A projeção de faturar entre R$ 47 bilhões de R$ 49 bilhões em 2023 é adiada para 2024
Depois de um primeiro trimestre de queda de receita e aumento do prejuízo, a fabricante de produtos de beleza Natura &Co diz que o ambiente de inflação e juros altos desafia os negócios no mundo todo e prevê que algum alívio começará a ser sentido somente a partir do segundo semestre. Seu comando adiou projeções de receita e de redução de endividamento de 2023 para 2024. Será preciso conter ainda mais custos, mudar o portfólio e aumentar preços onde há espaço para tal, disse o presidente global da empresa, Roberto Marques, ao Valor.
A inflação persistente tem exigido um remédio amargo dos bancos centrais: aumento de juros. Assim, diz ele, é possível imaginar inflação um pouco menor nos mercados até o fim do ano, mas não sem impacto. “Os juros altos têm como custo a queda da demanda. Por isso reiteramos a margem, mas adiamos a receita.” A projeção é de margem Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 14% a 16% para 2023. Mas a receita de R$ 47 bilhões a R$ 49 bilhões, projetada para 2023, foi adiada para 2024.
No primeiro trimestre, o prejuízo líquido da Natura cresceu 314%, para R$ 643 milhões, e a receita caiu 12,7%, para R$ 8,3 bilhões. O Ebitda ficou 37,8% menor, a R$ 515,7 milhões, com margem de 6,2%, 2,6 pontos percentuais abaixo do ano anterior. Os juros altos aumentaram as despesas financeiras. Por isso a importância da emissão dos bonds de US$ 600 milhões para 2029. “Não somente alongou o perfil da nossa dívida, como conseguimos fazer isso numa taxa de juros menor.”
Marques diz que seu otimismo em relação ao segundo semestre deve-se a indicadores internos. Natura cresceu 3,2% no Brasil e 8% em moeda constante nos países hispânicos. Este crescimento resultado do ajuste do portfólio para se adaptar ao comportamento do consumidor, que buscou produtos mais baratos. “A gente demorou um pouco para acertar, até por conta de ciclo de campanha. Mas ajustamos e o resultado está aí”.
Para a Avon, ele diz haver otimismo, mesmo com queda de 17% nas vendas do Brasil. A estratégia é diminuir a participação produtos de moda no portfólio. A área de cosméticos já está se recuperando. Mas falta força de vendas. “Os indicadores de modelo comercial estão bastante melhores. A produtividade das revendedoras está melhorando. Mas por que não se reflete no lucro? Porque ainda tem defasagem: o número de representantes está abaixo do ano passado”, diz o executivo.
As ações da Natura acumulam queda de mais de 35% neste ano. A retração mais acentuada, de 15,5%, começou em 20 de abril, após reportagens trazerem estimativas do balanço do primeiro trimestre com base em relatórios de analistas de mercado. No dia seguinte, a Natura &Co publicou fato relevante com projeções do balanço, afirmando que “manteve reuniões com analistas de mercado, visando prestar esclarecimentos e informações de forma a auxiliar tais analistas a entender os negócios e as perspectivas”. Questionado, Marques disse: “Não temos conhecimento de vazamento de informações”. E que, ao ver as publicações sobre como viria o resultado, a empresa optou por divulgar um fato relevante para “dar informações corretas e para todo mercado”.
A Natura está sendo negociada na bolsa abaixo do valor que seu comando entende como justo, mas o programa de recompra de ações não será intensificado, disse Marques.
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