O conglomerado de beleza francês L’Oréal tem a meta de duplicar o faturamento das operações brasileiras até 2027. Para isso, o grupo tem como prioridade crescer de forma orgânica nos segmentos de cabelo e pele, além de fortalecer as vendas digitais, que já representam 20% do faturamento no país.
Ao mesmo tempo, o avanço no mercado por meio de fusões e aquisições continua no radar da companhia. Das 37 marcas do grupo, só três são originais: L’Oréal Profissional, L’Oréal Paris e Kerastase. Todo o restante foi por M&A.
Em abril do ano passado, a companhia assinou um acordo com a Natura&Co para aquisição da marca australiana de luxo Aesop. A transação foi avaliada em US$ 2,53 bilhões, uma das maiores da história do grupo francês.
Mais recentemente, em agosto, o grupo comprou uma participação de 10% na empresa suíça de cuidados com a pele Galderma, avaliada em US$ 1,85 bilhão, aumentando sua exposição ao mercado de injeções estéticas.
“Sabemos quais são as marcas que poderiam ser interessantes para o nosso portfólio e estamos sempre abertos a novas aquisições”, disse Marcelo Zimet, primeiro brasileiro a presidir a L’Oréal no Brasil, ao Valor. No momento, a prioridade da companhia é crescer organicamente no país, explorando seu grande potencial de consumo.
De acordo com a Euromonitor Internacional, o Brasil é o terceiro maior mercado de beleza e cuidados pessoais do mundo, atrás dos Estados Unidos e China. A indústria no país cresceu 12,7% no último ano, contra 9,3% em nível mundial. Em 2023, o faturamento do setor totalizou R$ 156 bilhões.
“O crescimento de dois dígitos para a beleza e cuidados pessoais no Brasil em 2023 reflete um ambiente macroeconômico mais favorável”, avalia Mariana Teixeira, consultora da Euromonitor. Além disso, as questões climáticas também têm influenciado no consumo dos brasileiros.
Segundo Teixeira, a proteção solar se destacou no ano passado, com crescimento acelerado de dois dígitos, uma vez que o aumento das temperaturas elevou a conscientização sobre os riscos da exposição ao sol. Os produtos de higiene, especialmente para banho, cuidados com os cabelos e desodorantes, também são impulsionados pelo aumento das temperaturas.
As redes sociais também assumem um papel cada vez mais relevante para o segmento, com publicações de influenciadores que podem fazer determinado produto viralizar da noite para o dia.
Além do potencial de consumo, a exigência da consumidora brasileira e a diversidade são atributos que diferenciam o Brasil do restante do mundo. Isso faz com que o país seja um verdadeiro “laboratório a céu aberto” para o lançamento de novos produtos, disse Zimet.
“O desenvolvimento de produtos no Brasil é como se fosse um grande teste para ver realmente a eficiência de fórmulas, porque, se funciona aqui, a probabilidade de que funcione fora é muito grande”, afirmou.
No primeiro semestre deste ano, o grupo registrou lucro de € 3,74 bilhões, alta de 3,5% em relação ao mesmo período de 2023. Na América Latina, a receita foi de € 867,6 milhões, aumento de 13,3% em relação ao segundo trimestre do ano passado, com crescimento em todas as divisões de negócio, segundo a empresa.
No Brasil, o destaque ficou por conta da linha de cuidados para cabelos Elsève, que se tornou a marca com maior receita no país.
Questionado sobre o impacto do cenário econômico no consumo, Zimet disse que o segmento de beleza avança a despeito de crises. “Nos últimos 20 anos, o mercado cresce a uma tendência de 5% a 6% globalmente, e no Brasil não é diferente”, afirmou o executivo. Segundo ele, o consumidor não deixa de comprar, mas se torna cada vez mais exigente com a qualidade do produto para fazer o seu dinheiro valer.
A especialista da Euromonitor complementa essa visão, ao afirmar que “a eficácia dos produtos está se tornando cada vez mais importante” para o público, que tem buscado por evidências científicas e resultados que comprovem o efeito que os produtos prometem.
Outra frente de crescimento importante para a companhia no país são as vendas digitais. Segundo Zimet, esse canal já representa mais de 23% do faturamento global da L’Oréal. “No Brasil, devemos fechar este ano com quase 20% das vendas provenientes do e-commerce”, afirmou.
Uma das estratégias utilizadas para impulsionar o digital foi a formação de parcerias com marketplaces. Isso inclui tanto plataformas especializadas, como Beleza na Web, pertencente ao concorrente Boticário, e Época Cosméticos, do Magazine Luiza, quanto marketplaces mais generalistas, como Mercado Livre e Amazon.
No que diz respeito à capacidade produtiva, Zimet contou que não há um grande projeto de ampliação da fábrica ou dos centros de distribuição, mas existe uma expansão contínua que acompanha a performance da companhia, que cresce duplo dígito anualmente. Atualmente, 95% do volume que é vendido no Brasil é produzido na fábrica na rodovia Anhanguera, na Grande São Paulo.
A entrevista com Zimet aconteceu na quinta-feira passada (12), no evento da L’Oréal Paris, em São Paulo, que reuniu mulheres para falar sobre diversidade e beleza.
Estiveram presentes Taís Araújo, embaixadora da marca há 15 anos, Zezé Motta, Daiane dos Santos, Larissa Manoela, Nath Finanças, entre outras personalidades, famosas ou não.
Segundo Zimet, o evento simboliza o entendimento da empresa de que, para ser capaz de se conectar com as diferentes brasileiras e assim atender suas necessidades, era imprescindível ter a diversidade como premissa do negócio.
Isso resultou em um movimento para aumentar a representatividade de diferentes grupos na estrutura interna da companhia. Segundo Zimet, 55% das lideranças da L’Oréal são mulheres, das quais 40% negras. No comitê executivo, as mulheres representam pelo menos metade, mas apenas 20% são negras.
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