Poucas palavras podem definir tão bem o varejo farmacêutico em 2022 como maturidade e resiliência. Mesmo em um ano pautado pela inflação e falta de medicamentos, o setor viu o faturamento bruto crescer em torno de 14%, acima da projeção de 9% do varejo em geral.
Dados da Close-Up International indicam uma receita de R$ 169,5 bilhões nos últimos 12 meses até setembro. Descontada a inflação, a alta é de 7,5% sobre o período anterior. Mas a julgar pelos resultados do fim de ano, pode-se esperar um desempenho ainda melhor. De acordo com o Cielo, o movimento de vendas em farmácias no Natal aumentou 15,3%, enquanto todos os segmentos do varejo cresceram 10,5% em média.
À exceção das pequenas redes, a receita bruta teve incremento de dois dígitos em todos os nichos de farmácias – na faixa de 12% a 16%. “Considerando a América Latina, o Brasil é o país com maior equilíbrio na divisão de vendas. As grandes redes representam 50% do mercado, contra 85% no Chile. Na Argentina acontece o inverso, com as independentes dominando 75% dos negócios”, explica Paulo Paiva, vice-presidente da Close-Up International.
Share do varejo farmacêutico em PDVs e faturamento
A performance do varejo farmacêutico está atrelada, sobretudo, ao volume de produtos disponível e ao preço médio. Como exemplo, as 447 redes de farmácias em operação no país comercializam, em média, 10.908 produtos. Esse total em proporção ao número de empresas é de 24,4 – índice abaixo apenas do da Argentina, com 25,8. O terceiro colocado, Peru, está bem distante, com 18,7.
“Esse dado reforça a importância de uma gestão estratégica do estoque, capaz de incorporar competitividade e propiciar um controle de custos mais eficiente, o que influi positivamente no preço ao consumidor”, argumenta.
E-commerce e hubs de saúde puxam grande varejo farmacêutico
A boa administração do estoque, aliás, foi uma tônica no grande varejo farmacêutico, onde a falta de medicamentos afetou somente um em cada dez produtos. O acréscimo na receita desse segmento foi de 12%, mas chega a 17% nas redes associadas à Abrafarma. Mesmo concentrando apenas 9% do número de lojas, as redes de maior porte movimentam metade das vendas.
“Poderíamos até crescer mais não fossem esses problemas de desabastecimento que prejudicaram toda a cadeia”, destaca Sergio Mena Barreto, CEO da entidade, que congrega 13 das 17 redes com faturamento bilionário. O Grupo Tapajós foi um dos que entrou mais recentemente nesse grupo.
As redes bilionárias do varejo farmacêutico (em bilhões de R$)
A atenção redobrada ao estoque ganhou ainda mais evidência a partir da consolidação do e-commerce. As vendas online cresceram expressivos 52,2% nos últimos 12 meses até setembro, segundo dados da IQVIA obtidos com exclusividade pelo Panorama Farmacêutico. O share das vendas digitais subiu dois pontos percentuais em relação a 2021, saltando de 6,3% para 8,3%. Antes da pandemia, esse índice não chegava a 3%.
“Estamos trabalhando com sucesso a combinação entre a agilidade digital e a experiência na loja física. O consumidor tem acesso a uma jornada de compra e saúde muito mais fluida na farmácia”, avalia Barreto. Redes como a RaiaDrogasil, aliás, destacaram-se mundialmente em função do tráfego digital.
As grandes redes também solidificaram seu posicionamento como hubs de saúde e alcançaram a marca de 20 milhões de testes rápidos da Covid-19. “São 22 mil atendimentos por dia, o que refletem o papel determinante das farmácias para interromper o ciclo de dispersão do coronavírus e desafogar a rede pública”, pontua o dirigente.
No associativismo, o lema é transformação digital
Com avanço de 14%, o associativismo tem três representantes no clube do bilhão do varejo farmacêutico – as Farmácias Associadas, o Grupo Total e os PDVs que integram a Farmarcas. E o segmento vem apostando na transformação digital como motor de desenvolvimento das farmácias.
No ano passado, a Febrafar decidiu embalar suas soluções de gestão em um único ecossistema, englobando processos administrativos, fluxos de compra e venda e o projeto para implementar ferramentas de e-delivery nas redes afiliadas. “Atualmente, contamos com 18 ferramentas de Power BI que norteiam a tomada de decisões dos PDVs”, enfatiza o presidente Edison Tamascia.
Também comandada por Tamascia, a Farmarcas seguiu o mesmo caminho sustentada por um investimento de R$ 15 milhões. O resultado foi a criação da plataforma Radar, que unificou informações sobre rotinas administrativo-financeiras, performances comerciais e de marketing.
“Embora haja grande demanda de novos empresários dispostos a aderir a nossas bandeiras, mais de 80% das nossas lojas são montadas por quem já gerencia uma farmácia da rede. Isso demonstra que o associativismo vem cumprindo sua missão de incentivar o empreendedorismo entre farmácias pequenas e médias”, observa o diretor geral Paulo Costa.
Já a Abrafad, cujas 20 redes associadas somam R$ 5 bilhões de faturamento, estabeleceu o primeiro passo de seu projeto de inovação com a estruturação de uma diretoria de operações. “Essa área conduzirá a implementação de quatro ferramentas que apresentarão o dashboard de desempenho, integrado a uma plataforma única e com módulos relacionados a precificação, fidelização, compras e business intelligence”, explica o diretor executivo Nilson Ribeiro.
Pequenas redes mantêm consistência
Tradicionalmente mais flexíveis na precificação e favorecidas pela maior procura por lojas de bairro no contexto da pandemia, as farmácias de menor porte ampliaram o olhar sobre a profissionalização. A Unifabra, que agrega 16 redes, renovou a gestão e incorporou profissionais com bagagem no setor para viabilizar a meta de R$ 2 bilhões de receita.
“A larga experiência em análise de dados e o conhecimento da nossa equipe na geração de informações relevantes nos ajudarão a diversificar o mix de produtos e aperfeiçoar o monitoramento dos indicadores nas lojas”, acredita o presidente Juarez Borges.
Fonte: https://panoramafarmaceutico.com.br/varejo-farmaceutico-com-crescimento-14/
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