Empresas de cosméticos com fábricas no Sudeste intensificaram iniciativas para gastar menos água e energia. Os planos vão desde a criação de comitês de monitoramento até a perfuração de poços artesianos e novos horários de produção. Em um cenário extremo, a Avon cogita ampliar os contratos terceirizados com fábricas de outras regiões do país, enquanto a Embelleze poder vir a adotar esse modelo de produção pela primeira vez.

A Avon substituiu processos, intensificou o reúso e tornou a operação mais eficiente para reduzir em 40 milhões de litros – o equivalente a 16 piscinas olímpicas – o consumo de água em sua fábrica no bairro de Interlagos, em São Paulo, no ano passado. A queda foi de 17% em relação a 2013. A fabricante implementou campanhas de redução de consumo, monitoramento nos processos de lavagem e criou equipes para caçar vazamentos, diz Waltencyr Peixoto, gerente sênior de segurança, saúde e meio ambiente para América Latina. A Avon calcula baixa de 11% no uso de água em toda a operação brasileira desde 2008.

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A Embelleze investiu em alternativas de armazenamento e reúso e, agora, avalia propostas para ter seu primeiro poço artesiano na fábrica em Nova Iguaçu (RJ), que consome 1,56 milhão de litros de água por mês. “As iniciativas de sustentabilidade não são novas, mas aumentaram desde meados de 2014, por conta da crise hídrica”, diz o vice-presidente Jomar Beltrame. A companhia adquiriu quatro tanques com capacidade de 100 mil litros, cada um, para reaproveitar as águas pluviais. Desde janeiro, a água da lavagem dos deionizadores (equipamentos para retirar sais da água) é destinada às descargas dos banheiros, com economia de 40 mil litros mensais.

“Nos próximos três a quatro meses, em nossa visão, estaremos tecnicamente em racionamento, mas chegar a um colapso não está previsto”, diz Beltrame. Em um cenário mais sombrio, a empresa pode terceirizar parte da produção para outro Estado, afirma o executivo. A Embelleze produz 7 milhões de unidades por mês e emprega 630 funcionários.

A L’Oréal, das marcas Garnier, Maybelline e Colorama, “não considera reduzir ou parar a produção”, diz Gerald Vincent, diretor de meio ambiente, saúde e segurança. As fábricas no Rio e em São Paulo necessitam de pelo menos 5 milhões de litros de água por mês, cada uma, para funcionar, mas a captação de mais de 80% desse total é feita por poços artesianos – dois no Rio e quatro em São Paulo. Na capital paulista, mesmo sem atingir totalmente a capacidade instalada, a empresa estuda ter mais um poço artesiano. No Rio, em âmbito emergencial, pode reativar dois poços sem uso por falta de necessidade.

A fábrica carioca da L’Oréal consome hoje 44% menos água por produto acabado que em 2005. Em São Paulo, houve redução de 42%. “As duas fábricas estão comprometidas em atingir redução de 50% em relação à 2005 ainda neste ano, e seguir em busca dos 60% de queda para 2020”, diz Vincent. Entre as medidas adotadas, a água da última etapa de lavagem de equipamentos é utilizada na primeira fase da próxima lavagem. O resíduo de filtros e abrandadores alimenta circuitos de água gelada e vasos sanitários. Também é aproveitada para a limpeza de pisos.

De todas as matérias-primas, a água é a mais utilizada na formulação e fabricação de cosméticos. Está presente na composição química, nos processos de transmissão de calor e na lavagem de equipamentos, entre outras finalidades.

A preocupação com os recursos hídricos não é recente para as empresas do setor. A Natura diz acompanhar o consumo de água em operações próprias e fornecedores. Na fábrica de Cajamar (SP), a empresa adota um sistema de tratamento de efluentes desde a inauguração, no ano 2000. O volume de água reciclada e reutilizada em Cajamar alcançou 79,4 milhões de litros em 2013, com alta de 14% sobre um ano antes. No Ecoparque, em Benevides (PA), plantas cujas raízes possuem bactérias que decompõem poluentes são usadas no tratamento da água. A Natura não concedeu entrevista por estar em período de silêncio antes da divulgação de resultados de 2014.

Na Unilever, a água proveniente de empresas de abastecimento representa a menor parte (13%) das operações. Mais da metade (55%) é captada no subterrâneo e o restante provém de superfícies como rios e lagos. Em relatório, a empresa relata um corte de 6% no consumo de água em suas unidades de produção em 2013. Em Valinhos (SP), que produz cosméticos, a empresa fortaleceu iniciativas para detectar vazamentos e simplificou o uso equipamentos que removem oxigênio da água antes do uso nas caldeiras, para diminuir o consumo em quase 7 milhões de litros.

Os produtos de cuidados com bebê e família são os que consomem mais água (44 milhões de litros) nas fábricas da P&G. A categoria de beleza utilizou 7,2 milhões de litros em 2012 – dado mais recente divulgado no site da companhia. Nos cinco anos até 2012, a economia de água em todos os negócios chegou a 22%.

A Hypermarcas tem a produção de cosméticos concentrada em Senador Canedo (GO), e O Boticário, em Curitiba. A exposição das duas companhias à crise hídrica, portanto, é mais baixa.

O Sudeste concentra 61% das 2,47 mil fabricantes de produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos do país, segundo a Abihpec, entidade do setor. São Paulo tem participação de 68% na região, seguido por Rio (15,3%), Minas Gerais (14,6%) e Espírito Santo (2,1%). O Brasil é o terceiro maior consumidor de cosméticos do mundo – atrás de Estados Unidos e China. Em 2014, as receitas do setor superaram R$ 100 bilhões, diz a Abihpec.

A escassez da água levanta temores também quanto à falta de energia. A Embelleze deixou de produzir no horário de pico energético estipulado pela fornecedora, das 18:40 às 21:40 horas, para adotar o horário das 6 às 18:48 horas, com o uso de geradores após 17:30 horas. A empresa cogita a compra de um terceiro gerador de energia neste ano, apesar de prever aumento de custos com diesel, combustível que alimenta os equipamentos.

A Avon tem geradores em todas as suas operações e diz que pode intensificar o uso dos equipamentos se o cenário piorar. “Teremos que melhorar a produtividade para ofuscar o efeito de aumento dos gastos com combustível”, diz Peixoto.

Em caso de emergência, a L’Oréal planeja alugar mais geradores. A fábrica em São Paulo usa os equipamentos para demandas básicas, como iluminação de emergência. No Rio, há quatro geradores instalados, mas nenhum plano de compras.

Fonte:http://www.valor.com.br/empresas/3908442/industria-da-beleza-reduz-uso-de-agua

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