Falha na medição de custos da saúde e atribuição de culpa constante entre players do setor atrapalham a busca por soluções para o mercado suplementar, aponta o estudo Custos da Saúde: Fatos e Interpretações, que será lançado hoje (02) pelas entidades que representam a indústria farmacêutica e os hospitais.
“Da forma como as coisas são divulgadas às vezes acabam criminalizando o setor [de hospitais e prestadores de saúde]. A responsabilidade pelo controle de custo é da cadeia inteira [operadoras, hospitais e prestadores]”, destaca o presidente do conselho da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), Francisco Balestrin. Mesmo sem destacar nenhum setor específico, o estudo ressalta que os fornecedores e prestadores são recorrentemente apontados pelas operadoras como os grandes responsáveis pela alta dos custos.
“Existe uma tentativa em cada segmento de tentar resolver o seu problema ou voltar a culpa para o outro. Achamos que essa tentativa não leva a nada”, acrescenta o presidente-executivo da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), Antônio Britto. De acordo com eles, a ideia é mostrar a responsabilidade de todos dentro da cadeia. “É necessário ter uma atitude comum, não adianta cada um ir a Brasília, achar uma solução só para o setor e atribuir a culpa a outro. Não há salvação individual”, destaca Britto.
Custos e inflação
Outra questão apontada pelo estudo, que dificulta a compreensão da responsabilidade de todos elos da cadeia, é o debate de custo e inflação médica que, segundo eles, não tem sido feito de maneira adequada. Apesar de ser divulgado como variação de custo, muitos debates e divulgações chamam de maneira incorreta, como inflação médica, diferente até mesmo dos responsáveis pelo cálculo. “Quando vamos discutir o custo deve-se separar o que é inflação do setor [o encarecimento do serviço] e o custo, que no caso da saúde tem diversos fatores, como o aumento da utilização [frequência de uso]”, diz Britto.
Outra crítica, de Balestrin, à forma como é discutido o assunto é a métrica utilizada pelo principal indicador da área, o VCMH (variação de custos médico-hospitalares), realizado pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), considerado um recorte pequeno (só de planos individuais) para a dimensão do mercado que tem mais de 80% das vidas em planos coletivos. Sobre o indicador, as entidades destacaram no estudo que “não expressa a variação de custos real das operadoras, por ser uma mostra pouco representativa.” Em nota, o Iess explicou que o VCMH não acompanha os custos dos planos coletivos (empresariais e por adesão) já que cada operadora, em conjunto com o contratante (estipulante do plano), identificam os VCMHs de suas respectivas carteiras e, assim, negociam os índices de reajustes, diferente do plano individual que é definido pela ANS.
Diagnóstico
No estudo, as entidades usam o Índice de Preços do Consumidor Amplo (IPCA) para falar sobre a inflação que atinge o setor. De acordo com o estudo, dos nove grupos que dividem o indicador, o de saúde e cuidados pessoais mostrou uma variação de 47,8%, no período de julho de 2012 a junho de 2017.
Na mesma base, o estudo diz que os planos de saúde apresentaram maior variação de preços nos últimos cinco anos, indo a 67,9%, seguido por serviços médicos (49,6%), hospitalização e cirurgia (44,7%), artigos ortopédicos (43,8%), produtos farmacêuticos (38,8%), exame de imagem (29,8%) e exame de laboratório (24,6%). (Veja mais no gráfico).
Desconsiderando o subitem planos de saúde, a inflação do grupo saúde e cuidados pessoais caiu de 47,8% à 40,2%. De acordo com Britto, como principais caminhos para encontrar o equilíbrio econômico-financeiro do setor estão a mudança do modelo de remuneração na saúde, hoje, sendo o fee for service [ou pagamento por serviço], que estimula o uso do serviço, e a promoção da saúde. No caso do pagamento, ele destaca ser crucial a participação do governo para ir além de experiências localizadas e seja estrutural.
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