As vendas dos laboratórios farmacêuticos para farmácias privadas somaram no ano passado R$ 88,3 bilhões – um crescimento de 14,7% em relação a 2021, segundo dados da consultoria IQVIA, divulgados pelo Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma). Em relação ao volume de unidades produzidas, o aumento ficou em cerca de 6%, conforme estimativas do presidente da entidade, Nelson Mussolini.

Ele também calcula que o faturamento total do setor no Brasil girou em torno de R$ 118 bilhões em 2021, 37,6% acima dos R$ 85,7 bilhões de 2019. Conforme os números do sindicato, no primeiro bimestre deste ano, as vendas para as farmácias somaram R$ 15,1 bilhões – alta de 18% em relação ao ano passado, tanto no faturamento como nas unidades vendidas. Em 2021, o aumento foi geral, com poucas exceções – entre elas, os medicamentos oncológicos. Neste ano, até agora, vitaminas e medicamentos para gripes e resfriados são os maiores responsáveis pelo crescimento da receita, revela Mussolini.

Segundo ele, os custos também aumentaram. Cerca de 95% da matéria-prima do setor é importada e ficou mais cara com a alta do dólar. Com a balança comercial tradicionalmente deficitária, as importações de produtos farmacêuticos atingiram US$ 11,01 bilhões em 2021 – crescimento de 55,91% na comparação com o ano anterior, motivado sobretudo pela compra de vacinas contra a covid-19. Já as exportações somaram US$ 1,10 bilhão, com alta de 2,33% em relação a 2020.

Na avaliação de Mussolini, contribui para o déficit a carga tributária, em média de 32%, em comparação com 6% na média mundial, excluindo o Brasil, diz. Para ele, outro entrave é a lentidão na aprovação de estudos clínicos para desenvolvimento de novos medicamentos, que dependem do sinal verde da Anvisa e Comissão Nacional de Ética e Pesquisa do Conselho Nacional de Saúde. “Enquanto na Argentina a aprovação sai em média em 45 dias, aqui o prazo fica em 180”, diz ele.

Como resultado, grandes multinacionais farmacêuticas tendem a realizar pesquisas clínicas em outros países. Em seus cálculos, se a aprovação dos testes fosse mais rápida, a indústria farmacêutica e o sistema público e privado de saúde no Brasil poderiam ter receita adicional anual de R$ 2 bilhões, referente aos pagamentos pela realização dos estudo.

Déficits na balança comercial também são rotineiros na indústria de equipamentos médicos, sobretudo nos segmentos que exigem maior tecnologia. Segundo estudo da Associação Brasileira da Indústria de Tecnologia para a Saúde (Abimed), aparelhos e componentes para diagnósticos por imagem, ortopedia, área cardiovascular e cirurgia lideraram as importações entre 2018 e 2021, com 93% do volume e valor.

No ano passado, as importações do setor somaram US$ 31,2 bilhões e as exportações, US$ 4,9 bilhões. O consumo aparente é estimado pela associação em R$ 150,3 bilhões – alta de 31% em relação a 2020. “Foi um ano de recomposição, após a parada, causada pela pandemia, nas cirurgias e exames eletivos”, diz o presidente da entidade Fernando Silveira Filho.

Para este ano, ele também prevê crescimento do consumo aparente, mas em ritmo menor que o do ano passado. Também segundo ele, a guerra na Ucrânia, com a consequente alta no preço dos combustíveis, deve pressionar os custos logísticos das importações.

Não é de hoje que conflitos bélicos atrapalham a chegada de insumos. Há 30 anos, na guerra das Malvinas, o Laboratório Cristália padeceu do problema. “Com o bloqueio do Atlântico Sul ficou difícil receber a matéria prima”, conta o fundador da empresa, Ogari Pacheco. “Foi o alerta de que era preciso investir na fabricação própria.”  Segundo ele, desde então a parcela dos IFAs (ingredientes farmacêuticos ativos) produzidos internamente passou de “quase nada” para 60%. Agora, neste ano, a empresa aposta na expansão na América Latina, com investimento previsto em R$ 1,1 bilhão.

A quantia prevê a instalação ou aquisição de fábricas neste ano no México, Peru, Colômbia e Chile e a ampliação de planta já existente na Argentina. Também inclui a nova planta de R$ 350 milhões, adquirida no ano passado em Montes Claros, MG.

O laboratório fechou 2021 com faturamento de R$ 4 bilhões, 33% acima dos R$ 3 bilhões de 2020 – crescimento impulsionado sobretudo pelos kits intubação, cujas vendas, no decorrer da pandemia de covid-19 passaram de 4 milhões para, em seu auge, 19 milhões de unidades mensais. Para dar conta da demanda, a empresa investiu outros R$ 100 milhões na expansão de três plantas, compras de equipamentos, contratação de pessoal e logística.

Fonte: https://valor.globo.com/publicacoes/suplementos/noticia/2022/04/07/venda-de-medicamento-para-gripe-impulsiona-resultados.ghtml

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