Na primeira metade do ano, a produção física cresceu 1,9% na comparação anual
Depois de um primeiro semestre dentro das expectativas da maior parte das empresas, a indústria brasileira de embalagens está ligeiramente mais positiva em relação aos negócios no segundo semestre. “Não vai ser um período de crescimento expressivo, porque indústria e consumo não estão crescendo. Mas o setor acha que vai ser um pouco melhor [que o mesmo período do ano passado]”, disse ao Valor o presidente do conselho da Associação Brasileira de Embalagem (Abre), Marcos Barros.
Na primeira metade do ano, a produção física de embalagens cresceu cerca de 1,9% na comparação anual, com leve aceleração no segundo trimestre, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (IBRE/FGV) para a entidade. Para o ano, a expectativa dos economistas é de crescimento 0,3%, no ponto médio do intervalo projetado, de queda de 0,3% a expansão de 0,9%. O setor, contudo, acredita que a tendência é mais positiva, com expansão de 0,5% a 0,6%. E vê como pouco provável uma queda de 0,3%.
“O segundo semestre vai ser de queda, mas não tão acentuada. O último trimestre deve ser mais fraco, mas não o terror que foi no ano passado”, comentou Barros. Dois fatores sustentam a perspectiva ligeiramente mais otimista: a obrigatoriedade da rotulagem nutricional para 100% das embalagens de alimentos a partir de 9 de outubro e o fato de a indústria iniciar o semestre com estoques mais baixos.
Conforme o levantamento da FGV, apenas 4,9% das empresas do setor tinham estoques acima do desejável em julho, contra 10,6% da média histórica. Em relação à nova exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para embalagens de alimentos, não está claro o tamanho do atraso dos fabricantes em se ajustar à regra. A indústria já começou a se adaptar, mas tradicionalmente esses ajustes são feitos mais perto do prazo final. “O início do segundo semestre deve ser mais movimentado por isso”, afirmou o executivo.
De janeiro a junho, houve aumento de produção em todos os materiais usados em embalagens, com exceção de metal. Após encerrar o primeiro trimestre praticamente estável, o segmento recuou 2,6% no segundo trimestre, contrariando a expectativa de desempenho positivo dos fabricantes. A queda inesperada, explica a diretora executiva da Abre, Luciana Pellegrino, pode estar relacionada ao menor consumo de cerveja no período. “Se houve uma pequena retração no consumo de cerveja, as latas de alumínio podem ter sentido também”, afirmou.
“O último trimestre deve ser mais fraco, mas não o terror que foi no ano passado”
— Marcos Barreto
Além disso, embalagens metálicas (aço e alumínio) e de vidro são tipicamente mais caras que os outros materiais. Num período em que a renda está comprimida pela inflação, o consumidor busca produtos mais baratos, o que passa também pela embalagem. A indústria metálica está analisando esses fatores para entender com precisão o desempenho no semestre.
A produção de embalagens de vidro, por outro lado, segue crescente no país, gradualmente deixando para trás os momentos de falta de produto vividos no passado recente. No primeiro trimestre, a alta foi de 6,6%. No segundo, de 8,9%. O segmento de papel e papelão, que também viu desequilíbrio entre oferta e demanda tempos atrás e teve de alargar prazos de entrega para dar conta dos pedidos, recuou 1,4% nos três primeiros meses do ano e subiu 5,8% de abril a junho.
“Tirando lata que foi uma surpresa, os demais materiais estão dentro do esperado”, afirmou Barros, acrescentando que, no segundo semestre, a corrida pela rotulagem nutricional confere viés de alta à produção. O fim do ciclo de alta dos juros, por outro lado, não tende a ter impacto nos volumes produzidos pelo setor.
Olhando para 2024, disseram os executivos, a expectativa é um ano melhor que 2023, que acaba refletindo as incertezas típicas de início de novo governo. “Essa expectativa de cenário mais claro e menos confuso vem tanto da indústria quanto do consumidor. Então a expectativa é melhor do que já foi”, afirmou Luciana.
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