O governo federal e parte dos estaduais acumula dívidas de quase R$ 1 bilhão com 20 multinacionais farmacêuticas que atuam no país, segundo a Interfarma, entidade que representa o setor.
O montante corresponde ao pagamento de remédios para tratamento oncológico, de HIV, transplantes, vacinas e outros itens, segundo Antônio Britto, presidente-executivo da Interfarma.
“De oito meses para cá, começou um processo em que Estados e o governo federal passaram a adiar o momento de fazer a compra. Depois, reduziram os volumes dessas compras e, então, começaram a atrasar os pagamentos”, afirma.
Quase 30% do montante ultrapassa o prazo de seis meses, segundo Britto, que calcula que a dívida seja muito superior ao apurado por suas pesquisas iniciais.
O levantamento atual abordou 24 das 55 associadas da Interfarma e constatou que 20 delas registram atrasos.
Rodrigo Capote 1º-out.2010/Folhapress | ||
O presidente da Interfarma, Antonio Britto, em seu escritório em São Paulo |
Os nomes das companhias não foram divulgados. Não estão incluídos atrasos relativos aos municípios.
Quase 60% da dívida corresponde ao governo federal e o restante se divide, principalmente, entre Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
Nelson Mussolini, presidente do Sindusfarma, sindicato que reúne as principais farmacêuticas do país e abrange companhias brasileiras, confirma que também registrou atrasos entre as empresas associadas e adiciona que o Estado do Rio Grande do Sul também tem sofrido dificuldades devido ao atraso nos repasses.
ABASTECIMENTO
“As empresas estão muito preocupadas. Não vão desabastecer o setor público, devido ao interesse de manter o produto no mercado e também pela própria responsabilidade social, mas essa crise interfere na manutenção do emprego e no poder de investimento do setor”, afirma.
Mussolini diz que, na história da indústria, já houve atrasos dramáticos no pagamento de compras públicas, mas eles ocorreram há cerca de 20 anos.
Segundo a Interfarma, a indústria tem se organizado para rever processos e cortar, mas a situação já começa a comprometer a sustentabilidade das operações.
Karime Xavier – 21.mar.2014/Folhapress | ||
O presidente do Sindusfarma, Nelson Mussolini |
Dados da consultoria IMS Health apontam que o faturamento do mercado farmacêutico nacional ficou em R$ 63 bilhões no últimos 12 meses até março. Quase 70% corresponde ao varejo e, dos 30% restantes, a maior parte é destinada a governos e hospitais públicos.
Procurado, o Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), não atendeu a reportagem.
O Ministério da Saúde respondeu, por meio de nota, que os repasses referentes à oferta de medicamentos no SUS (Sistema Único de Saúde) “estão regulares”.
De acordo com o comunicado, dos R$ 15,7 bilhões do orçamento previsto para 2015 para aquisição de medicamentos pelo ministério, “mais de R$ 15 bilhões foram executados até novembro, o que representa 95% do total para este ano”.
“Além das compras diretas realizadas pela União, também são repassadas verbas para Estados e municípios.”
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