A produção de vacinas anticovid começa a acelerar globalmente, mas será insuficiente para atender a demanda prevista neste ano. Ao mesmo tempo, as pressões aumentam para que laboratórios ocidentais aceitem licenciamento voluntário a fim de que vários países fabriquem o imunizante.

A estimativa de produção é de 9,5 bilhões de doses neste ano, enquanto a demanda prevista é de 11,5 bilhões de doses – ou seja, haverá escassez de 2 bilhões de doses na melhor hipótese, se tudo correr bem. Com a capacidade de produção maior, o déficit será inferior ao das projeções anteriores.

Até agora, foram produzidas menos de 500 milhões de doses, das quais grande parte adquiridas por países desenvolvidos. A expectativa é que a produção cresça mensalmente. Os dados são da Airfinity, consultoria de saúde em Londres.

A China tornou-se rapidamente o maior produtor mundial, com 141,6 milhões de doses até agora. Os EUA vêm em seguida, com 103 milhões. A Índia produziu 42,3 milhões. O Brasil está na décima posição como produtor, com 200 mil doses.

Em debate nesta semana no think tank britânico Chatham House, envolvendo fabricantes, representantes de algumas organizações internacionais e especialistas, uma preocupação foi com eventual escassez de insumos, de forma que os atuais compromissos de produção possam não ser alcançados até o fim do ano.

Até o começo de março a pandemia fez 2,6 milhões de mortos e os custos econômicos são estimados entre US$ 5 trilhões e US$ 14 trilhões por ano.

Até agora 11 vacinas estão em uso nos países onde obtiveram aprovação, frequentemente com autorização emergencial. Mais de 80 candidatas estão em fase de testes clínicos e centenas em fases anteriores.

O aumento na capacidade até agora é considerado importante. Normalmente, demora mais de cinco anos para construir uma fábrica nesse segmento e 18 a 30 meses para transferir tecnologia para outros produtores.

A pressão aumenta sobre a necessidade de os laboratórios permitirem o licenciamento de suas vacinas, a preços de custo, sobretudo em países em desenvolvimento capazes desse tipo de manufatura.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, reitera a importância de produção sustentável ao redor do mundo. E menciona exemplos, como AstraZeneca, que compartilhou suas licenças, de forma que as vacinas podem ser produzidas em múltiplos sites. Também Pfizer e Sanofi fizeram acordos para transferência de tecnologia. Alguns governos, como o do Canadá, fizeram acordos com companhias farmacêuticas individualmente e estão instalando unidades de produção, que funcionarão dentro de alguns meses.

Fontes da indústria argumentam, por sua vez, que até hoje nenhuma demanda de licença compulsória para vacinas foi bem-sucedida. Para medicamentos, sim, mas para o imunizante não, em razão de sua complexidade.

Além disso, dizem que não se pode transformar uma fábrica existente para produzir vacina anticovid. É necessário montar especificamente nova cadeia de produção. E em países sem a mão de obra qualificada, isso pode durar anos, de forma que a produção poderia ocorrer depois de passada a pandemia.

Para uma fonte diplomática, a pressão é grande sobre a indústria farmacêutica para que aceite o licenciamento voluntário. “Isso pode ocorrer, mas a indústria vai querer controlar tudo e só vai licenciar para quem ela quiser”, acredita essa fonte.

Fonte: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/03/12/laboratorios-estao-sob-pressao-para-licenciamento-de-vacinas.ghtml

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