Prejuízo no quarto trimestre supera projeções e alavancagem sobe
A Natura frustrou as projeções de mercado mais uma vez e deve ficar ainda mais pressionada para efetivar a venda de fatia ou totalidade da Aesop no curto prazo.
A companhia divulgou ontem à noite um prejuízo relevante num trimestre em que a maioria dos analistas esperava algum lucro e, ainda que o aumento de despesa financeira seja tônica comum nos balanços, na Natura se soma ao desafio de revitalizar as operações da Avon no exterior e The Body Shop.
O grupo de cosmético e beleza fechou o quarto trimestre com Ebitda de R$ 1,1 bilhão e prejuízo de R$ 890 milhões, impactado por um impairment não caixa de R$ 383 milhões nessas duas operações em reestruturação, despesas financeiras maiores e perda de operações descontinuadas. A receita líquida no trimestre foi de R$ 10,4 bilhões.
O Itaú BBA esperava uma receita de R$ 11,02 bilhões, com Ebitda ajustado de R$ 1,24 bilhão e lucro de R$ 198 milhões no trimestre. O Santander, que estava mais pessimista que a média com o desempenho, projetava um prejuízo bem menos profundo de R$ 211 milhões (mesmo descontando o efeito não caixa do resultado, a perda fica em R$ 507 milhões), e um Ebitda de R$ 1,12 bilhão, este em linha com o que foi entregue.
No ano, o prejuízo da Natura somou R$ 2,86 bilhões, resultado final dos R$ 36,4 bilhões em vendas. O BTG Pactual projetava menos da metade dessa perda (R$ 1,35 bilhão), com vendas de R$ 37,4 bilhões em 2022.
Com a queda de Ebitda, a alavancagem dobrou na comparação anual, passando de 1,52x para 3,49x, com a dívida líquida a R$ 7,4 bilhões. Em Natura Cosméticos, especificamente, a alavancagem líquida foi de 0,9x para 1,25x. Como a companhia quitou uma emissão de debêntures de Natura Cosméticos em dezembro, ficou sem covenants financeiros – o que elimina o risco de vencimentos antecipados.
A companhia destacou que houve melhora no fluxo de caixa livre, que contabilizou saída de R$ 1,68 bilhão no ano passado, em comparação à saída de R$ 2,36 bilhões em 2021.
O CEO do grupo, Fábio Barbosa, disse que “ações estruturais para criar valor de forma sustentável para nossos acionistas estão em andamento em todas as nossas marcas”. Destacou a integração da Natura e da Avon na América Latina, a redução de estrutura de custos da Avon International, que está deixando os mercados menos lucrativos, e o redimensionamento do negócio da The Body Shop.
Mas o principal gatilho são as “opções estratégicas” para Aesop. A estimativa otimista do mercado é uma avaliação de US$ 2 bilhões para a companhia e a expectativa é de venda integral do negócio ainda neste semestre. Havia a possibilidade inicial de um IPO, mas com a mudança de contexto macro global, a companhia vem apostando em M&A.
“Estamos confiantes de que as ações que estamos realizando posicionarão a Natura &Co para focar não apenas em rentabilidade e caixa, mas também para voltar a crescer”, disse Barbosa, em nota no balanço. “Embora esperemos que 2023 seja mais um ano desafiador, nosso foco na geração de caixa e na melhoraria da estrutura de capital da companhia nos permitirão investir em nossas prioridades, construindo o caminho para desbloquear valor significativo.”
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