Marcelo Carneiro, diretor geral da Kosé Brasil

Prever impactos da pandemia da Covid-19 no setor de higiene e beleza é possível, porém só os conheceremos de fato daqui a um certo tempo. Pelo menos essa é a opinião de Marcelo Carneiro, diretor geral da Kosé Brasil. 

Para abordar essa questão, o executivo convida a uma análise do cenário macro e lembra de que o novo coronavírus, além dos desafios de saúde que traz, causa danos econômicos por toda parte.  “Interrompe cadeias de produção e suprimentos, fecha lojas e fronteiras, cancela eventos e viagens, entre outros fatores”, diz o executivo.

“Acredito que até o momento só estamos sentindo uma certa ruptura, não só nas vendas e na distribuição, mas também na produção. É como o repuxo d’água antes do tsunami. O impacto final que a pandemia terá no mercado só iremos ver daqui a alguns meses, depois da reabertura da economia”, afirma.

Carneiro destaca que para certas categorias, as lojas físicas chegavam a representar até 90% das vendas de produtos de beleza, antes da Covid-19. “Com o fechamento das perfumarias, salões e outros comércios especializados, por volta de 50% da distribuição da indústria de beleza foi fechada. E muitas dessas portas nunca abrirão novamente. Pior, aquelas poucas redes que estavam expandindo e se solidificando nos últimos anos, provavelmente irão adiar novas aberturas por pelo menos uns 12 meses”, prevê o executivo.

Esse ponto leva ao próximo, que é a chegada do e-commerce para ficar. Carneiro lembra de que, no Brasil, a penetração do comércio eletrônico ainda era muito pequena até então. “Até mesmo os chamados GenZers (jovens da Geração Z, de 1995 a 2010), que nasceram junto com a internet, ainda faziam quase 80% de suas compras em lojas físicas. Mas a quarentena e as lojas fechadas forçaram muitos consumidores a terem a sua primeira experiência com compras on-line. Agora que viram a facilidade, conveniência e segurança desse canal, acredito que a maioria vai passar a usá-lo de forma frequente e natural, como já acontece em outros países”, diz.

O passeio reflexivo proposto pelo executivo da Kosé também inclui a questão das medidas de prevenção contra a doença, muito necessárias, mas que ainda não estão muito claras de como serão aplicadas e por quanto tempo. Até quando será preciso o distanciamento social e como isso vai afetar o consumo ao longo prazo?

“Quanto mais tempo essas medidas estiverem valendo e, principalmente, sendo praticadas por varejistas e consumidores, maior será o efeito no comportamento do consumidor. Você vai querer ficar na fila para entrar na perfumaria? Quem precisará de 10 cores de batom para usar com máscara? Você vai querer ser atendido ou atendida por uma demonstradora ou promotora, ou querer entrar na loja, pegar o seu produto, pagar e sair?”, reflete Carneiro.

Ele explica ainda que, embora ainda sob incertezas, é possível prever um futuro breve. “Estamos trabalhando com alguns cenários para a economia nos próximos anos, nos baseando na experiência dos outros mercados com a pandemia e na eficácia das decisões de política de saúde e econômica e estimamos que a receita da indústria como um todo deve cair de 15% a 20% em 2020. No cenário mais otimista, a atividade só retornará aos mesmos níveis de antes da Covid-19 em meados de 2021”, afirma o executivo. “Mas, é preciso deixar claro, não existe dúvida alguma sobre a atratividade do mercado brasileiro, mesmo no meio dessa crise. O mercado vai se recuperar, um pouco mais cedo ou um pouco mais tarde”, completa.

Inovação deve acelerar – O diretor da Kosé afirma que o ritmo de inovação, seja em termos de lançamento, promoção ou distribuição, será ainda mais acelerado do que antes. “Mesmo antes da pandemia, marcas tradicionais já estavam buscando mudanças em seus processos de desenvolvimento de novos produtos, pressionadas pela rapidez das marcas chamadas indies, e na sua maioria nativas do digital. Agora, mais do que nunca, a necessidade de intensificar essa velocidade se tornou maior”, diz.

