A brasileira Natura & Co está prestes a se tornar a quarta maior empresa de cosméticos do mundo, com o desafio de “conciliar progresso econômico e proteção do meio ambiente” em um país vítima do desmatamento, como afirma seu CEO, João Paulo Ferreira.

O diretor executivo acredita que uma das principais razões para o sucesso da Natura é a grande riqueza da biodiversidade no Brasil, especialmente na Amazônia, onde o grupo estabeleceu alianças com comunidades locais para extrair essências naturais.

“A Amazônia é uma patrimônio mundial. Temos sorte de ter acesso, porque grande parte dessa floresta está no Brasil”, diz o CEO, que recebeu a AFP na sede do grupo, perto de São Paulo, capital econômica do país. A Natura “tem mostrado que é possível conciliar progresso econômico e proteção ambiental”, afirma João Paulo Ferreira.
 
Declarações nada triviais em meio à controvérsia sobre a política ambiental do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro. Este famoso cético das mudanças climáticas causou muita controvérsia devido à sua intenção de promover a expansão das atividades de agronegócio e mineração na Amazônia, onde o desmatamento e os incêndios aumentaram bastante nos últimos meses.

“Esperamos que, quando esse momento de polarização passar, conseguiremos promover o diálogo” entre o governo, os proprietários de terras, as comunidades tradicionais e as ONGs, acrescenta João Paulo Ferreira.

“Dilema permanente”
 
O diretor da Natura estima que as atividades da empresa tenham protegido 1,8 milhão de hectares na Amazônia, “quase metade da Holanda”. Como exemplo, a ucuba, fruto de uma árvore amazônica conhecida como noz-moscada macho (Virola surinamensis), encontrada na composição de muitos dos produtos do grupo. Segundo ele, a colheita deste fruto triplicou a renda das comunidades locais sem a necessidade de cortar árvores. “Isso mostra que é possível criar riqueza mantendo a floresta em pé”, insistiu.
 
Para Paulo Branco, pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), “a Natura enfrenta um dilema permanente: como manter uma lógica de crescimento consistente, respeitando os ecossistemas e comunidades locais?”. Ele considera a Natura uma “empresa pioneira” no Brasil. O fundador da Natura, Luis Seabra, abriu sua primeira loja em 1969 e o grupo cresceu com um modelo de venda direta. Luis Seabra se tornou um dos homens mais ricos do Brasil e a Natura & Co se estabeleceu em 73 países, com 32.000 funcionários, 6600 deles no Brasil.

Expansão internacional
 
Em 2018, o grupo registrou um faturamento de 13,4 bilhões de reais, um aumento de 35% em relação ao ano anterior. No entanto, o lucro líquido caiu 18%, para 584,4 milhões de reais, principalmente devido à absorção da dívida da britânica The Body Shop, adquirida em 2017. Em maio deste ano, a Natura também adquiriu outra marca icônica, a americana Avon.
 
Quando essa transação for aprovada pelos acionistas de ambos os grupos e pelas autoridades da concorrência, a Natura & Co se tornará a quarto maior empresa de cosméticos do mundo, atrás apenas do grupo francês L’Oréal, da americana Procter & Gamble e da anglo-holandesa Unilever.
 
Uma expansão aplaudida pelos investidores da Bolsa de Valores de São Paulo: o preço das ações do grupo brasileiro dobrou em um ano. “Dez anos atrás, 95% de nossos negócios estavam no Brasil. Mas, durante a última década, experimentamos um forte crescimento na América Latina e um terço de nossas atividades estão fora do Brasil”, afirma o CEO.

Fonte: https://br.fashionnetwork.com/news/Natura-co-quer-se-tornar-um-gigante-verde,1154428.html

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