Com o trabalho remoto e equipes em fusos diferentes, o controle do tempo é crucial
Trabalhar remotamente, longe dos escritórios da Natura&Co, não é novidade para Roberto Marques, CEO global e presidente do conselho de administração de uma das maiores fabricantes de produtos de beleza do mundo. O executivo passou boa parte da vida profissional entrando e saindo de aviões, mas por causa da pandemia, é a primeira vez, em 35 anos, que não viaja por cinco meses.
Interagir com pessoas, sem ser em um ambiente on-line, é do que mais sente falta desde que o novo coronavírus tomou conta do mundo. Mas, seguindo os protocolos da boa medicina, Marques isolou-se em sua casa em em Jersey Shore, região costeira de Nova Jersey, a cerca de 90 quilômetros de Nova York. Administra os negócios a distância e consegue, quando precisa relaxar e sair da frente do computador, por os pés na areia e olhar o mar.
O grupo, dono das marcas Natura, Avon, The Body Shop e Aesop, emprega mais de 34 mil pessoas e tem uma força de vendas de 6 milhões de pessoas, sendo 4 milhões na América Latina.
Como as operações estão espalhadas em várias partes do mundo, com fusos diferentes, Marques marca as reuniões às sete horas da manhã, horário de Nova York. É o único horário que permite a Marques não correr o risco de interromper o sono de um subordinado no meio da madrugada. No dia desta entrevista, em 14 de agosto, o executivo havia comandado um encontro virtual com cerca de 300 funcionários. Não é uma tarefa fácil.
“O mais difícil é manter a disciplina. A capacidade de atenção também começa a cair depois de quatro horas”, diz. Quando o assunto é complexo e exige discussões que podem durar até um dia e meio, Marques tem optado por fatiar os encontros, de no máximo quatro horas cada um.
O mesmo princípio vale para as reuniões do conselho de administração. Antes da pandemia, eram feitas até oito por ano. Com a doença alterando a rotina das empresas e das famílias, os encontros têm sido mais esporádicos.
Marques preside o conselho de administração do grupo desde 2017 e é desde janeiro deste ano o CEO global. É considerado o arquiteto da aquisição da Avon – a operação mais ambiciosa da companhia fundada há 51 anos por Luiz Seabra, Pedro Passos e Guilherme leal.
Antes de ingressar na Natura, há quatro anos, Marques trabalhou na Johnson & Johnson por duas décadas. Na Mondelez, dona dos biscoitos Oreo e da goma de mascar Trident, entre outras marcas, ficou dois anos e meio.
O que lhe tira o sono, diz, são “os extremos na política e na sociedade”, levando a mais desigualdade entre as pessoas. E isso não vem ocorrendo apenas no Brasil e nos Estados Unidos. O novo coronavírus “não discrimina ninguém, mas afeta mais as populações carentes, criando mais desigualdade”.
O mesmo ocorre com o acesso das pessoas à internet – importante ferramenta de inclusão social e de vendas para muitas companhias que tiveram suas lojas físicas fechadas por meses a fio devido à pandemia. “Muita gente não tem internet e isso aumenta a desigualdade. Mas eu tenho confiança, sou otimista. Acho que a sociedade está mais atenta e as empresas têm papel importante a desempenhar”, diz.
A Natura&Co vai investir nos próximos seis meses R$ 400 milhões em sua operação global para deixar mais robusta a área digital. Esta é uma das prioridades de Marques. Ele cita outras três: manter a companhia saudável, reforçar a mensagem de que as marcas do grupo têm uma razão de ser, o que ajuda a manter a clientela fiel aos produtos, e acelerar a integração das operações da Avon aos negócios do grupo.
O cenário para os próximos 12 a 18 meses inspira cuidados. “Vamos ter que lidar com esse vírus ao longo de 2021, não vai ter vacina para todo mundo”, diz Marques. Isso fará com que a economia mundial oscile, com “algumas geografias melhores, outras piores”.
Proteger florestas, em especial a Amazônia, é um exemplo de causa, segundo Marques, que deve ser abraçada pelo setor privado. A Natura adota programas sociais na região, há anos, e usa insumos da floresta, cultivados de forma sustentável. Ele lembra que a Organização das Nações Unidas (ONU) tem pedido ajuda para encontrar soluções para proteger o meio ambiente e, em sua opinião, não há outro jeito: “Temos que escutar a ciência”.
Fonte: https://valor.globo.com/eu-e/noticia/2020/08/28/roberto-marques-da-natura-disciplina-e-atencao.ghtml
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