O executivo do grupo japonês visualiza potencial para uma colaboração mais estreita entre marcas e varejistas. “Seja através do compartilhamento de informações para que juntos possamos melhor compreender o novo comportamento dos consumidores ou até mesmo pela criação de estoques virtuais”, diz.

Adaptar e reinventar – O tempo de pandemia trouxe oportunidades. Empresas tiveram de rever planos e identificar melhorias necessárias para se adaptarem e enfrentarem os desafios. Carneiro conta que, na Kosé, o time passou o primeiro mês implementando mudanças na forma de trabalho e no atendimento aos seus parceiros. 

“Na sequência, rapidamente nos centramos em buscar uma forma de auxiliar aos profissionais da indústria de beleza, cientes de que um curto período de paralização já seria suficiente para sérios impactos nesse grupo. Com isso em mente, priorizamos o tema e em sete dias implementamos o nosso programa de apoio com o movimento ‘Fique Bonita, Faça o Bem’”, destaca o diretor. 

Depois disso, a empresa focou em solidificar um canal de comunicação direto com os consumidores. “Até então, trabalhávamos fortemente com sampling (amostras grátis) nas lojas e eventos, situações essas que por algum tempo não seria mais possível viabilizar”, explica.

Desde a sua chegada ao Brasil, em 2017, a Kosé vinha num ritmo de crescimento acelerado e, segundo Carneiro, não sobrava tempo para parar corrigir erros e planejar o futuro. Porém, a pandemia mudou o curso das águas. “Vimos esse momento como uma oportunidade de ouro, já que o nosso negócio sentiu imediatamente os impactos, com quebra de demanda e faturamento. Esse era o momento de repensar nossa maneira de atuação no mercado, de forma a canalizar os nossos esforços em acelerar algumas mudanças que queríamos fazer, mas que nunca era o tempo certo para implementar sem causar rupturas em nossos processos”, diz.

Agora, a Kosé está revendo o seu planejamento para os próximos dois anos. Fazia parte dos planos, por exemplo, o lançamento de pelo menos mais duas marcas até 2021, mas talvez essas novidades tenham de esperar mais tempo para chegar ao mercado. “Ou deverão ser readequadas a outros projetos que façam mais sentido para esse momento que estamos vivendo”, diz Carneiro.

 

Brian Drummond, head de marketing da Mahogany.

Como o consumidor quer – Novas demandas devem fazer as marcas repensarem a forma como promovem os seus produtos nas lojas. Quem explica isso é Brian Drummond, head de marketing da Mahogany. Na opinião dele, uma parte dos consumidores irá direcionar uma parcela maior dos seus gastos com itens de cuidados pessoais. “Isso porque essa pandemia nos trouxe um senso de preservação maior”, diz. Com isso, na visão do especialista, a segurança será uma exigência do consumidor.

Drummond sugere que as pessoas buscarão comprar de forma mais segura, exigindo dos canais físicos, pelo menos por enquanto, menos interação e maior distanciamento das atendentes. “A experimentação em loja passa a ser de forma totalmente controlada e individual”, diz.

Por isso, segundo o executivo, é primordial que as empresas que atuam nesse mercado busquem entender como o cliente quer ser atendido e transmitir segurança em todos os aspectos. De acordo com o executivo, a compra também será cada vez mais consciente. “Portanto as empresas devem ficar atentas ao big data e oferecer itens que realmente fazem sentido para cada consumidor”, afirma.

Quanto ao mercado, o executivo da Mahogany diz que a empresa não vê uma retomada imediata para os níveis do início de 2020 nos próximos 18 ou 24 meses. Segundo ele, isso será gradual e só acontecerá com as empresas que compreenderem o novo momento e conseguirem se adaptar. Planejar, ou replanejar, é preciso.

“Estamos revendo todo o plano de expansão, pipeline de lançamentos e experiência em loja. Tudo para se adequar à nova realidade de onde o cliente quer estar, o que prefere consumir e como vai fazer isso”, conta.

