Estrutura da holding deve ficar mais enxuta e dirigentes das marcas do grupo terão mais autonomia
O executivo Fábio Barbosa é o novo presidente global da Natura & Co. A chegada de Barbosa, que já fazia parte do conselho de administração da gigante brasileira de cosméticos, será para promover uma ampla reestruturação, com a simplificação da estrutura da holding, reposicionamento das marcas Aesop, Avon, Natura e The Body Shop e também para melhorar as margens e resultados do grupo.
Barbosa foi convidado, há poucos meses, pelos cofundadores da Natura – Guilherme Leal, Luiz Seabra e Pedro Passos – para conduzir as mudanças. Roberto Marques, que comandava o grupo desde 2017 e também tinha o cargo de presidente executivo do conselho de administração da empresa, ficará na companhia como membro do colegiado até dezembro e ajudará Barbosa nessa transição.
Os acionistas entendem que Barbosa, que é sócio da Gávea Investimentos e conselheiro da Ambev e Itaú Unibanco, tem o melhor perfil para conduzir as mudanças. Tem ampla experiência no mercado financeiro – foi presidente do Santander e esteve à frente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Também foi executivo do grupo Abril e da Nestlé.
A decisão de trocar Marques por Barbosa, que não planejava mais voltar a cargos de direção, foi tomada em um contexto de maior pressão de investidores por mudanças na companhia, apurou o Valor.
Fundos com posição na Natura estavam incomodados com decisões da gestão e do conselho, dentre elas, sobre remuneração e cargos. Segundo as pessoas ouvidas, a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, mostrou insatisfação já na assembleia de acionistas, em abril, em que criticou a proposta da administração de acúmulo de funções de Marques, CEO global e indicado a presidente executivo do conselho de administração. Na mesma assembleia, a gestora Dynamo, a maior acionista da Natura, depois dos três sócios-fundadores, votou contra a proposta de aumento de remuneração da diretoria.
Procurada pelo Valor, a Natura respondeu: “Estamos em constante diálogo com nossos acionistas e observamos as melhores práticas de mercado. Anunciamos nesta semana a separação das funções de presidente-executivo do Conselho e principal executivo do Grupo.”
A troca de comando, com objetivo de cortar despesas e melhorar receita e lucro, ocorre quase dois meses depois da companhia ter se reunido com analistas de bancos para falar do primeiro trimestre, em meados de abril, antes do balanço ser divulgado. Diante da má repercussão, com ações desabando na bolsa e questionamentos por parte da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e de acionistas minoritários, a Natura acabou publicando em 22 de abril uma prévia do balanço que seria divulgado em 5 de maio. A receita no trimestre caiu quase 13% – a empresa havia perdido força de vendas, em especial no Brasil – e a última linha do balanço ficou no vermelho.
Na quarta-feira, o mercado reagiu bem à troca de comando. As ações fecharam a R$ 15,12, com alta de 8,08%. No ano, contudo, a queda é de 40,1% e, em 12 meses, de 74,1%, segundo o Valor Data.
O grupo já tinha anunciado a troca do diretor de relação com os investidores nas últimas semanas.
Entre as estratégias que serão colocadas em prática está a descentralização das quatro marcas – Avon, Aesop, The Body Shop e Natura (com Avon) na América Latina. Essas áreas, que estão subordinadas ao corpo executivo da holding, vão ganhar mais autonomia. “Os dirigentes das marcas vão ter maior independência para discutir as estratégias de suas áres. É o que eu chamo de autonomia com responsabilidade”, diz Barbosa. “A ideia é que o grupo mantenha o foco nos mercados existentes para que possa recuperar as margens, que estão caindo nos últimos anos, e ver o que cada uma das marcas precisa fazer para que a companhia recupere a rentabilidade.”
As mudanças ficarão a cargo de um comitê de transição, chefiado por Barbosa, e devem ser finalizadas antes do fim do ano.
O modelo de trabalho descentralizado é uma aposta da Natura &Co para reverter o movimento de queda acentuada das ações e resultados financeiros aquém das expectativas dos analistas financeiros. “A empresa passou por pelo menos dois ou três grandes problemas mundiais como a pandemia da covid-19, a guerra entre Rússia e Ucrânia e cibersegurança”, disse Barbosa. “Há de se reconhecer, contudo, que a empresa tem ajustes a serem levados adiante, além das questões macro, em busca de um novo ciclo”, disse.
A reestruturação e a melhoria de resultados não são um trabalho para o curto prazo. Os cofundadores entendem que a reorganização vai levar um tempo. (Com Felipe Laurence e Cristiana Euclydes)
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