É possível conciliar desenvolvimento econômico com progresso social e ambiental, por meio do fomento de negócios ligados à bioeconomia. Essa foi a conclusão do painel promovido pela Natura, em 16 de setembro, em celebração ao Mês da Amazônia. O debate transmitido online, para convidados, abordou temáticas importantes para o futuro da floresta.
Durante o evento, alguns números alarmantes foram abordados, como o desmatamento de 8.300 quilômetros quadrados do bioma amazônico; a perda de 15% da superfície de água brasileira nas últimas décadas; e o não-faturamento de, pelo menos, US$ 2 bilhões pelo Brasil por ignorar investimento em produtos compatíveis com a floresta.
Salo Coslovsky, professor associado na New York University e integrante do projeto Amazônia 2030, iniciou o diálogo com um panorama da diversidade local sobre o uso de diferentes áreas da floresta. E o que mais chamou a atenção foi um estudo que apontou que uma série de produtos além das commodities tradicionais (como ferro, soja, carne, celulose) podem ter maior participação no mercado global. Segundo os dados, há 950 insumos que já estão sendo produzidos na região, dos quais 65 são compatíveis com a floresta, e já contam com um mercado promissor.
“Eles têm um mercado potencial de quase US$ 180 bilhões no mundo, mas o Brasil captura apenas 0,2% dele. O aprimoramento e a expansão dessa produção são oportunidades que a gente tem para promover desenvolvimento sem devastar a floresta”, apontou. Segundo Salo, a participação do Brasil no mercado global é de 1,3%, e, se os produtos compatíveis com a floresta tivessem essa mesma participação, a receita dessa atividade seria de US$ 2 bilhões. “Esse é o valor que a gente está deixando na mesa ao não prestar atenção nesse tipo de atividade”, lamentou.
Já o engenheiro florestal e coordenador do MapBiomas, Tasso Azevedo, levantou o debate do desmatamento ilegal com outros números importantes. “Cerca de 35% do desmatamento aconteceu dentro de áreas destinadas à conservação em propriedades privadas, sem autorização”, apontou, chamando a atenção para a necessidade de responsabilização, governança e ações imediatas nas áreas que estão sendo desmatadas.
Tasso ainda falou sobre a grave crise hídrica que assola o País e revelou os resultados de um estudo que analisou os dados de superfície de água desde 1985 até 2020. “Em geral, já perdemos 15% de água, e isso é uma enormidade para um país que tem a maior quantidade de água doce disponível para sua população”, explicou. E o problema está correlacionado ao desmatamento, já que um terço da chuva no Brasil vem da Amazônia.
Ações efetivas
Mirando nas soluções e nos caminhos para elas, uma das boas notícias do painel foi o lançamento da plataforma PlenaMata, uma parceria entre Natura, MapBiomas, InfoAmazonia e Hacklab. A ferramenta permite o monitoramento do desmatamento em tempo real, e disponibiliza um contador de árvores que mostra a quantidade de perdas por minuto, além de conteúdos informativos.
“PlenaMata vem para traduzir a realidade, mobilizar as pessoas, trazer informações agregadas ao conhecimento, bem como soluções e notícias que visam mostrar que existem possibilidades de conservação e regeneração como alternativas”, contou a diretora de Sustentabilidade de Natura &Co para a América Latina, Denise Hills.
É fundamental entender que é possível combinar o conhecimento tradicional das comunidades locais com inovação, conciliar a vocação dos bioativos da região com a ciência e transformar a atividade ambiental e a atividade econômica com impacto positivo para todos os lados.
A coordenadora no Instituto SINCHI de pesquisa científica da Amazônia Colombiana, Maria Soledad Hernandez, contou que a Colômbia vem conseguindo enxergar essas oportunidades e tirar o melhor proveito. “Parcerias como a que temos com a Natura nos deram uma nova perspectiva. O reconhecimento da nossa biodiversidade e do grande potencial que existe nesse exercício foi muito importante. Estamos trabalhando nisso há seis anos, e a projeção de longo prazo para o aproveitamento desses ativos que podem oferecer uma mudança, um conhecimento e a tecnologia são uma oportunidade para as comunidades”, ressaltou.
Mulheres valorizadas
Mais do que o encontro entre os conhecimentos tradicionais com os científicos e a preservação do modo de vida das comunidades locais, fortalecendo suas identidades, a Natura busca a valorização, principalmente, da mulher.
Por meio de uma parceria que já dura seis anos com a Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas da Ilha das Cinzas (Ataic), é possível ter uma relação direta com as comunidades que fazem parte da cadeia. Entre as mais de 300 famílias que participam desse processo, 60% são mulheres”, ressaltou Joaquina. “Conseguimos proporcionar às produtoras todo o acompanhamento e assistência, orientando como melhorar a produção, ter estimativas de custo e renda adequada”.
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