Alguns avanços também foram obtidos devido à pandemia. “Todas as crises podem ser encaradas como uma oportunidade de melhoria. Nunca se sai do jeito que se entrou”, diz Drummond. “Nós revimos diversos processos internos, os quais melhoramos e nos tornarmos mais eficientes. Nossos canais ficaram mais integrados, algo que estava previsto para acontecer em 12 meses aconteceu em 35 dias”, conta.

Patricia Lima, fundadora da marca

Consumo consciente mais real – Consequências da pandemia também podem atribuir um peso mais real ao consumo consciente e impulsionar essa prática entre os consumidores. Especialmente para a Simple Organic, alguns fatores se fortalecem. “Além de vermos o crescimento do mercado digital e o fortalecimento de nossas vendas, após o isolamento social, a diminuição da poluição mundial e a preocupação com o consumo se tornam consequências positivas e visíveis”, diz Patricia Lima, fundadora da marca.

A empresária usa como como exemplo a questão do consumo consciente. “Nesse cenário onde as pessoas se preocupam mais com a saúde, o mercado de cosméticos naturais deixa de ser o que antes era apenas uma tendência e se torna fato consumado”, diz. Patricia conta que a empresa não teve impactos negativos. “O reconhecimento da consciência do consumo natural nos deu a oportunidade de crescer”, diz.

De qualquer forma, Patricia acredita que impactos surjam em pontos de vendas físicos, porém a empresa já se preparou para essa questão. “Como temos franquias espalhadas pelo país, uma das soluções encontradas pela equipe foi criar um projeto de representantes digitais da marca, onde temos clientes e revendedores que proporcionam a união do ambiente físico com o digital, minimizando tal impacto diante da pandemia”, diz.

 

 

Karla Constâncio, presidente da empresa

Fortalecer a marca – Frente a tantos desafios, incluindo acesso a matérias-primas e questões logísticas, entre outras, a novata no mercado K Constâncio investe em manter a marca na mente do consumidor. “Isso se tornou um desafio e o marketing digital é um aliado”, diz Karla Constâncio, presidente da empresa.  

“Promoção, frete grátis e intensificação de conteúdo on-line são palavras de ordem para minimizar os impactos imediatos da pandemia, além de uma boa equipe, bem treinada e motivada, para dar suporte aos pontos de venda”, completa a empresária empreendedora.

Karla também visualiza desejos de consumo que devem ser atendidos daqui para a frente. A empresa acredita que os consumidores vão procurar maneiras de tornar a sua rotina mais fácil. “Produtos multifuncionais, procedimentos duradouros, como maquiagem permanente, produtos skin care, naturais, biocompatíveis, sustentáveis e cosméticos seguros, com texturas e sensoriais diferenciados ganharão cada vez mais espaço”, afirma. “Com relação ao produto, ‘fazer o que promete’ será cada vez mais cobrado pelo consumidor”, alerta.

 

 

 

Limpeza deve passar mais fácil pela crise

Crescimento previsto antes da pandemia pode ser mantido

No início do ano, a expectativa do setor de limpeza no Brasil – que movimenta cerca de R$ 20 bilhões anuais e responde por 50 mil empregos diretos – era de crescimento, em termos de produção, entre 3% e 3,5% em 2020. Mesmo diante de uma crise geral, e global, sem precedentes por décadas, o mercado deve manter as previsões.

“Apesar da pandemia, acredito que esse número se manterá, até pela importância do uso desses materiais na higienização de ambientes domésticos e de empresas”, diz Paulo Engler, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional (Abipla). 

“O que se pode deduzir, até aqui, é que a programação de produção e vendas, para o ano de 2020, deverá ser confirmada, na maioria dos produtos de limpeza. Dadas as circunstâncias da pandemia, manter o crescimento estimado no início do ano e garantir a manutenção dos empregos do setor, como estamos fazendo, é algo a se comemorar”, acrescenta.

