O Brasil continua a conviver com a falta de medicamentos. Uma pesquisa inédita do Conselho Federal de Farmácia (CFF) revelou que 98% dos PDVs farmacêuticos ainda convivem com o desabastecimento.
Realizado entre julho e setembro, o levantamento teve a contribuição de farmacêuticos de 683 estabelecimentos de todos os estados e do Distrito Federal, sendo 68% da iniciativa privada e os 32% restantes da rede pública. Deste total, 671 registraram relatos de falta de medicamentos, especialmente das classes de antimicrobianos – categoria que inclui antivirais – e mucolíticos (expectorantes).
Principais razões para a falta de medicamentos
Na análise das motivações para a falta de medicamentos, a escassez no mercado foi apontada por 86,6% dos entrevistados. A alta demanda inesperada recebeu menções de 43,1%, enquanto 38,6% indicaram falhas do fornecedor.
Dos 671 profissionais que relataram desabastecimento, 470 (70%) disseram não conseguir alternativas. Para os demais 201, as opções citadas incluíram substituição, compra direta, manipulação, contato com o prescritor para apresentação das opções disponíveis e orientação ao paciente para retorno ao médico.
Quanto a alternativas possíveis para contornar a situação, 65,9% relataram não haver alguma medida, plano ou protocolo de mudança de procedimento ou de uso racional de medicamentos adotados pela instituição. Já 34,1% afirmaram haver alguma medida, como substituição do medicamento, uso racional, reforço nos pedidos e limite da quantidade por paciente.
Para Gustavo Pires, diretor-secretário do CFF e coordenador da pesquisa, a escassez ainda reflete os efeitos da pandemia da Covid-19. “A indústria não conseguiu colocar em dia a produção dos fármacos e, por isso, mantém o déficit de importação de algumas matérias-primas essenciais para a fabricação dos medicamentos”, admite.
Carência de insumos exige política de contingência
O problema expõe um gargalo na nacionalização de insumos farmacêuticos ativos (IFAs), que têm 95% da produção importada de mercados como China e Índia.
“Os Estados Unidos estão nacionalizando 180 moléculas consideradas estratégicas a toque de caixa para manter a soberania de produção. O mesmo ocorre com a Índia, que está investindo US$ 8 milhões na nacionalização de 30 moléculas. Ou seja, uma das maiores fabricantes de insumos e medicamentos percebeu a fragilidade desse processo. Mas não vemos nenhum movimento nesse sentido no Brasil”, critica Norberto Prestes, CEO da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi).
De acordo com ele, desde 2020, o que se fez por aqui foi um levantamento das 50 moléculas prioritárias para manter a saúde pública no Brasil. O estudo já foi apresentado para indústria, para os Ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia. Além disso, ainda passará para a Anvisa. “O governo terá um papel muito importante nesse processo pelos altos custos de investimento, principalmente no segmento de doenças raras”, ressalta. Prestes avalia que será preciso investir de R$ 2 bilhões a R$ 4 bilhões para ampliar a produção de IFA no Brasil.
Situação expõe fosso entre grandes redes e independentes
O cenário expõe um profundo fosso entre o grande varejo farmacêutico e os PDVs independentes. Segundo outro estudo, desenvolvido pela Close-Up International, apenas 6% das lojas das redes associadas à Abrafarma apresentam um nível reduzido ou muito reduzido de sortimento. O índice chega a 73% em empresas médias e 98% no pequeno varejo.
Em média, um a cada dez medicamentos enfrenta situação de desabastecimento no grande varejo. Já nas farmácias independentes, a proporção é de cinco para dez.
Fonte: https://panoramafarmaceutico.com.br/falta-de-medicamentos-atinge-farmacias/
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