Após os testes de eficácia duvidosa de medicamentos genéricos veiculados na reportagem especial do Fantástico, no domingo (29), os farmacêuticos do Conselho Regional de Farmácia (CRF) de Alagoas saíram em defesa da produção deste segmento considerado o mais barato no Brasil.
Em entrevista ao Alagoas 24 Horas, Robert Nicácio, vice-presidente do CRF, afirmou que os medicamentos testados na matéria da Globo (losartana, dipirona e sildenafila) não passaram por todos os procedimentos recomendados pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo o farmacêutico, um medicamento somente pode ser considerado ineficaz após os testes de biodisponibilidade e bioequivalência.
“A credibilidade dos testes já cai por terra porque não foram realizados testes de biodisponibilidade, somente o de bioequivalência, o que para nós farmacêuticos é considerado o mais importante deles pois é feito em pacientes”, diz o vice-presidente.
Ainda para Robert Nicácio, os resultados encontrados nos testes de bioequivalência do Fantástico podem ainda ser obtidos naturalmente com medicamentos de marca. “Muita coisa contribui para aquela variação dos valores obtidos, incluindo o transporte, distribuição e armazenamento do medicamento que sai íntegro da fábrica”, justifica o farmacêutico.
Na dúvida, o paciente pode consultar o farmacêutico no momento da compra. Quanto à eficácia do medicamento, na última segunda-feira (30), a Anvisa informou que vai solicitar novos exames nos lotes investigados pelo Fantástico. Somente o órgão é quem pode atestar a eficiência ou não do medicamento, bem como inseri-lo ou retirá-lo do mercado.
Conflito ético
Ainda segundo Robert Nicácio, a matéria não ouviu os farmacêuticos, somente os médicos, o que revela um conflito ético. “Existe aí um conflito ético, pois os médicos prescrevem a receita com o medicamento, mas a escolha é do paciente. O paciente é quem deve escolher qual laboratório vai comprar”, afirma.
O farmacêutico revela ainda que é comum pegar prescrições médicas com carimbos que exigem do paciente a não opção pelo genérico. “Não podemos tirar esse poder de escolha do paciente”, conclui.
Para Robert Nicácio, o genérico se torna mais barato porque os fabricantes desses medicamentos não necessitam fazer investimentos em pesquisas para o seu desenvolvimento já que a formulação está definida pelo medicamento de referência e que serve de parâmetro para a fabricação. Além disso, não há investimento em publicidade porque eles não têm marca. “Não podemos ficar reféns dos medicamentos de marca. Em países desenvolvidos, como Estados Unidos, por exemplo, os genéricos têm uma grande força no mercado e isso só reforça que eles têm validade no tratamento. É importante que a política dos medicamentos genéricos seja amplamente divulgada para a população”, pontuou.
Robert lembra também que existe uma legislação que regulamenta a fabricação e venda desses medicamentos, e a lei determina que na embalagem de todos eles deva constar a expressão “Medicamento genérico” e o número da lei que deu origem a esses medicamentos (Lei 9.787/99). “A população não precisa ter medo de usar os medicamentos genéricos. A vantagem desse tipo de tratamento é que os pacientes tem acesso a bons tratamentos por um preço mais acessível. Os médicos precisam pensar dessa forma porque hoje no Brasil, e em especial em Alagoas nós temos uma população carente que não tem condições financeiras de adquirir medicamentos de marca”, reforçou.
Deixe um comentário