Nos últimos três anos antes do novo coronavírus, o mercado de limpeza vinha passando por algumas mudanças e aperfeiçoamentos, em especial por conta de lançamentos. “Produtos mais sofisticados e multiusos começaram a participar da compra das famílias, aqui considerando a múltipla funcionalidade e a praticidade no uso e manuseio. Com a pandemia, notamos um recuo nessa curva”, diz Engler. 

“Num primeiro momento, no início da quarentena, a venda de álcool para limpeza, vassouras e sacos de lixo foi impulsionada. Algumas semanas depois, houve um aumento forte na demanda por água sanitária, desinfetantes e sabão em barra. Acredito que as recomendações médicas para reforçar a higiene doméstica e o fato de as pessoas serem obrigadas a permanecerem mais tempo em casa tenham influenciado nesse comportamento”, diz.

O diretor da Abipla afirma que, provavelmente, haverá um aumento na demanda e na oferta de itens de limpeza perfumada, sabões hipoalergênicos, produtos com enzimas para limpeza e tratamento de tecidos e bactericidas de alto valor agregado, como alguns produtos lançados recentemente. “Por conta da pandemia, também acredito que a preocupação das pessoas com higienização e desinfecção é uma tendência que veio para ficar”, afirma.

Direto ao ponto – O primeiro e mais importante ponto é a cultura de se cuidar e cuidar da casa, manter limpos os ambientes usando produtos de higienização. A segunda é a atenção com as roupas e o corpo, a troca de roupas ao chegar em casa, bem como os calçados, tendo um zelo no sentido de uma prevenção maior. Essa é a ótica de Gilmar Borscheid, diretor da Girando Sol, fabricante do Rio Grande do Sul. 

“Precisamos ser proativos em relação à higienização de nossas casas. O consumidor se deu conta de que é necessário ter mais cuidado, pelo bem da sua saúde, da sua família e de pessoas próximas. Por isso é ainda mais importante a nossa orientação, como empresa, a fim de informar o consumidor para que ele saiba quais produtos são eficientes ou não para o combate de vários vírus”, afirma.

O consumidor deve ter um novo comportamento e a Girando Sol já está de olho no que será essencial. “Visualizamos o novo jeito de consumir, um consumo mais consciente, com produtos mais eficazes”, explica Borscheid.

Quanto ao momento da pandemia, a empresa pode contribuir com as necessidades dos consumidores. Produtos como água sanitária, alvejantes, sabão, detergente lava-louças, desinfetante e lava-roupas em pó tiveram maior destaque nos negócios da companhia. “De certa forma, é como se formassem um kit Covid-19, que são para os cuidados pessoais, com as roupas e a casa”, diz o diretor.

Produtos essenciais – O mercado de cuidados com a casa é um dos que mais cresce durante a pandemia. Daniel Fadiga, gerente de marketing das marcas de home care da Colgate-Palmolive – Pinho Sol, Ajax e Ola –, explica que além de uma maior preocupação com a higienização, os consumidores estão passando mais tempo em casa, e, com isso, o cuidado é mais constante.

“Os consumidores começaram a ter um melhor entendimento da categoria. Mais do que nunca, a diferença entre limpeza e desinfecção está cada vez mais clara e os consumidores buscam produtos específicos para cada fim. Além disso, notamos que os consumidores se voltam para marcas que já conhecem e confiam, pois precisam da garantia de que o produto irá entregar os benefícios prometidos”, afirma Fadiga.

Na visão do executivo, para minimizar os impactos, as empresas que atuam no setor devem deixar bem claro os benefícios de cada produto nas embalagens, e de uma forma geral, ajudar os consumidores com informações e formas de uso. “As ‘dicas práticas’ ajudam a trazer clareza para ações que podem ser tomadas no cotidiano de cada um”, diz.

Visão futura – O futuro breve é promissor para limpeza, segundo o gerente da Colgate-Palmolive. “Apesar de não termos dados concretos, a tendência é que o mercado continue crescendo e se expanda cada vez mais”, diz. Umas das tendências que deve se consolidar, segundo Fadiga, é automação de algumas tarefas. “As vendas de ‘robôs aspiradores’ estão crescendo, por exemplo”, conta.

