Depois da esperança com a confirmação de vacinas anticovid, veio a constatação de que nem todo mundo será imunizado tão cedo, por falta de doses. Agora, surge o risco de penúria de seringas globalmente. E a constatação é de que a China e a Índia vão dar o tom também nesse segmento da corrida dos países pela imunização contra o vírus que já matou mais de 2 milhões de pessoas.
A expectativa é de que a capacidade para produção global de vacinas poderá ser ampliada para 17,1 bilhões de doses ao longo dos próximos meses, quase triplicando seu tamanho comparado ao pré-covid-19. E quanto mais países adquirem vacinas, mais a demanda mundial por seringas para uso único vai aumentar.
Ocorre que há uma insuficiência de produção de seringas. Atualmente, a capacidade global é de 9 bilhões de unidades, e as projeções são de aumento para o máximo de 12,0 bilhões, segundo dados levantados pela Airfinity e usados pela indústria farmacêutica.
No caso dos frascos de vidro para as vacinas, a capacidade de produção atual é de 9,4 bilhões de unidades. A expansão esperada é para a produção chegar a 15,5 bilhões de unidades. Mas esse é um problema menor comparado ao caso das seringas. É que um frasco com vacina anticovid pode manter entre cinco e seis doses. A produção de frascos de vidros e de seringas é pouco significativa na Europa e nos EUA, onde uma boa parte das vacinas em geral é produzida.
A Índia domina a produção de seringas, com quase dois terços do total mundial, vindo os EUA bem mais abaixo. Quanto aos frascos de vidros, a China detém de longe a maior parte da fabricação. Os dois grandes emergentes são incontornáveis na corrida mundial pela imunização contra a pior pandemia dos últimos tempos.
Fontes próximas da indústria ouvidas pelo Valor notam que os próximos seis meses podem trazer uma certa preocupação sobre suprimentos no combate à covid-19, mas não há razões para pânico. Inclusive porque a China tem enorme potencial de aumentar rapidamente a produção.
O Ministério da Saúde da Bélgica admitiu risco de penúria de seringas entre fevereiro e metade de março. Também a França acelerou a imunização da população, mas a constatação é de que a disponibilidade de seringas está no radar.
Assim, o “nacionalismo de vacinas”, com países ricos detendo a boa parte das doses, poderá se estender para o “nacionalismo de seringas”. Ellen Johnson Sirleaf, ex-presidente da Libéria e copresidente de um grupo independente internacional que investiga a atuação da Organização Mundial da Saúde (OMS) nessa pandemia, observa que, baseada nos planos atuais, vacinas não serão amplamente disponíveis no continente africano até 2022 ou mesmo 2023.
Deixe um comentário