Mesmo diante de um cenário de recessão econômica no Brasil, o grupo farmacêutico francês Servier pretende reforçar sua presença no país e transformar o mercado brasileiro num dos cinco maiores da empresa no mundo.

Em visita ao país, para comemorar os 40 anos do laboratório no Brasil, o presidente mundial da companhia, Olivier Laureau, anunciou que a Servier vai dobrar o número de medicamentos comercializados no país e que espera atingir um faturamento de R$ 2 bilhões no mercado brasileiro em dez anos.

Em entrevista exclusiva ao Valor, Laureau conta que a crise econômica não é um obstáculo para o crescimento das vendas, devido ao perfil populacional do país. “O Brasil é um país estratégico, porque tem uma população que cresce e que está envelhecendo. Além disso, trata-se de uma população que tem cada vez mais acesso aos serviços de saúde”, disse.

O Brasil é, hoje, o décimo maior mercado do grupo em termos de faturamento na área dos produtos inovadores, que responde por 75% das receitas da empresa. Os outros 25% vêm da comercialização de genéricos.

Em 2015, a Servier faturou R$ 262 milhões no país, mas tem planos de aumentar esse número para R$ 305 milhões já este ano e atingir os R$ 810 milhões em 2021. O laboratório francês possui um modelo de negócios peculiar no setor.

Durante a década de 1980, quando se discutia a sucessão do fundador Jacques Servier, o grupo foi instituído como uma fundação privada, sem fins lucrativos, que tem como diretriz investir 100% de todo seu lucro em pesquisa e desenvolvimento.

A companhia fatura cerca de € 4 bilhões por ano e investe mais de 25% desse montante em inovação, sem que haja qualquer distribuição de dividendos.

A área de oncologia é um dos grandes focos da companhia e concentra mais de 50% do orçamento de pesquisa do grupo, que tem como meta descobrir um novo produto inovador a cada três anos.

No Brasil, a companhia acaba de fechar um acordo de cooperação tecnológica com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para estudos conjuntos de seis mil extratos de plantas da biodiversidade brasileira que fazem parte do acervo da Fiocruz, para busca de medicamentos de combate ao câncer. O acordo prevê transferência tecnológica. Em caso de sucesso nas pesquisas, a Fiocruz terá prioridade no uso do medicamento na rede pública de saúde, enquanto a Servier ficaria concentrada na venda na rede particular.

A Servier fechou também um acordo de transferência tecnólogica para produção do remédio Vastarel, para tratamento de isquemia cardíaca, também na Fiocruz. E anunciou um prêmio para apoiar pesquisas na área da neurociência, dedicada a estudos sobre as complicações neurológicas decorrentes do vírus da Zika. Serão oferecidos € 150 mil (R$ 600 mil) em três anos em premiações.

Ainda no Brasil, o grupo espera lançar nos próximos cinco anos mais 15 produtos, para as áreas de diabetes, hipertensão, insuficiência cardíaca e oncologia. Entre os lançamentos estão inovações, como “polipílulas” (pílulas que concentram vários componentes um só comprimido), para tratar, ao mesmo tempo, a hipertensão e o colesterol. “Com isso reduzimos a quantidade de medicamentos que o paciente precisa ingerir e isso aumenta a adesão ao tratamento”, explica o executivo.

A companhia também prevê lançar no país um tratamento subcutâneo para diabetes. Trata-se de uma bomba osmótica, que é introduzida a partir de um pequeno procedimento cirúrgico no paciente e que substitui as injeções diárias de insulina.

Segundo Laureau, os novos produtos serão majoritariamente produzidos no Brasil, mas medicamentos que envolvam alta tecnologia, como o tratamento subcutâneo de diabetes, serão produzidos fora. A fábrica da Servier, no bairro de Jacarepaguá, no Rio, tem capacidade para produzir 500 milhões de comprimidos por ano, mas o executivo já antecipou que avalia investir na expansão da unidade.

“Hoje estamos avaliando diferentes opções, já que podemos investir na otimização da fábrica, mas a curto e médio prazo precisamos levantar a questão da ampliação. A gente sabe que deve fazer alguma alteração nessa capacidade, só não sabe como ainda”, afirmou.

Fonte: http://sindusfarma.org.br/cadastro/index.php/site/ap_imprensas/imprensa/1129

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