Fadiga prevê que as pessoas vão cada vez mais buscar praticidade, seja através de tecnologia ou por meio de novos formatos. Segundo o gerente, além da forma, o consumidor estará mais atento ao conteúdo. “Vão identificar e buscar produtos que, como o Pinho Sol, eliminam 99% dos germes e bactérias”.

Novidades também podem ser inspiradas em outros mercados daqui para frente, com mais frequência ou velocidade. “Os principais escopos de mudança serão em torno da eficácia ou benefícios agregados, bem como formatos que são populares em outros lugares do mundo e podem ganhar relevância por aqui”, exemplifica Fadiga.

Até mesmo a embalagem deverá contar com potenciais transformações no uso dos produtos de limpeza. Fadiga explica que como a categoria de cuidado da casa ficou mais próxima dos consumidores, ela vai demandar conveniência e praticidade, seja para as tarefas domésticas ou para utilizar no local de destino, no carro etc. “Vários consumidores passaram a colocar um pulverizador ou gatilho direto na garrafa do Pinho Sol para tornar o produto mais prático. Com o aumento do consumo, embalagens maiores também podem ganhar destaque”, conclui.

Mudanças duradouras – A Covid-19 está tendo um impacto sem precedentes nas vidas das pessoas e nas economias em todo o mundo. A Unilever se moveu com velocidade para dar o suporte necessário aos seus múltiplos stakeholders e manter as operações em meio à crise, preparando-se para o crescimento em um “novo normal”. “Estamos nos adaptando aos novos padrões e às novas demandas, e nos preparando para mudanças duradouras no comportamento do consumidor”, conta Yasmine Antacli, diretora de marketing da Unilever.

Entre as mudanças mais imediatas, a empresa destaca três: aumento da preocupação com limpeza, a frequência dessa limpeza e de novos lugares que antes não eram limpos; aumento na procura por produtos antibac, tanto para uso pessoal quanto da casa; e crescimento das compras virtuais.

Prever o futuro é algo complicado na visão da executiva. Segundo ela, o mundo nos próximos anos deverá se acostumar a um “novo normal”. “A nossa perspectiva é que o mercado de higiene e limpeza se reinvente com novas fórmulas e tecnologias para proteger ainda mais as pessoas e as suas casas e se torne cada vez mais relevante na cesta do consumidor, uma vez que produtos de higiene e limpeza têm relação direta com a saúde”, diz.

A executiva diz que por conta de todo esse cenário, a categoria de Home and Hygiene, que é de produtos para cuidado com a casa, tem sido aquela em que os consumidores têm confiado a segurança de suas casas. “Sabemos da nossa responsabilidade em oferecer produtos que realmente eliminam germes, vírus e bactérias dentro das casas das pessoas, deixando as famílias seguras. Diariamente revisitamos toda a operação, tomamos novas decisões e pensamos diferentes maneiras de enfrentar esse cenário. Uma das rotas que decidimos mudar foi a antecipação de alguns lançamentos que já estavam previstos para o ano, a fim de oferecer para a população mais um aliado na limpeza durante esse período tão difícil”, conta Yasmine.

Segundo a diretora, os produtos que têm tido bastante destaque nesse período são da linha de bactericidas e sanitizantes, uma vez que as pessoas estão limpando mais lugares e mais vezes do que no período pré-pandemia, como maçanetas e botões de elevador, entre outros. “Nesse cenário, ganham relevância os lançamentos de Omo Desinfetante, com uma linha de desinfetantes líquidos e em lenços umedecidos que foram aprovados pela Anvisa no combate ao novo coronavírus e garantem a eliminação de germes e bactérias das superfícies, bem como os produtos de CIF com poder antibac, como o CIF Higienizador+Álcool, para o qual tivemos uma força tarefa para garantir todo abastecimento de produto para os consumidores”, diz.

