A regulamentação da fase experimental do sistema que controlará produção, distribuição e venda de medicamentos reforçou a perspectiva positiva dos fornecedores de máquinas e equipamentos para o setor farmacêutico.
Segundo o diretor de vendas para América Latina do Grupo Optel, Giancarlo Fusaro, até 2021 toda a cadeia farmacêutica deverá estar adaptada para atender as exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), esse processo poderá triplicar a demanda da companhia a partir de 2019. “Até o final de 2018, o sistema estará em fase experimental com alguns laboratórios selecionados pela Anvisa. Terminada essa fase todas as empresas deverão buscar enquadramentos nas regras, o que deve elevar bastante nossa demanda”, estima o executivo.
O presidente da Associação Brasileira de Distribuição e Logística de Produtos Farmacêuticos (Abradilan), Juliano Vinhal, comenta que as gigantes do setor já iniciaram o processo, mas a falta de clareza que ronda o Sistema Nacional de Controle de Medicamentos (SNCM) acabou colocando o projeto das pequenas empresas em espera. Ele lembra que a implantação do SNCM está sendo discutida há anos, entretanto, em 2016, após reinvindicação dos laboratórios, foi adiado e alterado. “O mercado é muito rápido em relação à evolução de equipamento. Nos últimos seis anos as tecnologias evoluíram muito”, ressalta ele, destacando que algumas empresas terão de atualizar os processos para atender às novas exigências.
Em junho de 2016, o DCI antecipou que o setor ganharia mais tempo para a adaptação. Na época, o gerente de sistemas de informação da Aché, Leandro Roldão contou que o laboratório havia adquirido 25 novas linhas de produção e três estavam prontas para a serialização dos cartuchos, com um investimento inicial de R$ 40 milhões. “Mas a cadeia inteira não é capaz de se desenvolver na mesma velocidade”, ponderou ele, na ocasião. A farmacêutica foi uma das selecionadas pela Anvisa para participar da fase experimental, conforme Instrução Normativa divulgada na segunda-feira (28).
A Libbs, outra escalada na etapa, foi a primeira a produzir um lote de medicamentos rastreáveis em 2014, com aporte inicial de R$ 12 milhões em dez linhas de produção. A fase experimental terá ainda Bayer, Boehringer Ingelheim e Janssen-Cilag.
Na visão do presidente do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), Nelson Mussolini, a primeira ideia de rastreabilidade não iria funcionar, devido ao alto custo da implantação. “Fizemos um trabalho em conjunto [com os atores do setor] para desenvolver um projeto equalizado e semelhante ao de outros países, com o objetivo de gerar um menor impacto financeiro para as empresas”, explica o dirigente. O Sindusfarma projeta um custo total superior a R$ 1,35 bilhão para a implantação SNCM nos laboratórios.
Aumento de custos
Mussolini acredita que, num primeiro momento, os fornecedores de equipamentos devem refletir pouco as últimas normas publicadas pela Anvisa. No entanto, a partir de 2019, quando as regras se tornarem obrigatórias, haverá alta da demanda por equipamentos na cadeia.
“A preocupação agora é não onerar a produção porque a indústria não pode repassar os custos uma vez que o setor é regulado. Isso tem que ser feito com calma para não gerar um desequilíbrio ao setor”, afirma o presidente do Sindusfarma.
O dirigente garante que a rastreabilidade tem uma função muito importante nas questões sanitárias, como em caso recall, por exemplo, e para evitar danos a população. “Sem dúvida quando pensamos dez anos atrás consideramos roubo e mercado informal. Hoje, com os sistemas que já existem, o roubo não é o maior problema concorrencial”, diz. O sindicato calcula que os roubos de cargas somaram R$ 16,5 milhões entre janeiro e julho no Estado de São Paulo. No ano passado todo, os crimes envolveram R$ 38,5 milhões, considerando dados da Secretaria Estadual da Segurança Pública de São Paulo.
“A rastreabilidade vai evitar o roubo e a falsificação de medicamentos”, garante Giancarlo Fusaro, da Optel.
De acordo com ele, o Brasil tem 1,5 mil linhas de embalagens de remédios. “As empresas deveriam se antecipar ao prazo final, mas boa parte deve ficar para os últimos três anos do prazo da Anvisa”, prevê Giancarlo. Até lá, o grupo utilizará sua capacidade instalada no Brasil para atender aos clientes da América do Norte e Europa.
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