As farmácias foram os locais aos quais as pessoas recorreram durante a pandemia – o que fez uma grande diferença na vida da população. E no pós-pandemia? Entender o comportamento de consumo por meio de dados é um diferencial indispensável para o sucesso do segmento.
Em paralelo ao Conexão Farma, a Associação Brasileira de Distribuição e Logística de Produtos Farmacêuticos (Abradilan), realiza, tradicionalmente, o Encontro de Líderes, evento exclusivo para associados, sócios colaboradores e convidados. Neste ano, debates importantes estiveram em pauta. Os temas conduzidos pelos profissionais mais renomados do mercado produziram uma ampla visão do comportamento do segmento farmacêutico e de toda a economia, crescentemente digitalizada, inovadora e competitiva nos próximos meses – no que se tem chamado de pós-pandemia.
Segundo o CEO da Biolab, Cleiton de Castro Marques, a desorganização global, principalmente na área de transportes, incluindo a suspensão de voos comerciais, causou uma grande preocupação no que diz respeito ao abastecimento da cadeia de suprimentos – mas a indústria conseguiu atender às demandas de forma muito significativa. As rupturas foram pontuais e refletiram pouco no mercado. ‘Hoje, ainda há uma desorganização, falta de containers, sobra em alguns países e falta em outros, a reorganização ainda leva um tempo, pois há um período de adaptação. Além disso, há uma pressão de preços, principalmente pela guerra da Rússia contra a Ucrânia. Mesmo assim, não houve qualquer tipo de desabastecimento’.
Marques destacou ainda que a inflação do Brasil, este ano, será menor do que a do mercado americano. ‘Vamos importar inflação. Em termos de contato, o Brasil está muito bem – o nível de serviços espetacular e com rapidez na entrega dos suprimentos.’
O CEO da Biolab ressaltou que um aprendizado muito importante é que cada indústria está procurando seu caminho – e inovação é uma questão de sobrevivência do setor. O presidente da IQVIA para a América Latina, Nilton Paletta, destacou em sua fala a influência do envelhecimento da população e todas as oportunidades que ele traz. ‘Hoje, vivemos em média 76 anos. Se a gente olhar em termos de crescimento do mercado farmacêutico, isso vai ter um impacto muito grande’.
Para que as decisões sejam as mais assertivas possíveis no futuro, Paletta ressaltou que os dados são fundamentais. ‘Temos mais de 180 ofertas/mês. Como definir uma força de vendas no modelo híbrido, por exemplo? São muitos dados e muita informação legal para o atendimento de 84 mil farmácias ativas. Além disso, tivemos a migração das capitais para o interior, o que se configura como uma tendência’.
O executivo fez um alerta importante, que deve ser levado em consideração pelos líderes do canal farma. A retomada do emprego, com a formalização da carteira de trabalho, traz mais planos de saúde e, consequentemente, mais consumo. ‘É preciso entender como esse consumidor se comporta’.
Digitalização: não para todos
O presidente da Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar), Edison Tamascia, complementa: segundo ele, é preciso entender e fazer no presente tudo o que for necessário para viver o futuro – mas quando a pandemia chegou, não sabíamos o quanto era precisa evoluir.
No que diz respeito à digitalização, ele foi enfático ao dizer que ela não se aplica a todos. ‘Não podemos pensar que o Brasil inteiro se resume à realidade da Avenida Faria Lima, por exemplo. Há outros processos muito mais importantes em São Paulo. O e-commerce é a última etapa da preocupação. Como teremos market places, aplicativos (apps) como Rappi ou Ifood vendendo medicamentos a 19% de comissão? É uma conta que não fecha – como você vai pagar 19% para alguém fazer uma venda para você? Se isso acontecer, precisaremos reinventar o negócio, o atual não funcionará mais. O que é mais urgente atualmente é pensar nos processos de digitalização dos processos da farmácia, para melhorar a rentabilidade dos negócios. Discussões de e-commerce e market places são muito perigosas e não é o caminho que eu gostaria de ver para o mercado farmacêutico. Ainda temos 50 mil farmácias desprovidas de alguém para olhar para elas.’
Farmácias: a porta de entrada
Por fim, o CEO da Associação Brasileira das Redes de Farmácia e Drogarias (Abrafarma), Sérgio Mena Barreto, afirmou que os legados deixados pela pandemia levam o mercado para outro patamar. ‘Não tem preço as pessoas saberem tanto sobre saúde como sabem agora. Nós esperávamos uma oportunidade como essa e não sabíamos que aconteceria agora. As pessoas se conscientizaram de que não adianta viver muito e viver mal, as pessoas se conscientizaram de que não dá para comprar vida. Essa oportunidade vai continuar aumentando a adesão ao tratamento, aumentando recorrência, enfatizando a importância da suplementação e do autocuidado. Devemos aproveitar o momento e ver nisso uma oportunidade’.
Para o futuro, ele acredita que o estabelecimento que faz curadoria, olha para o paciente, registra dados, faz recorrência, aborda o cliente, conhece a jornada dele, sairá na frente da concorrência. ‘As farmácias foram os locais aos quais as pessoas recorreram durante a pandemia. Nós fomos a grande diferença, nós somos o novo, um hub de saúde, com farmacêuticos engajados’.
Mena Barreto destacou ainda que a ciência nunca atuou tão rápido: as pessoas descobriram que a vida é o fio da navalha. ‘Nunca tivemos um nível de compaixão tão alto, passamos a entender a dor do outro. A farmácia é a porta de saída ou de entrada para os problemas de saúde do Brasil.’
Papel da Abradilan no todo
Segundo o presidente da Abradilan, Jony Sousa, houve uma valorização de cada elo da cadeia. ‘A Abradilan vem se preparando há algum tempo, com planejamento estratégico, para olhar para os próximos cinco anos, ajudando o distribuidor na gestão do negócio, entregando acesso a conteúdo, disponibilizando ferramentas para o desenvolvimento do associado. Há pelo menos 20 anos os distribuidores já operam com pedido eletrônico. Hoje é possível acessar o distribuidor de diversas formas.’
A associação atua fortemente promovendo e apoiando o desenvolvimento do varejo, principalmente o varejo independente. ‘Em 24 ou 48 horas estamos entregando em 91% das farmácias do Brasil e isso é algo cada vez mais valorizada pelo setor. Trabalhamos em um mercado cada vez mais descentralizado, mas que precisa ser atendido’.
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