Yasmine afirma também que houve um crescimento na preocupação com a limpeza das roupas. “Aqui temos destaque para Brilhante, que é o primeiro detergente para roupas sanitizante do mercado”, afirma. A mais recente novidade da marca é Brilhante Delicadeza Total, com óleo de coco natural. O produto promete desinfetar as roupas brancas e coloridas, enquanto cuida das cores, e possui enzimas que penetram profundamente nas fibras do tecido, removendo toda a sujeira e dificultando que ela se deposite ali novamente, mantendo a limpeza por muito mais tempo.

Visão de fornecedores e distribuidores

“A grande dificuldade de rastrear os objetos e superfícies que possam ter sido contaminadas fará com que as pessoas criem novas rotinas de limpeza, tornando mais frequente o uso de sanitizantes com claims de ação antimicrobiana e antiviral para descontaminar superfícies como pisos, portas e maçanetas, e objetos como embalagens de produtos e até roupas e calçados. Para conseguirem adicionar esses hábitos mais frequentes em suas rotinas, é esperado que os consumidores busquem produtos que ofereçam praticidade e comodidade, diminuindo o tempo gasto para cumprir seu ritual de sanitização. Formatos como wipes e spray são opções que ajudam a facilitar o uso e podem fazer sucesso no período da pandemia e virarem um hábito incorporado pelos consumidores. Além disso, devido ao uso mais frequente de produtos que garantam performance, também veremos uma busca por fórmulas que entreguem eficiência e não sejam agressivas para a saúde, superfícies, móveis, tecidos e também para o meio ambiente. As marcas que conseguirem ajustar suas fórmulas para atender a essa necessidade terão um grande diferencial versus a concorrência”.

“Com o isolamento social e a preocupação dos brasileiros com os riscos aos impactos no estilo de vida, surgem mudanças nos hábitos de compras e estocagem. Com isso, o mercado de higiene e beleza fica com suas projeções em alerta e incertas para determinados segmentos como maquiagens, linhas profissionais e de salão, tratamento estético. O foco está nos produtos essenciais de higienização e autocuidados, principalmente skin care, uma vez que a rotina de relaxamento facial equilibra as emoções afloradas em que nos encontramos. As empresas precisam estar a cada dia mais próximas dos consumidores, seja por meio de redes sociais ou analisando pesquisas de mercado que posicionam quais são os novos hábitos e as perspectivas futuras. Dessa forma, para minimizar os impactos, abre-se espaço para as inovações em produtos multifuncionais que promovam as tendências wellnes e do it yourself, assim tendo um papel indispensável no dia a dia dos consumidores em suas rotinas de bem-estar físico e mental, criando mais do que uma conexão de compra e venda e sim uma experiência emocional”.

“Diante da pandemia da Covid-19, as empresas do mercado brasileiro de higiene e beleza estão se reinventando de diversas formas para se aproximarem do consumidor, como investir em plataformas digitais para se manterem ativas, mesmo em tempos de tantas mudanças. Um exemplo disso é a cocriação de produtos. Algumas marcas, como a L’Oréal, estão inserindo o público na definição de cores e claims dos cosméticos lançados, focando em ações que também poderão contribuir no pós-crise. Apostar no envio de kits para testes dos produtos durante esse período também é uma boa forma de se manter por perto dos seus clientes. Além disso, entender o que os consumidores buscam e esperam das marcas nesse momento é essencial para o sucesso dos novos lançamentos”.

Inovações na mira

A reportagem da Revista H&C conversou com Amanda Caridad, especialista sênior da Mintel para entender um pouco mais a questão dos impactos da Covid-19 no setor. Confira:

Quais são os principais impactos da pandemia no mercado brasileiro de limpeza? 

A categoria de produtos para limpeza da casa nunca presenciou uma oportunidade tão propícia para inovações. Dentre os principais impactos para a categoria, podemos elencar:

