As visitas dos consumidores aos pontos de venda nos doze meses findos em junho caíram 8,1% no comparativo anual
O outono e o inverno mais amenos neste ano prejudicaram as vendas de medicamentos isentos de prescrição (OTC, na sigla em inglês), como analgésicos e antigripais, de acordo com a Kantar. Dados exclusivos da consultoria apontam que 1,2 milhão de lares deixaram de comprar itens da categoria nos doze meses findos em junho, levando a base de consumidores para 37,3 milhões de lares – queda de 3%.
Por um lado, as temperaturas mais altas diminuíram a demanda por medicamentos, como reportado por farmacêuticas e redes de drogarias. Por outro, o clima mais quente e úmido nos primeiros meses de 2024 fez disparar as vendas de repelentes, que foram priorizados na cesta de consumo. Para os próximos meses, a Kantar aponta que os antigripais devem continuar em segundo plano, desta vez perdendo espaço para a categoria de proteção solar.
As visitas dos consumidores aos pontos de venda nos doze meses findos em junho caíram 8,1% no comparativo anual. Já o volume de itens comprados foi 6% menor. De acordo com a Kantar, todas as categorias de medicamentos viram as vendas cair, mas o maior tombo foi dos analgésicos, cujos volumes recuaram 4,7%.
A gerente de contas da divisão worldpanel da Kantar, Roberta Forte, aponta que parte do efeito ocorreu com o consumidor priorizando a compra de repelentes, em meio a uma epidemia histórica de dengue nos primeiros meses do ano. “Por causa da alta temperatura, vimos tanto a população sofrendo menos com síndromes gripais como esse movimento preventivo à dengue.
A indústria de repelentes ficou sem matéria-prima, houve uma ruptura nas gôndolas das farmácias”, afirma ao Valor.
A fabricante de medicamentos Hypera Pharma apontou esse cenário mais difícil em seu relatório de resultados do segundo trimestre. As vendas ao consumidor final ficaram 1% abaixo da média de mercado, segundo a companhia, considerando que “categorias relacionadas a Gripe, Respiratório, Dor e Febre possuem maior relevância para o faturamento da Hypera do que para as vendas do varejo farmacêutico”.
As redes de drogarias, apesar do mix de faturamento mais diversificado, também sentiram esse impacto nos resultados de abril e junho. A RD Saúde, controladora de Droga Raia e Drogasil, aponta que o segmento de OTC cresceu 10,9% no comparativo anual, mas destacou a “pressão em produtos respiratórios devido ao inverno atipicamente quente no trimestre”. Essa também foi a avaliação da Pague Menos, que ressaltou no relatório de resultados a “retração na categoria de gripe e resfriado”, embora o segmento tenha crescido 9,8% no comparativo anual.
No caso da Panvel, as temperaturas mais elevadas frearam as vendas da categoria de OTCs, que registrou queda de 1,2 ponto percentual e representou 16,1% da receita bruta. Apesar da participação na receita ter caído no comparativo anual, os números da Panvel apontam que o faturamento absoluto dos OTCs cresceu de R$ 182,8 milhões para R$ 189,6 milhões no comparativo anual. A rede gaúcha também teve no segundo trimestre um impacto específico da crise climática: as enchentes do Rio Grande do Sul em maio. A companhia, que opera nos três estados da Região Sul e na capital paulista, suspendeu sua abertura de lojas no Rio Grande do Sul no segundo trimestre. A expansão foi retomada no terceiro trimestre, com 14 aberturas.
Parte dessa queda no consumo, porém, não pode ser relacionada à diferença de temperaturas. É o casos de medicamentos como antigases. Na avaliação da Kantar, o repasse de preços ao consumidor final, que representou um aumento médio de 9,6% nos preços nos últimos doze meses findos em junho, também pode ter prejudicado os volumes.
Os números do terceiro trimestre já indicam recuperação em relação ao período de abril a junho. A Panvel apontou, em seu relatório de resultados do terceiro trimestre, que as frentes frias que atingiram a Região Sul elevaram. A Hypera também reportou um crescimento de 11% no indicador de sell-out, as vendas aos consumidores finais, em razão da normalização da demanda do portfólio de gripes e resfriados.
A Kantar, porém, indica que a chegada do verão deve interromper, novamente, o bom desempenho dos OTCs. Além da menor incidência sazonal de doenças respiratórias, produtos como protetor solar devem disputar a cesta dos consumidores, como visto com os repelentes na crise histórica de dengue em 2024. “Ainda que não tenhamos uma temporada de dengue acontecendo, estamos falando de um nível de calor muito intenso que faz o cliente priorizar outras categorias, como protetor solar”, afirma Roberta Forte.
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