Filho do fundador do laboratório Biosintética, Omilton Visconde Junior é conhecido na indústria farmacêutica pela habilidade em fazer dinheiro montando ou comprando empresas que, depois de ganharem musculatura, são vendidas a múltiplos elevados. Aos 54 anos de idade, ele volta com a mesma estratégia na criação da sua nova empresa, a Cellera Farma, que nasce em sociedade com o fundo Victoria Capital Partners e plano de investimento de R$ 400 milhões em quatro anos.

Em cinco ou seis anos, quando o faturamento anual estiver em torno de R$ 500 milhões, o que colocaria a Cellera no grupo das farmacêuticas de médio porte, o objetivo é vender a operação para um laboratório americano ou europeu que queira entrar no mercado brasileiro. Ou então dar saída ao fundo de private equity, que neste momento tem participação de 85%, por meio de uma oferta pública inicial de ações (IPO).

Foi assim com a Biosintética, vendida por Visconde Junior em 2005 para o Aché, por R$ 600 milhões, e com a Segmenta, que se tornou a maior fabricante de soros hospitalares do país sob seu comando e acabou nas mãos da Eurofarma em 2010, por R$ 450 milhões. O empresário conta que, após a venda da Biosintética, ficou sujeito a uma quarentena na indústria que não abrangeu o mercado hospitalar – e o Aché não havia levado no pacote uma fábrica de soluções parenterais, usadas em hospitais, da qual nasceu a Segmenta.

De lá para cá, Visconde Junior participou de outros negócios. Em 2011, vendeu a Prev Saúde, de gestão de benefícios de medicamentos, para a Orizon (que hoje tem como acionistas Cielo, Bradesco Seguros e Cassi). No ano seguinte, juntou-se ao criador da Netshoes, Marcio Kumruiam, na Netfarma, maior farmácia online do país, da qual é dono de 70% – Kumruiam vendeu sua participação em 2014.

Além de manter essa posição, o empresário constituiu a Mip Brasil Farma, que atua no mercado de medicamentos isentos de prescrição e, agora, será incorporada na Cellera Farma. O comando da nova farmacêutica caberá a Nelson Libbos, executivo com 45 anos de experiência no setor e passagem pela presidência de laboratórios como Hoescht, Aventis Farma, Farmasa e Teva Farmacêutica. Parceiro de Visconde Jr. em outros negócios e ocasiões, Libbos é sócio da Netfarma e atua como consultor na indústria.

É Libbos quem conta como nasceu a Cellera Farma e qual é a estratégia de longo prazo. “Já temos uma boa plataforma de produção e, agora, estamos contratando o time no mercado”, diz, acrescentando que toda a diretoria já está formada. Sobre a plataforma produtiva, há pouco mais de um mês, a Victoria Capital Partners e Visconde Junior concluíram a compra da fábrica de genéricos e similares da canadense Valeant em Indaiatuba (SP), por valor não revelado.

A aquisição integra o pacote de investimentos de R$ 400 milhões em quatro anos, que inclui pelo menos mais uma compra, da Mip Brasil Farma, pertencente a Visconde Junior. Com a incorporação da Mip na Cellera, por valor ainda não definido, a participação de 15% de Visconde Junior na Cellera subirá.

A compra da fábrica já foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e envolveu ainda a linha de produtos Caladryl, adquirida pela Valeant da Johnson & Johnson em 2012. De acordo com Libbos, a tradicional marca de produtos pós-sol será reformulada e a linha crescerá, voltada também a proteção solar.

Além disso, a Cellera nasce com um contrato de produção para a farmacêutica canadense, em regime de terceirização, por sete anos. Hoje, a taxa de ocupação da capacidade instalada na fábrica é de apenas 20%, o que dá ampla margem de crescimento de portfólio. Genéricos e similares não estão no centro da estratégia da empresa, que pretende lançar um probiótico no próximo ano e já negocia licenças de marca e formulações com laboratórios estrangeiros que ainda não atuam no país. Já as áreas de dermatologia, neurociência e OTC (medicamentos isentos de prescrição) estão no radar.

Segundo Libbos, o contato com a Valeant em torno do Instituto Terapêutico Delta, razão social da operação de Indaiatuba, começou há pouco mais de dois anos, quando os canadenses recusaram uma primeira proposta apresenta conjuntamente pelo fundo e por Visconde Junior.

Há cerca de um ano, a própria Valeant procurou os potenciais compradores e, após nova due diligence (auditoria nas informações financeiras, operacionais e contábeis), o negócio foi fechado. Com dívidas de aproximadamente US$ 30 bilhões, a Valeant colocou à venda uma série de ativos em mercados considerados não estratégicos e, em teleconferência em fevereiro, o executivo-chefe Joe Papa citou desinvestimentos em curso no Brasil, Indonésia e Vietnã.

A Victoria Capital Partners, por sua vez, tem em seu portfólio de investimentos, entre outros, o grupo argentino Los Grobo, a brasileira Elemidia, a rede chilena de academias Energy e é controlador da Oncoclínicas, maior rede privada de centros de oncologia da América Latina, cujo faturamento deve chegar perto de R$ 1 bilhão neste ano.

“A Cellera será uma grande plataforma de negócios em sua área”, diz Visconde Junior. Complementa o portfólio de investimento do empresário uma participação de 30% na rede de clínicas Doutor Agora.

Fonte: http://www.valor.com.br/empresas/4961520/nova-aposta-farmaceutica-de-omilton-visconde-junior

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