Aumento sem precedentes por desinfecção de superfícies. Na pesquisa contínua realizada pela Mintel, de 13 a 30 de abril, 59% dos brasileiros declararam que passaram a limpar a casa com mais frequência, especialmente superfícies. É importante ressaltar que além da limpeza, os consumidores brasileiros passaram a priorizar o uso de saneantes com comprovada ação desinfetante, especialmente após as recomendações do Ministério da Saúde e da Anvisa em março. Se a primeira onda da pandemia no Brasil foi marcada pela corrida dos consumidores para estocar suprimentos básicos, incluindo produtos de higiene e limpeza da casa, vemos que esse índice já retorna à normalidade, uma vez que os brasileiros passaram a realizar compras apenas para reabastecimento, em quantidades menores. Isso não quer dizer, no entanto, que os consumidores reduzam o consumo de produtos de limpeza para casa. Em mais recente pesquisa, realizada entre 16 e 28 de maio, 50% dos brasileiros afirmaram que aumentaram a prioridade para a compra de itens de limpeza da casa, indicando que mesmo após o fim da pandemia, é esperada a continuidade da preocupação com a higiene e proteção da casa contra germes.

Busca por conveniência e praticidade. Em um contexto em que a casa passou a configurar o espaço de trabalho, lazer/entretenimento e convívio social, apesar de muitos consumidores terem aumentado a frequência com que limpam a casa, a busca por soluções que ajudem nas tarefas domésticas tornou-se importante. Na pesquisa realizada em abril, 28% dos brasileiros afirmaram ter passado a comprar produtos que os ajudam a economizar tempo na limpeza, como lenços umedecidos descartáveis para limpeza de superfícies.

Lavagem das roupas ao retornar de locais públicos. Na mesma pesquisa realizada em abril, quase metade dos brasileiros passou a lavar as roupas ao retornar de locais públicos, seguindo as orientações do Ministério da Saúde. Além de lavarem as roupas ao retornarem para casa, 29% dos entrevistados afirmaram que aumentaram a duração do ciclo de lavagem para garantir que as roupas estejam limpas e desinfetadas. Com isso, tornam-se necessários detergentes que sejam desenvolvidos a fim de prolongar o tempo de vida das roupas e proteger os tecidos.

Lenços umedecidos tornam-se opção prática para donos de pets. Assim como o Ministério da Saúde recomenda a higienização dos sapatos ao retornar da rua, as patas e pelos dos animais de estimação devem ser higienizados quando retornam de passeios, uma vez que eles podem ser contaminados por gotículas de saliva de pessoas contaminadas pelo vírus. Dentre os consumidores que adotaram medidas de higiene específicas desde o início da pandemia, segundo a pesquisa 14% dos consumidores brasileiros que têm animais de estimação declararam que passaram a usar lenços de limpeza para limpar os pets ao retornarem para casa. Existe a oportunidade de as marcas explorarem formulações que sejam gentis à pele dos animais, mas que ao mesmo tempo ofereçam proteção contra germes e bactérias.

Casas tornaram-se santuário durante o isolamento. Com o aumento dos níveis de estresse e ansiedade causados pela pandemia, os consumidores passaram a priorizar seu bem-estar dentro de casa, buscando formas de tornar o seu lar como um refúgio. Conforme o condutor de comportamento identificado pela Mintel, Wellbeing (ou Bem-Estar em português), os consumidores buscam por bem-estar físico e mental. As marcas de cuidados com o lar podem inovar ao oferecerem produtos que evoquem benefícios emocionais, os chamados mood-boosters. Em pesquisa realizada antes do início do surto da Covid-19 no Brasil, em dezembro de 2019, 64% dos brasileiros afirmaram buscar continuamente por meios de reduzirem o estresse. Além disso, as marcas podem iniciar colaborações com influenciadores que reproduzam conteúdo mais real e que promovam os seus produtos genuinamente, criando laços mais estreitos com os consumidores. Essas colaborações podem inspirar e ajudar os consumidores a limparem e organizarem a sua casa, tema que se tornou prioritário durante o isolamento, e que acreditamos que continue a ser relevante no médio prazo.

Em geral, o que pode ou deve ser feito pelas empresas que atuam nesse mercado para minimizar os impactos?

Todas as marcas tiveram que adequar seu portfólio às necessidades impostas pelo vírus, e, além disso, a presença no canal online foi fundamental para que as marcas continuassem a revender os seus produtos. Além das que oferecem itens eficientes no combate à Covid-19, os consumidores passaram a valorizar marcas que atuam de forma responsável e ética.

