o insumo em seus fornos.
Está nos planos da Gás Verde a incorporação de duas usinas de biometano nas cidades de Nova Iguaçu e São Gonçalo, ambas no Rio. Além disso, no início de junho, a empresa comprou a portuguesa ENC Energy com suas oito térmicas a biogás, agora em fase de conversão para unidades de biometano até 2026 a um investimento de R$ 600 milhões. Com isso, a empresa vai reforçar presença nos mercados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Maranhão. Em três anos, Jorand estima que a empresa poderá fornecer 650 mil m3 de biometano por dia ao universo de clientes.
Processo
De forma resumida, o lixo é colocado no aterro sanitário e achatado em camadas de argila. A decomposição do resíduo gera o chorume (líquido) e o biogás, recolhidos separadamente por tubulações com uma extensão de 70 quilômetros.
Em seguida, o gás é purificado, com a retirada do C02, e comprimido a 220 bares para o transporte em carretas de gás natural comprimido. Cada carreta leva cerca de 6 mil metros cúbicos por viagem, carga que é descomprimida em terminais como o posto da L’Oréal.
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