É a primeira operação no mercado de dívida internacional de uma empresa brasileira desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia
A Natura concluiu a captação de US$ 600 milhões por meio da emissão de um bônus de sete anos, na primeira operação no mercado de dívida internacional de uma empresa brasileira desde o início do conflito entre Rússia e Ucrânia. Na operação, a empresa pagou yield (taxa de retorno) de 6,125%.
Para profissionais desse mercado, as boas condições da emissão da Natura devem estimular outras companhias que estão preparadas para acessar o mercado internacional de dívida, mas que vinham aguardando um bom momento para concretizar a operação. Segundo fontes, esse pode ser o caso de grandes emissores, como Itaú, Vale e JBS, que ainda não fizeram captações este ano. Estima-se que entre 10 e 15 companhias brasileiras estejam “na fila” para fazer captações internacionais.
O objetivo inicial da companhia era captar US$ 500 milhões, mas a forte demanda pelo papel permitiu que o volume fosse ampliado, segundo fonte próxima à operação. Segundo esses interlocutores, o book atingiu US$ 2,5 bilhões. “Houve ordens de muita qualidade, acima de US$ 100 milhões, o que demonstra que o investidor está líquido e aberto a negócios de qualidade”, afirma a fonte.
Outra medida que expressa a disposição do investidor em comprar o papel foi o chamado “new issue premium”, que é a diferença do retorno pago na emissão em relação à taxa praticada no mercado secundário. Esse prêmio ficou em 0,30 ponto, considerado baixo para uma companhia com rating ‘BB’. Para se ter uma ideia, emissores de mercados investment grade que acessaram o mercado internacional nos últimos dias pagaram prêmios próximos a 0,15 pontos.
A operação, concluída nesta quarta-feira, é uma demonstração de que parte dos recursos que antes eram destinados a emissores russos ou de outros países da região está migrando para os mercados da América Latina, inclusive o Brasil. “Estamos pegando esse pedaço da pizza, agora vamos viver esse rebalanceamento das carteiras globais”, define uma fonte.
Mas a emissão da Natura também confirma outra percepção: os preços do mercado de dívida global ficaram mais altos por causa da correção pela qual passou a curva de juros americana. “O investidor está interessado em comprar papéis de empresas de qualidade, a preços que sejam coerentes com o cenário de juros mais altos”, afirma. “Existe liquidez, mas para ativos que atendam a essas condições.”
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