Diferentes empresas priorizaram a produção de álcool 70% em gel e em formato líquido, incluindo empresas que não tinham esse produto em seu portfólio. Mais do que um esforço para atender à demanda repentina e sem precedentes pelo produto, essas empresas também realizaram doações de saneantes, incluindo álcool em gel, para comunidades carentes e hospitais.

De acordo com um dos condutores de comportamento do consumidor identificados pela Mintel, Surroundings (ou Arredores em português), os consumidores estarão mais dispostos a comprarem marcas que atuem de forma ética. Em pesquisa realizada em dezembro de 2019, 51% dos brasileiros afirmaram que estariam preparados para boicotarem empresas que não atuassem de forma ética. Especialmente em momentos de crise, práticas morais e éticas ressoarão de forma positiva entre os consumidores.

Qual é a sua previsão para o mercado nos próximos cinco anos?

A pandemia da Covid-19 mudou a vida dos consumidores ao redor do mundo de forma drástica e repentina, alterando o seu estilo de vida e mudando as suas prioridades. Para os próximos cinco anos, prevemos que os consumidores priorizarão a compra de produtos que unam ciência à natureza, para criar soluções seguras e com eficácia comprovada na proteção contra germes e bactérias. Além disso, ao realizar nossa pesquisa para analisar os impactos da Covid-19 nos hábitos de limpeza da casa dos brasileiros, foi possível identificar que os consumidores estão despendendo menos tempo na limpeza doméstica para aproveitarem outras atividades, como cozinhar as suas próprias refeições ou realizarem tratamentos de beleza para cuidarem da aparência.

Em pesquisa realizada em dezembro de 2019, 85% dos brasileiros afirmaram que buscam por diversão em todos os aspectos da vida, refletindo um dos condutores de comportamento do consumidor identificados pela Mintel, Experiences (ou Experiências em português), que ilustra que os consumidores estão mais propensos a selecionarem produtos de limpeza que sejam convenientes, ajudando-os a reduzir o tempo nas tarefas domésticas.

De acordo com pesquisa no Google Trends, a busca pelo termo “aspirador de pó robô” registrou crescimento de 110% de fevereiro a maio de 2020. Apesar desse item ser caro, os brasileiros se mostram dispostos a investirem em soluções que ofereçam praticidade. De acordo com a Tendência da Mintel para a categoria de Cuidados da Casa, Clean Machine (ou Limpeza Automatizada), com o avanço da tecnologia os consumidores passarão a buscar produtos e serviços que os ajudem a gerenciar a sua saúde e o estado de limpeza da casa. As marcas de produtos de limpeza podem inovar ao criarem colaborações com marcas de eletrodomésticos para o desenvolvimento de itens que estejam em sinergia com soluções tecnológicas.

Os estudos atuais que a sua empresa está realizando trazem que tipo de conclusões, alertas ou previsões? 

Além de praticidade e eficácia na desinfecção e limpeza, os brasileiros demonstram interesse por práticas sustentáveis, promovidas pelo uso do formato refil ou de produtos concentrados que possam ser diluídos em água, sem a necessidade de compra de embalagens regulares.

A exemplo de empresas que já criaram estações de refil na Europa e nos Estados Unidos, as marcas no Brasil podem oferecer o mesmo tipo de serviço para os consumidores, até como uma maneira de economia, uma vez que a embalagem representa peso importante no preço de produtos.

No que diz respeito ao canal de compra, o varejo on-line de produtos de limpeza promete ter alta penetração nos lares brasileiros, em decorrência do isolamento social praticado para conter a disseminação da Covid-19 e evitar aglomerações em supermercados. Com isso, é fundamental que os varejistas aumentem a variedade de produtos através do e-commerce ou de aplicativos, adaptando os seus canais e oferecendo maior transparência e segurança com os dados dos consumidores (como cartão de crédito) e flexibilizando a troca ou a devolução de produtos.

Fonte: https://revistahec.com.br/impactos-e-previsoes-pos-pandemia/

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